Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Mães de Maio lançam livro e reagem à violência da PM paulista

A Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, emSão Paulo (SP), recebeu, na noite desta quinta-feira (17), o lançamento do livro “Mães em Luta – Dez anos dos crimes de maio de 2006”. O auditório foi tomado por dezenas de personalidades de movimentos sociais e centenas de apoiadores das Mães de Maio, que há 10 anos lutam contra a violência da Polícia Militar, em especial a paulista.

A publicação, feita em parceria do grupo Mães de Maio com a Ponte Jornalismo, apresenta 15 perfis de mães, irmãs e tias de jovens assassinados pela Polícia Militar-SP. A maioria dos casos relatados ocorreu em maio de 2006.

Naquele mês, ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) resultaram na morte de 59 agentes públicos em diversas cidades do estado. Como retaliação, a polícia assassinou, em quatro dias, 505 civis, quase todos negros e pardos de bairros periféricos. A maioria das vítimas não tinha ligação alguma com os ataques do PCC. Morreram, em última análise, por serem pretos, jovens e de periferia.

A dor pelo assassinato do filho, que havia saído de casa para comprar remédio, fez Débora Maria da Silva criar o Mães de Maio. “A morte do meu filho me enlouqueceu, no primeiro momento”, relembra Débora. Desde então, ela assumiu a causa de lutar por um país em que a brutalidade policial não fosse cotidiana nas cidades brasileiras.

“Nós, sozinhas, não conseguiríamos aguentar essa dor. Por isso nos unimos. Mãe não põe um filho no mundo para o estado matar, torturar, desaparecer com ele. As Mães de Maio têm uma ferida aberta. Que sangra. A ditadura militar continua bem forte dentro de nossas favelas”.

Dor semelhante sofreu Vera Lúcia dos Santos, que teve a filha, grávida de 9 meses, morta pela polícia em 15 de maio de 2006, com um tiro na cabeça e outro na barriga, que também matou Bianca, como a neta seria batizada.
Vera Lúcia, à direita (foto: Kamilla Ferreira)

“Naquele dia fomos ao hospital e pegamos o encaminhamento, o último ultrassom. Ela era cardiopata congênita, então tinha um acompanhamento especial. Quando foi seis da tarde, ela teve vontade de tomar uma vitamina de frutas e tinha uma panificadora perto de casa. Ela, o marido e mais três pessoas foram até lá”, conta.

“No caminho, foram abordados pelos policiais do bairro. Dois correram. Ela não correu porque estava com a barriga enorme. E ele não correu para ficar com a esposa. Morreram os três: pai, mãe e a filha na barriga”.

Ao ser perguntada sobre o culpado pelo alto número de mortes nas periferias causadas pela PM, Vera responde, de pronto: “Alckmin. Do governo Alckmin”.
PM paulista mata 47 por mês

Além das mães de jovens assassinados, o lançamento do livro também contou a presença do secretário de Direitos Humanos da cidade de São Paulo, Felipe de Paula; a secretária de Cultura da cidade de São Paulo, Maria do RosárioRamalho; o criador da Cooperifa, Sérgio Vaz; o coordenador do Uneafro, Douglas Belchior; a advogada e coordenadora da S.O.S. Racismo, Eliane Dias; o escritor Alípio Freire; o educador e coordenador do Movimento Negro Unificado (MNU) Milton Barbosa; entre outros.
(foto: Kamilla Ferreira)


De acordo com Fausto Salvadori Filho, jornalista da Ponte e um dos autores do livro, a ideia inicial era fazer um perfil somente com os casos ocorridos em 2006. “Mas tinha muitas outras histórias para contar. Então ampliamos para casos que – infelizmente – ocorrem até os dias de hoje”.

Levantamento da Ponte revela que, em média, 47,5 pessoas foram mortas por PMs a cada mês no estado nos últimos 21 anos. Neste cenário, os policiais também são vítimas – cinco foram assassinados por mês no período.

A advogada Eliane Dias, que há tempos deixou de ser conhecida apenas como mulher do músico Mano Brown para protagonizar ações em prol da juventude da periferia paulistana, diz que a luta das Mães de Maio é a luta de todas as mães de jovens negros e pardos no Brasil.

“Hoje, é extremamente perigoso um jovem negro andar sozinho, andar de carro, andar acompanhado. É muito difícil fazer tudo certo e, mesmo assim, ser suspeito até que prove o contrário – e muitas vezes nem dá tempo de provar. É muito importante lembrar que, ainda hoje, o negro é tratado como em 1888: um marginal que merece ser morto ou punido de alguma forma”.
(foto: Kamilla Ferreira)


Para o secretário de Direitos Humanos da prefeitura de Fernando Haddad (PT), Felipe de Paula, o livro – que tem o co-patrocínio da secretaria de Direitos Humanos e da secretaria de Cultura – é muito importante para dar luz ao debate sobre racismo e violência policial.

“O País precisa conhecer sua história, em especial sobre violações estatais de direitos, para que isso não mais se repita. Todos temos que trabalhar muito para que as violações cessem. A gente tem muita clareza sobre quem morre no País: o negro, jovem e periférico. É fundamental trazer esse recorte para fazer um debate sério”.

A noite terminou com uma vigília em frente à faculdade, com o acendimento de vela em memória a tantos mortos dos últimos 10 anos.
(Agência PT de Notícias)

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