Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Editora argentina lança livros infantis com histórias de “antiprincesas” da América Latina

Elas não viveram em castelos, não se destacaram por sua dedicação aos afazeres domésticos, não sonharam com bailes em palácios e príncipes encantados. As personagens dos livros infantis recém-lançados pela editora argentina Chirimbote são mulheres reais e fantásticas, que marcaram as artes e a história da América Latina – como a pintora mexicana Frida Kahlo e Violeta Parra, ícone da música popular chilena
Elas não viveram em castelos, não se destacaram por sua dedicação aos afazeres domésticos, não sonharam com bailes em palácios e príncipes encantados. As personagens dos livros infantis recém-lançados pela editora Chirimbote, da Argentina, são mulheres reais e fantásticas, que marcaram as artes e a história da América Latina.
A pintora mexicana Frida Kahlo e a multitalentosa Violeta Parra, ícone da música popular chilena, são as protagonistas dos primeiros livros da coleção “Antiprincesas”, que em breve ganhará mais um número, dedicado à vida de Juana Azurduy, heroína das lutas pela independência da Argentina e da Bolívia.
“Escolhemos mulheres que transcenderam sua época, que romperam com o que se esperava delas, mas que também tenham trabalhado com outras pessoas e se dedicado a construir de forma coletiva. Essa é uma condição para ser antiprincesa”, explica Nadia Fink, autora dos livros em parceria com o ilustrador Pitu, em entrevista a Opera Mundi. “As princesas esperam sozinhas, buscam a felicidade individual e um final feliz em que necessariamente aparece um príncipe ou, no máximo, uma família. Nós valorizamos outras formas de viver”.
(Divulgação)
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Revolução e amor livre
E é por isso que entre fotos de Frida quando criança e ilustrações que recriam seus quadros e seu inconfundível buço, salta do texto um pequeno box com a definição de revolução – “quando se modifica o que está mal (entre muitas pessoas)”. A explicação aparece na parte da história em que se conta que, apesar de casados, o muralista Diego Rivera e Frida “tiveram outros amores, mesmo estando juntos” e que “para Frida, o amor acontecia com homens e com mulheres.”
“Como explicar essa tentativa [de Diego e Frida] de viver um amor livre, de não se relacionar de maneira estereotipada, de considerar a possibilidade de estar com outras pessoas, sem explicar que isso aconteceu em um contexto revolucionário?”, indaga Fink.
Já a antiprincesa Violeta Parra, nascida em uma família de trabalhadores pobres, é autodidata, multitalentosa e viaja por seu país, Chile, compilando canções populares que comoveram o mundo em sua voz poderosa.
“Graças ao violão, deixei de descascar batatas.”
Quando Violeta se separa de seu primeiro marido, Luis Cereceda, um pequeno quadro com um bigode abre aspas: “Pode ficar com a sua arte, eu vou embora para sempre”. E na página seguinte, uma ilustração de um homem partindo, enquanto uma mulher sorri e abraça seus filhos enquanto diz que sua única vantagem em relação a outras mulheres do Chile “é que, graças ao violão, deixei de descascar batatas.”
“Não queríamos maquiar essas mulheres ou retratá-las de forma leviana, porque foram mulheres que trabalharam com profundidade tudo que fizeram”, frisa Fink.
(Divulgação)
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A autora explica que os livros retratam o caminho político de suas protagonistas, independente de suas posições partidárias ou ideológicas, com o cuidado de não transformar os contos em panfletos. “A intenção é disparar ideias nas crianças, não apresentar pensamentos fechados. Não queremos diminuir cabeças, queremos ampliá-las”, avisa a escritora. “Também não queremos matar as princesas, queremos mostrar outras realidades com as quais as crianças possam se identificar.”
Frida e Violeta não viveram felizes para sempre. A pintora mexicana morreu jovem depois de uma longa agonia e de uma vida marcada pelas doloridas sequelas de um acidente na adolescência. A cantora chilena se suicidou pouco antes de chegar aos 50 anos. Para falar desses desfechos que não se parecem a contos de fadas, Fink optou pelo realismo mágico, no caso de Frida, e por deixar em aberto, no caso de Violeta. “Decidimos falar da morte de Frida a partir das lendas mexicanas. No caso de Violeta, preferimos deixar que cada adulto que esteja acompanhando a criança que lê o livro decida como abordar o assunto”, explica.
Depois das histórias, os livros convidam os pequenos leitores a fazer autorretratos em frente ao espelho, como fazia Frida, e a pesquisar canções antigas em conversas com pessoas mais velhas, como fazia Violeta. Convidam crianças a brincar de ser antiprincesas.
(Aline Gatto Boueri, do Opera Mundi/ via Portal Forum)

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