Entre as bravatas proferidas pelo farsante, porém, uma passou quase despercebida. O procurador afirmou que o Brasil é o paraíso da corrupção no mundo. Ele até cunhou um termo midiático: “propinocracia”. Em seu arroubo retórico, ele disse que o ex-presidente Lula teria transformado o país no reino da propina. É como se a corrupção só existisse no Brasil e tivesse sido inventada pelo ex-presidente petista. Deltan Dallagnol é um “menino que adora surfe” – como ele costuma se jactar –, mas aparentemente não é imbecil. Ele sabe muito bem que o desvio de recursos públicos não é algo novo no país e que este crime vitima várias nações do planeta.
Em meados de maio deste ano, o insuspeito Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou um estudo que mostra que a corrupção abocanha R$ 7 trilhões por ano em todos os países do mundo. O relatório, por motivos óbvios, não teve maior repercussão na mídia falsamente moralista do Brasil. Segundo o estudo, a corrupção é crescente no planeta e tem a participação direta de poderosas empresas e de agentes públicos. O FMI destaca a necessidade de se aprimorar os mecanismos de controle e transparência. “A urgência é global em sua natureza, porque a corrupção é um problema que afeta tanto países desenvolvidos como em desenvolvimento”, afirma o relatório.
O custo anual da corrupção é estimado em até US$ 2 trilhões (R$ 6,9 trilhões) com base em cálculos atualizados em 2015, o equivalente a 2% do PIB mundial. Mas o FMI afirma que o custo econômico e social é bem maior, já que “propinas são apenas um aspecto das possíveis formas de corrupção”. Entre outros mecanismos de subtração de recursos públicos poderiam ser citados a sonegação de impostos e a remessa ilegal de dinheiro para os paraísos fiscais. Estas outras duas formas de roubo, porém, não são destaques no relatório do FMI, nem tema de investigação da mídia chapa-branca (que sonega e evade divisas) e nem motivo de arroubos retóricos do imberbe procurador da Lava-Jato.
(Altamiro Borges)
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