Os jornais não disfarçam seu espanto com as doações públicas para que
José Genoíno, primeiro, e agora Delúbio Soares paguem as multas que
receberam do Supremo Tribunal Federal.
Claro que pode até haver alguma mutreta de algum depósito feito por
gente “muy amiga” para desmoralizar a arrecadação de fundos, e é bom que
se verifique isso.
Mas nenhuma eventual “armadilha” nesta “vaquinha” esconde o seu principal ensinamento.
Se o protagonismo de José Genoíno nas lutas contra a ditadura, seu drama
pessoal de saúde e a comovente solidariedade de sua família – sua filha
Miruna tornou-se um símbolo de integridade e amor filial – o que
poderia explicar o apoio público de Delúbio Soares, um colaborador de
segundo escalão do PT e o que mais foi vilanizado em toda essa história
do chamado “mensalão”.
A lição preciosa deste episódio é algo que, ao longo do tempo, boa parte da direção do PT parece ter se esquecido.
A de que existe uma militância política que não precisa ser paga – e que
até paga, ela própria, do jeito que pode – para apoiar um partido,
porque apóia as ideias e o significado destas ideias sobre a vida dos
brasileiros.
A de que existe, fora da mídia e do mercado, gente que tem opinião e
valores, que entende que existe uma luta de afirmação deste país e que
está aí, pronta e ansiosa por quem a mobilize por uma causa, mesmo que a
espinhosa causa de apoiar quem foi condenado num processo que, embora
político até a medula, foi sentenciado num tribunal.
A “vaquinha” não foi contra a justiça nem por piedade humana.
Foi um gesto político, mostrando que há milhares de pessoas prontas a
deixar seu conforto, seus interesses pessoais e a se expor,
corajosamente, por uma causa que não é a figura de Delúbio ou mesmo a de
José Genoíno, com todo o brilho e respeito que ela merece.
A causa é o processo de transformação do Brasil.
Pela qual, meu deus, parece que muitos dirigentes políticos, acham inútil levantar orgulhosamente a bandeira.
Reduzem a política a acordos, posições, verbas, favores, influência e – sejamos sinceros – recursos para candidaturas.
É claro que na prevalência dantesca que o dinheiro assumiu na vida
política brasileira, só um tolo teria a ilusão de que uma campanha –
sobretudo as majoritárias – pudesse funcionar apenas com “vaquinhas”.
Os grandes doadores, com a impureza de intenções com que doam,
continuarão a ser fonte essencial de financiamento de campanhas,
enquanto não se adotar o financiamento público que a direita tanto
combate.
As pequenas doações desta “vaquinha”, porém, revelam algo além de seu
valor monetário e que não deve ser comemorado, mas ser, sim, objeto de
reflexão.
Há quanto tempo o PT e o governo que, sob sua legenda, o povo brasileiro
elegeu e reelegeu, não faz uma “vaquinha cívica” pelas causas que o
levaram até lá?
Há quanto tempo não se dirigem à opinião pública para dizer que precisam
da pequena mobilização que cada um pode dar para criar um caudal de
vontade que sustente as mudanças?
Onde está a polêmica, a contestação ao que o coro da mídia diz – como
disse dos acusados no “mensalão” – de que tudo está errado e o status
quo é perverso, mau e contrário aos direitos do povo brasileiro?
Não é preciso ser radical ou furioso, mas é preciso ser firme e claro.
Os líderes políticos – e os governos que sob sua liderança se erigem –
têm um papel didático e mobilizador a desempenhar para com o povo
brasileiro.
Sem bandeiras, ele não se une, mas está pronto a unir-se quando estas se
levantam, mesmo que absolutamente “contra a maré”, como ocorreu nestes
casos.
Precisamos, urgentemente, de uma “vaquinha cívica” pelo Brasil.
Pelo projeto de afirmação que se expressa no desenvolvimento, onde o
Estado – e apenas ele – é o fio condutor de políticas eficazes e justas,
porque o “santo mercado” é, historicamente, incapaz e mesquinho para
tudo o que não seja dinheiro rápido e cego para qualquer visão
estratégica de Nação.
Assistimos o Estado brasileiro e suas ferramentas de progresso econômico
– a Petrobras, o BNDES, a Caixa, a Eletrobras, o Banco Central – serem
diariamente massacradas nos jornais e nas tevês e não vemos, quase nunca
fora das campanhas eleitorais, buscar-se a solidariedade da população.
Uma solidariedade que existe e que vive adormecida pela incapacidade –
ou opção errônea – de não ser anunciada aos quatro ventos, em lugar de
serem gaguejadas explicações e “desculpas” aos senhores do poder real: o
poder econômico.
Uma solidariedade que precisa ser despertada, sob pena de que também os nossos sonhos venham a ser condenados.
(Tijolaço/A Justiceira de Esquerda)
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