Tentando parecer altivo, como se isto fosse crível, Eduardo Cunha declarou que sua renúncia à presidência visava resolver o problema da acefalia da Câmara Federal. Mas nada disse a respeito da breve e fogosa era bucéfala, em que o país presenciou pela tevê um dos mais degradantes espetáculos de cinismo e violência contra a democracia no Brasil e retrato fiel da degradação parlamentar.
Costurada a eleição de um fâmulo que sirva com a mesma presteza e desonestidade ao consulado golpista, certamente que ao deputado Cunha sobrará o papel de chefão do baixo clero, que volta ao seu habitat parlamentar ainda empoderado por tudo que amealhou em sua inigualável trajetória de assaltante, com a incumbência de manter intacta essa ofensiva reacionária contra direitos sociais.
Além disso, nas negociatas de esgoto que garantem a impunidade desse celerado, deve ficar claro o après il, le delouge, de que depende a conspiração golpista pra obter êxito na votação do afastamento definitivo de Dilma da presidência da República.
Resta o cenário de esgoto,em que Cunha, Jucá, Machado, Aécio e outros artífices do assalto ao poder passaram a agir a fim de burlar a opinião pública fazendo crer que as coisas acontecem por geração espontânea. Assim, vai se aclarando o quadro político pós golpe, tanto em relação à necessidade de manter-se impune uma quadrilha que estava com um pé na cadeia e, de quebra, a restauração da hegemonia do fisiologismo que consolidou-se sob Sarney e atravessou os tempos até começar a perder espaço a partir de 2003, daí também a necessidade de golpear a democracia.
Enquanto isso, o Poder Judiciário assiste inerte, quedo e mudo a operação bandalha que tende a salvar Cunha, temer, e demais quadrilheiros, ainda que esteja nas mãos dos ministros de nossa Suprema Corte os destinos desses assaltantes, não faltando subsídios para mandar a polícia cercar o prédio fazendo com que todos saiam em fila indiana e com as mãos para cima. Simples assim.
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