Armínio
Fraga e Pedro Malan
Leio no blog do Kennedy
Alencar, que
Arminio Fraga é o ministro da Fazenda dos sonhos de Aécio Neves. Eles já
conversaram a respeito e acertaram tudo. Segundo Aécio, “uma indicação
antecipada de um ministro da Fazenda com esse perfil ajudaria a campanha tucana
a atrair simpatia de investidores internacionais e de boa parte do empresariado
brasileiro, sobretudo do grande capital financeiro.”
Pois bem,
então eu lembrei dos “bons tempos” e fui pesquisar os jornais de 1999, mais
especificamente, de março daquele ano, quando Fraga assumiu a presidência do
Banco Central.
Sua
primeira medida foi aumentar os juros de 25% para 45%. Foi talvez a maior
paulada nos juros que já se deu, em qualquer civilização, nos últimos cinco mil
anos.
A grande
imprensa comemorou. Em editorial, o Globo afirmou que “as medidas anunciadas
pelo novo presidente do Banco Central, Arminio Fraga, vão na direção certa”.
Fraga
falou à imprensa que, para o futuro, a tendência dos juros era cair. Ah, bom.
O que
ninguém falou é que a medida de Fraga significava dezenas, quiçá centenas de
bilhões de dólares, na conta dos grandes credores nacionais e internacionais,
ao longo dos meses seguintes. Dinheiro fácil, líquido e certo.
No mesmo
dia, o Globo anunciava que os combustíveis iriam subir e que uma comissão da
Câmara havia aprovado a nova CPMF (imposto criado para aplicação em saúde, mas
que no governo FHC era usado para superávit primário). O acordo político entre
governo e legislativo era quase cínico. O imposto não iria para a Saúde. Tanto
que os jornais afirmava, sem pejo, que o FMI aguardava, com ansiedade, a
aprovação do novo imposto. Ou seja, o FMI queria a CPMF, porque esse dinheiro
ia para os credores internacionais.
Não pára
por aí. Aquela sexta-feira, 5 de março de 1999, prometia muitas emoções. O
colunista político do Globo, Marcio Moreira Alves, um digno jornalista que
havia crescido dentro do Globo durante os esforços do jornal para se redimir
com a opinião pública no pós-ditadura, comentava sobre uma certa “indiscrição”
do ministro da fazenda, Pedro Malan. Malan havia encomendado estudos para a
venda do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, o que provocou fortes
contestações no Congresso. É aí que grande parte do PMDB, inclusive caciques
conservadores, como Sarney e seus companheiros, rompem com os tucanos.
A tentativa
de privatização da Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa produz a grande fenda na
elite política que iria sorver o PSDB e abrir espaço para uma nova coalização
governamental, uma aliança entre PT e a centro-direita, representada pelo PMDB,
cujo nacionalismo repetindo surpreendeu a mídia.
Mesmo com
inflação estourada, juros a 45%, governo articulando não apenas para prorrogar
a CPMF, mas para aumentar a alíquota, estudos para venda das últimas grandes
estatais brasileiras, ministérios anunciando grandes cortes de servidores,
nenhuma obra de infra-estrutura em curso, a grande mídia tentava afastar o
“baixo astral”.
Teresa
Cruvinel, outra colunista estrategicamente posicionada para amansar os ânimos
esquerdistas do pós-ditadura, abria sua coluna daquela fatídica sexta-feira com
um título solar e feliz: Apesar do baixo astral.
Em
resumo, o governo FHC aumentava pesadamente a carga tributária e criava novos
impostos, asfixiando a classe média, não para aprimorar os serviços públicos ou
fazer obras de infra-estrutura, mas para transferir mais dinheiro aos credores
internacionais. A grande imprensa, sócia nessa empreitada, tinha missão de
enganar a sociedade, afirmando que o remédio era necessário, e que tudo ia bem,
“apesar do baixo astral”.
Enquanto
isso, a Polícia Federal continuava sendo sucateada, e não havia nenhuma
investigação séria, por parte do governo, contra os grandes problemas de
corrupção no país. Nem na imprensa. O escândalo da compra de votos para a
reeleição já havia sido devidamente abafado, a mídia preparava o terreno para
as últimas grandes privatizações, entre elas a da Vale do Rio Doce.
Quem
falasse em “concessão”, à época, seria considerado socialista. O governo não
queria conceder nada. O objetivo era alientar completamente o patrimônio
público, o mais rápido possível, entregando-lhe nas mãos de empresários
politicamente afinados com o Planalto.
Bons
tempos! A Globo não era incomodada por nenhum blogueiro sujo e podia continuar
ganhando seu dinheiro, tranquilamente, no mercado financeiro, enganando os
trouxas da classe média a quem vendia o discurso do “Estado mínimo”. Ou seja, o
governo aumentava a transferência de recursos do indivíduo para as grandes
instituições controladoras do capital, Estado e bancos, através do aumento da
carga tributária e juros, com auxílio luxuoso de uma imprensa sócia no butim.
Não havia nenhum programas de “desoneração”, como faz Dilma.
Não havia
nenhuma obra de infra-estrutura. Era só pau, pau, pau. E, no entanto, a classe
média leitora do Globo, com ajuda de Marina Silva e Eduardo Campos, ainda
acredita no “tripé econômico” e na maravilhosa gestão de Fernando Henrique.
(O
Cafezinho/Contexto Livre)


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