Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Ao mudar ordem de votação, Cunha admite não ter votos para impeachment


Medida imposta pelo presidente da Câmara, em parceria com Temer, é simbólica: antes mesmo de consolidar o golpe já mostram que, se chegarem ao poder, Nordeste vai voltar ao "fim da fila"

O presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já começa a discriminar o Nordeste quando joga os parlamentares da região para o fim da fila na votação pela autorização do impeachment.

Em vez de colocar a votação em ordem nominal, critério que respeita o princípio da impessoalidade, Cunha definiu arbitrariamente que iniciará a votação do impeachment contra o mandato de Dilma Rousseff pelos deputados das regiões Sul e Sudeste. O motivo é claro: nessas regiões ele controla mais votos golpistas. Espera com isso pressionar os deputados do Nordeste a também votar contra a legalidade democrática representada por um processo sem base jurídica, como já foi amplamente mostrado por vários juristas.

Mas a manobra de Cunha e Temer só reforça as expectativas negativas do povo nordestino e de seus representantes políticos que têm compromissos com sua população. Afinal, se o golpe passar, o Nordeste voltará à sua histórica discriminação por um governo federal controlado por paulistas, como Michel Temer (PDMB), e tendo como homem-forte de fato o carioca Eduardo Cunha (PMDB) – este será quem efetivamente terá controle sobre ministérios, estatais e o orçamento da União.

O Nordeste que é jogado para o fim da fila na votação, uma clara manobra para seu enfraquecimento político, irá também para o fim da fila na hora de dividir o bolo do Orçamento, nas obras, nos programas que gerem empregos e desenvolvam a região. Os primeiros da fila voltarão a ser São Paulo, Rio e os estados do sul, com Minas a reboque.

Políticas de correção das desigualdades regionais históricas voltarão a ficar no papel e irão para o limbo. Voltará a era em que só os coronéis políticos da região – agora aliados de Cunha e Temer – enriquecerão, enquanto ao povo sobrará o sofrimento com a seca, o subdesenvolvimento, a pobreza, a falta de médicos e professores, o desemprego, a falta de oportunidades.

Junte-se a isso o apoio ao golpe, – com dinheiro, propaganda, patos infláveis, outdoors etc. – pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que volta a patrocinar um golpe contra a democracia, como fez em 1964 e do mercado financeiro, ambos simbolicamente concentrados na Avenida Paulista. Se o impeachment passar, são esses golpistas que darão as cartas em um eventual governo ilegítimo de Temer.

Mas isso só acontece se o golpe passar. E essa própria manobra de Cunha de discriminar o Nordeste indica que ele não tem os votos necessários para o golpe, tendo de recorrer a este tipo de pressão psicológica nefasta. Porém pode virar um tiro no pé. Está dando até motivo para deputados do Nordeste votarem em peso contra oimpeachment, ou até mesmo se ausentar da votação.

Afinal quem vai querer enfrentar as urnas tendo de explicar a seu eleitorado que deram um golpe para dar tudo a São Paulo e ao Sul, tirando do Nordeste e detonando o desenvolvimento da região conquistado nos últimos anos.

Outro indicador claro de que Cunha não tem votos suficientes para o golpe, é marcar a votação para a tarde do domingo, para a TV Globo transmitir ao vivo. Acreditam que com isso, haverá maior pressão popular sobre indecisos. Mas colocar a cara de Eduardo Cunha em rede nacional presidindo a sessão que vai decidir a permanência de uma presidenta sobre a qual não pesa uma única acusação pode ser outro tiro no pé. A ficha de muita gente desavisada vai cair. "Trocar Dilma pelo Cunha-Temer? É nisso que esses políticos estão votando?", poderá perguntar quem ainda não percebeu.

Vai render protestos memoráveis nas ruas e nas redes. E cada deputado golpista enrolado com corrupção que der as caras para votar, vai ser intensamente lembrado nas redes sociais de seus "podres" do passado e do presente. Será o maior marketing político negativo espontâneo da história da Câmara.

Se Cunha, em parceria com Temer, fizerem passar o golpe, será o Nordeste que vai pagar o pato da Fiesp. É por isso que, apesar dos esforços da mídia tradicional em dizer o contrário, está difícil para a oposição conseguir votos suficientes para o golpe.

A disputa será duríssima.
(Blog da Helena)

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