A hora de chiar e a hora de calar

Quando os deputados federais se autoconcederam um aumento de mais 60% dos vencimentos, a mídia brasileira fez um escarcéu e eriçou a opinião pública, como se naquele momento os parlamentares tivessem inaugurado um gasto a mais para o bolso do cidadão.
Nada mais falso por ter sido a chiadeira fora do momento oportuno. O cidadão, a cidadã, que não acompanha o rito do funcionamento do Poder legislativo, não é obrigado a saber, embora devesse por ser o "ordenador da despesa", como funciona a programação desses gastos, mas a imprensa sabe e faz questão de optar pelo sensacionalismo em vez de prestar a informação correta que permita à sociedade protestar no momento adequado.
A hora da mobilização é a quando da votação do Orçamento Geral da União, cercada de alguma repercussão, mas totalmente ignorada quando desce a detalhes, tipo a votação dos orçamentos legislativos e judiciários. Por exemplo, hoje o jornal faz referência ao fato de o Orçamento da Assembléia Legislativa ser de R$256 milhões, fora SEDUC e SESPA, não há orçamento de outra secretaria que chegue perto dessa dinheirama.
A pergunta que se está por fazer é: será que tudo isso é o que aquele poder precisa? Ou não há folga excessiva nesses recursos, folga essa capaz até de permitir que o quase ex-presidente Juvenil se desse ao luxo de fazer voltar a remuneração das convocações extraordinárias, em atitude de retrocesso aviltante?
O mesmo vale para Senado e Câmara, que tem orçamentos que em muito extrapolam o necessário para o seu funcionamento desejável, daí viverem legislando em causa própria. Já é hora, com efeito, da sociedade cobrar da nossa mídia, para que esta cobre dos parlamentares maior transparência na hora de expor suas necessidades. Informação não é concessão, mas direito fundamental da cidadania na medida em que uma sociedade alienada é uma sociedade facilmente manipulada.