Na derrocada “conduzida” pelo ministro-banqueiro da Economia, Paulo Guedes, os microempreendedores individuais (MEI) são a categoria de empreendedores mais prejudicada. A 10ª edição da pesquisa ‘O Impacto da Pandemia do Coronavírus nos Pequenos Negócios’ demonstra que 82 em cada 100 MEIs no Brasil tiveram perda de faturamento desde o início da pandemia.
O levantamento foi produzido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele também revela que, entre as empresas de micro e pequeno porte, 74% afirmaram queda de faturamento.
No momento, há mais de 11 milhões de microempreendedores individuais em atividade no país. Em 2020, diante do desemprego crescente agravado pela política de Guedes, foram criados 2,6 milhões de registros, maior número dos últimos cinco anos.
“Muitas pessoas desempregadas viram no MEI uma oportunidade para obter renda. Por isso, é tão importante que o Sebrae ajude na capacitação desse público e trabalhe também na elaboração de políticas públicas que facilitem o crédito e amparem esse público”, afirma o presidente do Sebrae, Carlos Melles.
O dirigente diz ainda que 60% dos microempreendedores individuais procuraram as instituições bancárias para pedir empréstimos, mas apenas 28% obtiveram êxito. “A dificuldade dos pequenos empreendedores em conseguir crédito é histórica. E quanto menor o porte da empresa, mais difícil a resposta positiva dos bancos”, ressalta.
A queda de rendimentos extrapola os limites dos pequenos negócios e atinge o universo do trabalho como um todo. Consulta do Banco Central (BC) junto a economistas projeta uma queda de 1,3% na renda proveniente do trabalho dos brasileiros até o fim de 2021.
O mercado estimou que os ganhos efetivos, quando são incluídas outras fontes além do emprego, devem subir apenas 0,6% no ano. Já a renda média mensal dos brasileiros ficou em R$ 2.520 no trimestre terminado em fevereiro. Queda de R$ 65 em relação aos três meses anteriores, e alta de R$ 32 na comparação com o mesmo período de 2020.
Em relação ao mercado de trabalho, a expectativa é de que a taxa de desemprego encerre o ano em 13,8%. Mesmo patamar dos 13,9% medidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no quarto trimestre de 2020.
“Temos hoje dois dados muito distintos, a Pnad (do IBGE) e o Caged (do Ministério da Economia). Ambos passaram por mudanças em decorrência da pandemia e os dois apresentam problemas” explica Marcelo Neri, diretor do FGV Social.
Neri diz que, no quarto trimestre 2020, a perda de renda dos brasileiros chegou a 11%. “O mercado de trabalho é parte fundamental do processo de recuperação da renda. A renda efetiva foi bastante inflada com o auxílio emergencial no ano passado, por exemplo. Vamos ter problemas com essa base de comparação também.”
Inflação de itens essenciais ficou 30% acima do IPCA em 2020
O economista-chefe da consultoria Análise Econômica, André Galhardo, prevê estagnação no mercado de trabalho. “O desemprego deve ficar em níveis elevados, na melhor das hipóteses, por cinco anos”, pondera o analista. Ele afirma que, além da queda da renda em termos reais, o poder de compra será corroído pela inflação.
“A alta dos preços deve continuar em aceleração até junho, quando chegará próximo de 8%, para depois arrefecer. Então, a renda será penalizada”, prevê o economista, lembrando que a inflação dos mais pobres é ainda mais elevada. “O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) já mostrou essa disparidade.”
O INPC mede a variação do custo de vida médio de famílias com renda mensal de 1 a 5 salários mínimos. Considerado a inflação oficial do país, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) leva em conta a cesta de quem ganha de 1 a 40 salários. Em abril, o IBGE mediu um IPCA de 6,76% e um INPC de 7,59% acumulados em 12 meses.
E uma pesquisa da Tendências Consultoria Integrada para o jornal ‘O Estado de S. Paulo’ mostra que, em 2020, a inflação média de itens essenciais (como alimentação, energia elétrica e combustível) ficou 30% acima do IPCA. A inflação das despesas essenciais já estava 22% acima do IPCA antes de abril deste ano.
A inflação oficial em março foi de 0,93%, a taxa mais alta para o mês desde 2015, quando atingiu 1,32%. O índice acumula variação de 2,05% no ano e de 6,10% nos últimos 12 meses. Os principais impactos vêm dos aumentos nos preços de combustíveis (11,23%) e do gás de cozinha (4,98%).
“A pressão inflacionária aliada à deterioração do mercado de trabalho tem restringido cada vez mais o consumo de outros bens e serviços”, disse a economista da Tendências Consultoria Integrada Isabela Tavares, responsável pelo levantamento.
(Agência PT de Notícias)
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