A política econômica de Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes fracassou, e no último ano de mandato bolsonarista o Brasil deverá registrar o pior Produto Interno Bruto (PIB) entre as principais economias do planeta. A previsão é do Fundo Monetário Internacional (FMI), que baixou de 1,5% (em outubro passado) para 0,3% a estimativa de crescimento brasileiro em 2022.
O relatório Perspectiva Econômica Mundial (World Economic Outlook, em inglês) foi divulgado nesta terça-feira (25) em Washington. Com os dados revisados, este é o terceiro corte seguido feito pelo fundo nas estimativas para o desempenho do PIB brasileiro este ano. No início de 2021, a expectativa era de alta de 2,6%.
Entre 15 grandes economias que tiveram as métricas revistas, o Brasil de Bolsonaro e Guedes sofreu proporcionalmente o pior tombo, sendo o único a ficar abaixo da taxa de 1% de crescimento em 2022. Para 2023, as estimativas foram revisadas para cima para a maioria dos países – menos o Brasil. A expectativa para o país caiu de 2% para 1,6%.
“A expectativa (de crescimento) se enfraqueceu no Brasil, onde a luta contra a inflação levou a uma resposta forte de política monetária, que pesará na demanda do mercado interno. Dinâmica semelhante ocorre no México, embora em menor escala”, constatou o FMI em seu relatório.
A inflação medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fechou 2021 em 10,06%, maior taxa acumulada desde 2015. Em resposta à disparada de preços, o Banco Central (BC) “independente” também acelerou os reajustes da taxa básica de juros (Selic), que chegou a 9,25% em dezembro, com viés de alta para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na próxima semana.
A alta contínua da Selic ocorreu concomitantemente ao desaquecimento da atividade econômica brasileira, que se aprofundou no último trimestre de 2021, abaixo inclusive dos outros países da América Latina.
Se a expectativa de crescimento para o continente também recuou (menos 0,6 ponto percentual), a região deve crescer 2,4% em 2022, índice oito vezes maior do que o do Brasil. Na projeção para os mercados emergentes, a desvantagem é ainda maior: países em desenvolvimento devem crescer 4,8%, contra 0,3% do Brasil.
Em termos globais, o novo relatório do FMI prevê que a economia mundial crescerá 4,4%, ou -0,5 ponto percentual a menos do que a previsão de outubro. A redução foi puxada por quedas na expectativa de crescimento dos Estados Unidos e China.
“O crescimento está desacelerando à medida que as economias enfrentam restrições de oferta, inflação alta, dívida recorde e incerteza persistente”, afirma o relatório. Mesmo com os cortes nas estimativas, EUA e México devem crescer 4% e 2,8%, China deve crescer 4,8% e a Índia, 9%. Na zona do euro, o crescimento esperado é de 3,9%.
Ameaça de estagflação e desemprego alto
Em outubro de 2021, a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, disse que já vislumbrava a desaceleração da atividade econômica no Brasil devido aos “efeitos esperados com o aumento dos juros na política monetária, diante da inflação alta no Brasil”. Guedes subiu nas tamancas.
“Eles vão errar de novo. Vamos crescer o dobro do que eles estão dizendo”, afirmou o posto Ipiranga em visita a Washington, declarando guerra ao FMI. Em dezembro ele assinou a dispensa da missão do órgão do Brasil, dizendo que os técnicos “não precisavam estar aqui”. Mas a previsão de derrocada brasileira não é exclusiva do FMI.
Nesta terça, o Citi Bank foi além do FMI na revisão de sua expectativa para o PIB do Brasil em 2022. De alta de 0,3%, a projeção agora é de queda de 0,3%. As causas, dizem os economistas do banco, são as condições monetárias mais apertadas, tanto global quanto internamente, além da propagação da variante ômicron.
O relatório do banco estima que a economia brasileira deve continuar em recessão na primeira metade deste ano. Com a perspectiva de queda de 0,2% no PIB do quarto trimestre de 2021, a “herança estatística” para 2022 deve ser negativa, com cinco trimestres consecutivos de contração do PIB brasileiro (do segundo trimestre de 2021 ao segundo trimestre de 2022).
“Esses cinco trimestres de declínio configurariam uma das recessões mais longas de todos os tempos, embora ainda pouco profunda (0,8 ponto percentual)”, escrevem Leonardo Porto, Paulo Lopes e Thais Ortega. O recuo esperado de 2,8% nos investimentos deve ser o principal fator para a contração do PIB em 2022, observam.
Na melhor das hipóteses, o Brasil deve enfrentar uma estagflação em 2022, afirmam os economistas. “Sob essa perspectiva de atividade desanimadora, a taxa de desemprego deve permanecer em níveis de dois dígitos ao longo deste horizonte de dois anos”, concluem.
(Agência PT)
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