Jorge Paz Amorim

Minha foto
Belém, Pará, Brazil
Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

20 de novembro é reparação, memória e futuro


Às vésperas da realização da 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras — um ato político que deve se reunir na próxima semana, em Brasília, cerca de um milhão de mulheres,  com delegações da América Latina, África e Caribe — o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra ganha ainda mais força.

Instituído como feriado pela Lei 14.759/23 , o 20 de novembro marca a memória da morte de Zumbi dos Palmares, último líder do maior quilombo da história do Brasil, e simboliza a resistência de um povo contra a escravidão e todas as formas de dominação.

Ao longo dos séculos, inúmeras mulheres negras foram protagonistas na luta pela liberdade, cidadania, cultura e direitos. Apesar de superarem várias barreiras e de serem sistematicamente apagadas dos livros, das escolas, dos espaços de poder e dos monumentos oficiais, elas ergueram — e seguem erguendo — como bases de um país diverso, forte e único como o Brasil.

Foram as mãos, as vozes, os corpos e os saberes de mulheres negras — guerreiras, intelectuais, lideranças, artistas, trabalhadoras — que sustentaram a luta por dignidade e por políticas públicas que salvam vidas. 

No contexto da Marcha das Mulheres Negras, torna-se, portanto, urgente recuperar a memória daquelas mulheres que transformaram o Brasil, seja na política, no pensamento, na cultura ou nos quilombos.

Para a Secretaria Nacional de Mulheres do PT, comemorar o 20 de novembro é assumir um compromisso permanente: escrever e reivindicar a história do Brasil com as mulheres negras que a construíram, e a constroem diariamente.  E que apesar dos desafios impostos, continuam contribuindo para o fortalecimento da identidade e da cultura negra no país. 

Parlamentares destacam importância dos dados e das ações do governo Lula 

Em entrevista à Rádio PT , a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) afirmou que a luta antirracista continua necessariamente no Brasil. “Porque o racismo ainda estrutura as nossas desigualdades mais profundas em nosso país. A cor da pele segue determinando quem tem acesso às oportunidades, quem escuta, quem trabalha e muitas vezes quem vive ou morre. Pessoas negras são maioria entre os pobres, entre as vítimas da violência e minoria nos espaços de poder.”

Também à Rádio PT, a primeira deputada federal negra eleita no Espírito Santo, relatora da lei da igualdade racial e coautora do projeto que se tornou dia 20 de novembro o feriado nacional, Jack Rocha classifica o 20 de novembro como um dia de afirmação, de memória e de luta. Para ela, com o presidente Lula e o PT, o Brasil voltou a ter olhar, investimento e compromisso real com a vida do povo negro. 

“Reconstruímos o Ministério da Igualdade Racial, ampliamos as cotas, garantimos o maior orçamento da história para as comunidades e territórios quilombolas, mas ainda não é suficiente. A gente luta pelas titulações, porque não podemos deixar ninguém para trás. Fortalecemos a cultura negra e retomamos políticas que mudam a vida concreta das famílias. E quando a gente fala dos avanços da política de cuidado, nós estamos falando que salário mínimo é cuidado. Falamos também que, quando reduzimos o preço da cesta básica, nós estamos garantindo comida na mesa. Quando a gente isenta o imposto de renda para quem ganha menos, é uma política de reposição”, pontuou Jack.

Ela complementou observando que essas têm medidas cor, têm gênero e têm impacto direto no cotidiano das mulheres negras que sustentam as famílias, o trabalho e a comunidade. “Avançamos também na saúde da população negra, na visão de que o racismo é um determinante social de adoecimento. Ou seja, precisamos enfrentar a mortalidade materna, o racismo institucional e garantir que cada mulher, cada criança, cada jovem negro tenha a cesta básica. Acesso digno à saúde, à prevenção e ao cuidado integral”, concluiu a capixaba.

A força das mulheres negras moldou a nossa história

Abaixo, algumas mulheres que fizeram e fazem história e que reforçam o papel fundamental da mulher negra na formação do país.

Dandara dos Palmares

Guerreira, estrategista e liderança central no Quilombo dos Palmares, Dandara comandou batalhas, especificações de defesa e articulou a participação das mulheres na vida política do quilombo. Recusou qualquer forma de submissão ao sistema escravizado e, capturado na queda de Palmares, escolheu a morte para não ser reescravizada.

Tereza de Benguela

Rainha e líder do Quilombo do Quariterê, no Mato Grosso, governou um território livre por décadas, estruturando um sistema político próprio, com parlamento, produção coletiva e defesa organizada. Morta por tropas coloniais em 1770, tornou-se símbolo nacional — o dia 25 de julho é dedicado a ela.

Benedita da Silva

Parlamentar Constituinte e referência histórica da política nacional, Benedita foi a primeira senadora negra do Brasil e, em 2002, tornou-se governadora do Rio de Janeiro. Sua trajetória rompeu barreiras de raça, gênero e classe, consolidando um marco no acesso das mulheres negras aos espaços de poder. Defensora incansável da população periférica e das trabalhadoras, que atacou o racismo institucional em todas as frentes. Foi relatora da PEC das Domésticas e coordenadora da Bancada Feminina na Câmara dos Deputados (2023–2025).

Aqualtune

Princesa e comandante militar do Reino do Congo, foi capturada após vencer batalhas contra o avanço colonial português. Enviada ao Brasil como escravizada, fugiu e chegou a Palmares, onde se tornou uma das principais articuladoras políticas e militares do quilombo. Sua liderança influenciou diretamente a estratégia de defesa e a organização interna da comunidade.

Antonieta de Barros

Filha de uma mulher negra ex-escravizada, Antonieta rompeu o elitismo da política brasileira. Em 1934, tornou-se a primeira deputada negra do Brasil e a primeira mulher eleita em Santa Catarina. Jornalista, educadora e defensora da alfabetização de mulheres, foi pioneira no combate ao racismo e na defesa dos direitos civis.

Carolina Maria de Jesus

Nascida em 1914, em Sacramento (MG), Carolina estudou apenas dois anos, mudou-se para São Paulo em 1937 e sustentou a família como catadora de papel. Moradora da favela do Canindé, registrada em diários da vida cotidiana das periferias. Esses escritos deram origem a Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada , publicado em 1960 e traduzido em mais de 40 países. Tornou-se uma das maiores vozes da literatura brasileira.

(Elas Por Elas)

Nenhum comentário: