Enquanto há vinte dias o Brasil vê morrer mais de mil filhos e filhas seus vitimados pela pandemia do coronavírus, discretamente parte de nossa mídia bandalha festeja a vacinação de 4 milhões de pessoas, até ontem, fazendo que ignora que essa quantidade representa menos de 2% do total da população.
Mais estranho, ainda, é ver a Anvisa agir irresponsavelmente, pra dizer o mínimo, isentar vacinas adquiridas por meio do consórcio Covax Facility de registro ou autorização emergencial; enquanto segue impondo barreiras burocráticas à Sputnik V, sabidamente eficaz aonde foi aplicada, inclusive no país que a produz.
Não se está pedindo que a vigilância sanitária negligencie do seu papel sanitário, muito menos crie obstáculos burocráticos contra o uso da única arma científica que dispomos para enfrentar essa terrível pandemia, mas, apenas que se dispense tratamento igualitário aos dois remédios, dadas suas respectivas eficácias comprovadas.
Não se quer, também, insinuar que a Anvisa adotou uma postura subalterna aos desvarios ideológicos do governo federal, ao agir com dois pesos e duas medidas, sendo compreensiva diante do governo indiano de direita; e extremamente rígida com o governo russo, por sinal, que nem de esquerda é, sendo isso facilmente perceptível por quem não padece de atavismo de caserna.
A compra imediata, e sem burocracia, de menos de dois milhões de doses da vacina indiana é pouco diante de nossas necessidades, assim como pouca é diante da quantidade disponibilizada pelo governo Putin ao consórcio de governadores do Nordeste, 50 milhões de doses; e mais 10 milhões de doses disponibilizadas ao governo do Distrito Federal.
E aqui nem se está falando de recursos financeiros gastos, já que esses estão protegidos pelo segredo das operações de compra feitas em regime emergencial e sem as lupas impostas pela Lei de responsabilidade Fiscal a esse tipo de transação.
No entanto, esse sigilo necessariamente ficará oculto per omnia secula seculorum, sendo possível que em um futuro não muito distante descubra-se eventuais macabras transações, que resultaram em mais algumas dezenas de possíveis óbitos, fruto de uma visão mais mercantilista que sanitária. Tomara que não.
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