Jorge Paz Amorim

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Belém, Pará, Brazil
Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

domingo, 3 de maio de 2015

A dura realidade da educação pública no Pará


Recebi cópia de uma carta(anônima, talvez por cautela), endereçada por uma professora do projeto Mundiar ao titular da SEDUC em que são relatadas as diversas agruras porque passa a educação em nosso estado e que a altamente custosa propaganda oficial tentar 'dourar'. Ressalto que os documentos citados, e não exibidos por economia de espaço, encontram-se â disposição pra quem quiser vê-los, todavia, a simples leitura da carta é fato ilustrativo da distante entre a propaganda e a realidade.


Belém, 07 de abril de 2015.Exmo,

Senhor Secretário de Educação Helenilson Pontes.

Prezado Secretário,

Venho por meio desta carta, manifestar meu repúdio, pela forma como vem sendo tratada a educação neste estado, como mero joguete partidário e sem nenhuma preocupação verdadeiramente com a educação.

Conheço pouco do seu trabalho, é verdade, mas sei por meio de alguns dos seus ex-alunos de faculdade do tamanho de seu potencial e conhecimento. E eles acreditam piamente nas suas palavras e postura em sala de aula, e afirmam que o Senhor é capaz de transformar a educação neste estado, para melhor e não o contrário. Sei ainda a importância do exemplo de um professor para seus alunos, são marcas indeléveis que permanecem na memória afetiva dos mesmos, para com o nosso trabalho. É por meio dos meus alunos e dos pais e/ou responsáveis, que venho solicitar ao Senhor Secretário, que ouça a nossa categoria pela base. Essa greve não é do Sindicato, e sim dos trabalhadores da educação, e queremos sim sentar à mesa, para avaliarmos o que o governo quer fazer com nossas carreiras e vidas. E Senhor Secretário são muitas vidas que estão em jogo. É necessário ter delicadeza e sensibilidade para tratar de vidas humanas e principalmente de uma categoria tão maltratada ao longo dos anos por gestores que não apresentam tato e nem cuidado com a vida pública.

Atualmente sou professora mediadora do Projeto Mundiar. Como a maioria que segue na linha de frente do projeto, estamos firmes e fortes, por conta do compromisso que pactuamos com os nossos alunos. Assim como meus colegas mediadores espalhados por este estado, estamos pagando dos nossos próprios bolsos a execução do Projeto Mundiar (encaminho um anexo, para confirmar). A princípio escolhemos participar do edital de seleção para professores que queriam atuar no Projeto, mesmo sem ter maiores detalhes do mesmo. Escolhi, porque gosto de aprender metodologias novas, para adaptá-las nas nossas aulas. Participei do edital e fui selecionada. Participamos da primeira formação, e na ocasião nos prometeram mundos e fundos. Disseram em nome da Seduc, que chegaria o material para dar suporte ao andamento do Projeto nas escolas.

Senhor Secretário, até hoje aguardamos a chegada dos mesmos, e simplesmente nada e nenhuma resposta nos foi endereçada. Segue em anexo, o material de expediente e de sala de aula prometido. Nenhum material chegou em nossas salas. Tivemos problemas também com os livros didáticos da Fundação Roberto Marinho, responsável pela formação e pela metodologia telesala. Mas estes mesmo com muito atraso chegaram um problema a menos. Enfrentamos o desconhecido para que as gestoras e direções das escolas aceitassem o Projeto nas escolas. Em uníssono, ouvimos a negativa de todos os lados. E por acreditar no Projeto seguimos a vanguarda do processo de implantação nas poucas escolas que funciona o Mundiar.

Neste exato momento, enfrentamos também um dos maiores desafios, porque a nossa categoria e o sindicato se posicionaram contra o Projeto sem antes de conhecer efetivamente e sem procurar os professores que atuam no Projeto. E agora estamos sendo alvos de assédio moral e desacato da honra e da ética profissional. Somos chamados de professores do Projeto “Vadiar”, e somos adjetivados com palavras de baixo calão, por supostamente está “roubando” carga horária de outros profissionais licenciados.

Aproveito esta carta também para esclarecer a comunidade escolar e a sociedade paraense, que o Projeto Mundiar é uma tentativa de ajuste no número da defasagem série-idade, que é muito grande na Região Norte. É uma medida curativa e que provavelmente não irá resolver esses dados dissonantes, se não resolvermos o problema na educação do ensino regular. A medida não é cuidar do doente, a saída seria prevenir com um ensino fundamental e médio de qualidade. Assim sendo, o Projeto Mundiar não permanecerá ad infinitum, e em nenhum momento substituirá a presença de cada professor licenciado nas suas disciplinas. Mas sinto-me na obrigação de dizer que a metodologia é super atraente, diferente, aguça o interesse do aluno e a sua efetiva participação no processo. Temos aula todos os dias e de formas diferentes. Os alunos envolvidos no Projeto dizem claramente, se não fosse essa oportunidade, já teriam evadido novamente, pela terceira ou quarta vez. O que me deixa frustrada nesse processo de denuncias e queixas proferidas pelo sindicato e por colegas da categoria é que, até então, ninguém se preocupou com vida desses milhares de jovens, que se agarraram a primeira oportunidade, porque acreditaram na proposta e no envolvimento dos professores que estão à frente do Projeto

Falo de minha experiência com estes jovens, todos muito sofridos, sem estrutura familiar, sem renda até para chegar à escola, oriundos e/ou sobreviventes de um cenário de violência, desestimulados pelos fracassos anteriores, por julgamentos e avaliações aplicadas sem medir com realidade o nível de aprendizado dos mesmos. Violentados pelo estado e por ausência de políticas públicas efetivas que atuem na vida dessa juventude. Recuso-me a ser mais um agente da violência de todo esse sistema educacional precário e ineficiente. Faço um convite aos Senhores chefes de estado, responsáveis pela educação no Pará, venham nos ver atuar nas salas de aulas precárias, sem iluminação, ventilação e acústica correta. Venha conhecer nossas escolas que apresentam ausência de água filtrada descente; a merenda escolar que adoece nossos alunos; os banheiros com forte odor, pela falta de material de limpeza das empresas terceirizadas contratadas pelo governo; as nossas bibliotecas e salas de informáticas funcionando precariamente. Venha ver como os “mafiosos de carga horária” conseguem trabalhar nessas condições ofertadas por este estado.

Por isso, toda a nossa “trapaça” de lutar por dias melhores na educação, e por priorizarmos a vida de nossos alunos e por gastarmos de nossa própria verba, para financiar a efetiva implantação de um projeto que desde o início se apresentou frágil pelo não gerenciamento adequado, por trabalhar no plano das possíveis resoluções, por deixar nas mãos e no corpo inteiro dos professores mediadores o andamento do Projeto.

Sim, Senhores, o resultado do sucesso e do êxito na vida desses jovens são méritos exclusivos dos “mafiosos” e “trapaceiros” que atuam, muitas vezes, em regime de extrapolação (acima da carga horária), não é por mera fanfarrice ou diversão. Não grevamos porque somos irresponsáveis. Lutamos porque é um direito a greve, assim como os alunos e pais, que pagam altos impostos sobre os produtos tem o direito de ter uma escola pública de qualidade.

Respeito é bom e todo mundo tem esse direito!

Valorização profissional já!

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