Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

The Independent: Temer não consegue emplacar nem na base do “rouba, mas faz”


Em uma medida incomum, o novo presidente do Brasil Michel Temer decidiu não participar encerramento dos Jogos Paraolímpicos depois que manifestantes o vaiaram tanto no desfile do Dia da Independência, em Brasília, no dia 7 de setembro, quanto na cerimônia de abertura naquele mesmo dia.

Embora sua ausência tenha minimizado as chances de outro protesto vocal com os olhos do mundo sobre o Brasil, Lúcio Maia, guitarrista da Nação Zumbi, uma das bandas que tocaram na cerimônia, virou sua guitarra para mostrar um cartaz dizendo “Fora Temer”, o que acabou sendo transmitido nas telas de TV de todo o mundo.

Esses episódios mostram que Temer não teve um período de lua de mel depois de tomar posse, quando sua antecessora Dilma Rousseff foi cassada em 31 de agosto. Se tantos brasileiros apoiaram o impeachment de Dilma e foram para as ruas para se manifestarem contra o seu governo, então por que Temer é tão impopular?

Para muitos brasileiros, a corrupção é o problema mais importante do país e é uma ironia que Rousseff não tenha sido pessoalmente condenada por fraude, mas Temer não escapou. Em junho deste ano, um tribunal eleitoral condenou Temer por doar mais do que o limite legal nas campanhas eleitorais presidenciais de 2014. Ele agora está proibido de concorrer a um cargo público por oito anos – a condenação que Rousseff conseguiu evitar no julgamento de impeachment -, enquanto enfrenta novas acusações de que estava implicado em escândalos de propina.

Uma frase brasileira comum referindo-se à prevalência da corrupção entre os políticos do país é “rouba mas faz”, que no caso de Temer reflete a esperança de que, se o seu governo oferece um caminho para sair da crise económica, isso pode superar os escândalos de corrupção. Depois de cinco meses no poder, no entanto, Temer enfrenta uma recessão econômica profunda, que segundo as previsões do Banco Mundial deve durar os próximos dois anos.

Embora a crise tenha a ver tanto com a crise econômica global afetando as receitas de exportação do Brasil quanto com as políticas governamentais, a equipe de Temer deve introduzir cortes orçamentais dolorosos ao tornar os direitos trabalhistas cada vez mais flexíveis e cortar gastos com programas sociais populares do governo anterior.

Voltando ao slogan de Temer, seus adversários o acusam de “roubar” seus direitos, o que se refere não só aos cortes de gastos, mas também a questões fundamentais sobre a legitimidade do novo governo.

Esses dilemas se refletem no índice de aprovação de 14 por cento de Temer nas últimas sondagens de opinião realizadas em julho, enquanto apenas 5 por cento dos brasileiros votariam nele nas eleições presidenciais, atrás de Lula e Marina Silva. Mesmo que ele pudesse concorrer, seria improvável que ganhasse as eleições presidenciais.

A maioria dos brasileiros agora apoiam eleições antecipadas, o que reflete uma mudança na motivação dos manifestantes. Desde o impeachment de Rousseff, protestos diários pedem novas eleições, unindo aqueles que estão protestando em favor de Dilma e aqueles que permanecem céticos sobre os governos anteriores, mas preferem uma ruptura com a política do passado.

Devido à falta de popularidade de Temer, convocar eleições antecipadas significaria quase certamente que seu partido perderia o poder, mas a espera por eleições em 2018 também deve polarizar ainda mais a sociedade brasileira.
(MARIEKE RIETHOF- The Independent/ via DCM) 

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