Jorge Paz Amorim

Minha foto
Belém, Pará, Brazil
Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

As cervejas artesanais tomam seu lugar à mesa


A cerveja artesanal vem conquistando cada vez mais o paladar dos brasileiros. Se há alguns anos seu consumo era restrito a estabelecimentos que importavam cervejas do exterior, hoje, muitos bares simples, de cidades e bairros mais distantes, possuem pelo menos uma marca de cerveja artesanal, ou ainda outras que usufruem deste status. Inúmeras microcervejarias brasileiras surgiram nos últimos dez anos e oferecem cervejas de alta qualidade, premiadas em concursos internacionais dos mais conceituados.

Uma pincelada de história. A cerveja provavelmente foi inventada há mais de sete mil anos, na Suméria, e seguiu sendo produzida pelos babilônios, egípcios, mesopotâmios e gregos. Posteriormente pelos vikings, germânicos e em mosteiros religiosos na Idade Média. Estima-se que neste período, o ‘pão líquido’ possuía menor teor alcoólico e um sabor mais acidificado, por conta do método de produção e armazenagem. Nos séculos seguintes sua produção expandiu-se em terras germânicas, inglesas e nos países baixos.

Embora haja um ritmo frenético de crescimento deste mercado, o movimento recente de cerveja artesanal brasileiro possui afinidade com movimentos como o slow life, que busca valorizar os momentos da vida, e o slow food, que celebra o alimento de qualidade e o prazer da alimentação. Em consequência, surgiu o ideário slow brew, que valoriza o ato de fazer cerveja e respeita seu tempo de produção natural, com produtos de qualidade, priorizando a qualidade do consumo em detrimento da quantidade.

Apesar do crescimento de cervejeiros caseiros Brasil afora e de associações como as Acervas (Associação dos Cervejeiros Artesanais) que os apoia, as microcervejarias brasileiras enfrentam diversos desafios, como impostos proporcionalmente maiores do que as grandes cervejarias, imensa burocracia, exigências que classificam seus impactos ambientais equivalentes ao de grandes indústrias, alto custo das matérias primas de qualidade e a disputa desleal do mercado com as grandes cervejarias .

Gigantes como a belgo-brasileira Ambev, dona de marcas como Brahma, Skol, Antarctica, Budweiser e dezenas de outras doBrasil e mundo afora, atuam de todas as formas para não perder mercado, seja fechando contrato de exclusividade com os pontos de venda, bem como com os fornecedores de matéria-prima, seja adquirindo também microcervejarias proeminentes. Desta forma, além de colarem em sua imagem cervejas de maior qualidade, tenta controlar este novo mercado.

Há também estratégias mais sutis. Para exemplificar, logo após a Ambev adquirir a microcervejaria mineira Wäls, uma das nacionais mais premiadas, esta cervejaria lançou e divulgou amplamente uma modalidade feita com milho, que é um dos ingredientes do imaginário popular responsável pela baixa qualidade da cerveja, amplamente utilizado, sob forma de extrato, nas cervejas mais comerciais do país. O milho não é necessariamente um vilão, pois existem inúmeras cervejas de qualidade mundo afora que o utilizam, mas assume este papel quando possui baixa qualidade, quando é geneticamente modificado ou ainda utilizado especificamente para baratear a produção, aumentando assim o lucro por litro do ‘líquido sagrado’.

Na realidade, a forma de produção mainstream praticada por esta e outras grandes indústrias cervejeiras é um dos principais fatores para a baixa qualidade nutricional e de sabor das cervejas american light lagers brasileiras. Apressa-se o tempo de produção e faz-se uso de conservantes e estabilizantes para suprimir os off-flavors (aromas e sabores desagradáveis) e demais defeitos na cerveja final gerados por esse processo normalmente.

Independentemente da forma de produção, a cerveja artesanal está à mesa e possibilita uma imersão em sabores e sensações até então pouco experimentados pelos bebedores brasileiros, sejam elas uma IPA de perfil norte-americano ou uma Bitter inglesa, mais amargas; as mais alcoólicas, doces ou azedas, amadeiradas ou com frutas, como as belgas; ou ainda as pilsners refrescantes da escola alemã, sem esquecer as tradicionais de trigo. Apesar de infelizmente não serem para todos os bolsos, há cerveja boa feita no Brasil para todos os gostos e pessoas. As que não gostam é porque não encontraram a cerveja certa. Saúde!
(Fundação Perseu Abramo)

Nenhum comentário: