Partidos aliados ao governo da presidenta Dilma Rousseff caminham
para vencer as eleições municipais deste ano em cerca de dois terços das
cidades com mais de 150 mil eleitores, segundo levantamento feito pelo
PT e obtido pela
Rede Brasil Atual. Os números têm por base balanços atualizados de pesquisas públicas e internas.
Ao todo, há 119 municípios nessa faixa, mas em 21 deles não havia
pesquisas recentes até o fechamento do relatório. Os candidatos de
legendas aliadas ao Planalto despontam em primeiro lugar em 65% das
demais 98 cidades – sendo 20 do PT, 15 do PMDB, 13 do PSB, 7 do PDT e 3
do PP, entre outros.
O PT também aparece bem posicionado em 15 das 83 cidades em que pode
haver segundo turno (mais de 200 mil eleitores), incluindo oito
capitais: Salvador, Fortaleza, João Pessoa, Porto Velho, Cuiabá, Rio
Branco, São Paulo e Goiânia.
Nesse recorte, a disputa mais embolada ocorre em Porto Velho (RO).
Pesquisa Ibope divulgada na quarta-feira (26) mostra Lindomar Garçon
(PV) liderando com 29% das intenções de voto. Como a margem de erro é de
4 pontos percentuais, quatro candidatos aparecem tecnicamente empatados
em segundo lugar: Mário Português (PPS) com 17%, Mauro Nazif (PSB) com
16%, Mariana Carvalho (PSDB) com 15% e Fatima Cleide (PT) com 12%.
Em Salvador (BA), segundo Ibope de ontem (27), a situação está mais
bem definida: o petista Nelson Pelegrino tem 34%, seguido por ACM Neto
(DEM), com 31%.
Na capital da Paraíba, João Pessoa, Luciano Cartaxo (PT) aparece em
primeiro lugar com 29%, de acordo com Ibope do dia 21. Lutam pelo
segundo posto Cícero Lucena (PSDB), com 20%; José Maranhão (PMDB), com
18%; e Estela Bezerra (PSB) com 14%.
Em Fortaleza (CE), há equilíbrio entre três candidatos, mas Elmano
Freitas (PT) sobe nas intenções de voto e, segundo o Datafolha divulgado
ontem (27), já está com 24%, ultrapassando Moroni Torgan (DEM), que tem
18% ficou atrás também de Roberto Claudio (PSB), com 19%.
Em Cuiabá (MT), as pesquisas mostram Mauro Mendes (PSB) liderando com
38%, tecnicamente empatado com Lúdio Cabral (PT) com 36%. Em Goiânia
(GO), o candidato do PT, Paulo Garcia, tem 38% e é seguido de muito
longe por Jovair Arantes (PTB), com 11,5%. Na soma de votos válidos,
Garcia pode vencer no primeiro turno.
Na capital do Acre, Rio Branco, Marcos Alexandre (PT) lidera com 43%,
à frente de Tião Bocalom (PSDB), que está com 39%. O movimento é de
queda do tucano e de ascensão do petista.
Na capital de São Paulo, as pesquisas mostram Fernando Haddad (PT)
brigando pelo segundo lugar com José Serra (PSDB), na casa dos 18%,
enquanto Celso Russomano (PRB) lidera com índices que vão de 34% a 30%.
Além dessas oito capitais, os petistas também acreditam que podem
virar o jogo em Belo Horizonte. O quadro atual, porém, mostra Márcio
Lacerda (PSB) à frente de Patrus Ananias (PT) e em condições de vencer
no primeiro turno, já que lá a disputa ficou polarizada entre os dois
candidatos.
Disputas locais
Embora as pesquisas apontem o fortalecimento dos partidos que dão
sustentação parlamentar ao governo Dilma, criando condições favoráveis
para o projeto de reeleição em 2014, no plano local essas legendas
muitas vezes atuam em campos opostos e travam disputas encarniçadas,
tanto na política como nas concepções ideológicas e programáticas. É o
que acontece hoje em municípios como Londrina (PR), Caxias do Sul (RS),
São José do Rio Preto (SP), Belo Horizonte (MG), Santo André (SP),
Cuiabá (MT), Recife (PE) e Fortaleza (CE), entre muitos outros.
O cenário embaralha a lógica tradicional da política e confunde a
cabeça do eleitor. Em São Paulo, por exemplo, a campanha petista
detectou que muitos eleitores potenciais do PT teriam migrado para Celso
Russomanno, cujo partido, o PRB, está na base de apoio do governo
federal.
Para a cientista política Maria Victoria Benevides, sem uma reforma
política essas situações muitas vezes desconfortantes vão continuar.
“Alianças muitas vezes espúrias, que não se dão em torno de propostas
comuns ou ideologias, mas que são meras alianças eleitorais, muitas
vezes exigem um preço elevado, exigem concessões”, diz. “Precisamos de
uma reforma que exigisse mais autenticidade nas alianças, em torno de
propostas políticas, ideológicas e programáticas”, acredita a
professora, que acrescenta: “Não sou contra alianças, mas contra a
confusão que o atual sistema gera na cabeça do eleitor, e que faz ele
acreditar que só existe política para politicagem, e não como um meio de
organizar a sociedade”.
Maria Victoria Benevides defende uma reforma que faça valer de fato a
fidelidade partidária, financiamento público de campanha, que mexa na
questão do tempo de TV da propaganda eleitoral. “Grandes acordos são
feitos para maximizar o tempo na TV”, constata.
Embora afirme que todo o nosso sistema político “deva passar por uma
revisão séria”, ela não crê que tal reforma passe no Congresso Nacional.
Teria de ser feita com “amplo apoio popular e mobilização da sociedade
civil”, diz. “Se depender só do Congresso, não acredito que saia. Já
ouvi de políticos que aprovar uma reforma poderia ser um ‘suicídio
político.’”
Rede Brasil Atual)