Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

domingo, 26 de maio de 2013

Marcos Coimbra: “Eu sou o Zé que vai continuar a obra do Lula!” Alguém acredita?

O pensamento conservador brasileiro – na política, na mídia, no meio acadêmico, na sociedade – tem horror ao Bolsa Família. É só colocar dois conservadores para conversar que, mais cedo ou mais tarde, acabam falando mal do programa.
Não é apenas no Brasil que conservadores abominam iniciativas desse tipo. No mundo inteiro, a expansão da cidadania social e a consolidação do chamado “Estado do Bem-Estar” aconteceu, apesar de sua reação.
Costumamos nos esquecer dos “sólidos argumentos” que se opunham contra políticas que hoje em dia são vistas como naturais e se tornaram rotina. Quem discutiria, atualmente, a necessidade da Previdência Social, da ação do Estado na saúde pública, na assistência médica e na educação continuada?
Mas todas já foram consideradas áreas interditas ao Estado. Que melhor funcionariam se permanecessem regidas, exclusivamente, pela “dinâmica do mercado”.
Tem quem pode, paga quem consegue. Mesmo se bem-intencionado, o “estatismo” terminaria por desencorajar os esforço individual e provocar o agravamento – em vez da solução – do problema original.
O axioma do pensamento conservador é simples: a cada vez que se “ajuda” um pobre, fabricam-se mais pobres.
Passaram-se os tempos e ninguém mais diz essas barbaridades, ainda que muitos continuem a acreditar nelas.
Hoje, o alvo principal das críticas conservadoras são os programas de transferência direta de renda. Naturalmente, os que crescem e se consolidam. Se permanecerem pequenos, são vistos até com simpatia, uma espécie de aceno que sinaliza a “preocupação social” de seus formuladores. Mas é uma relação ambígua: ao mesmo tempo que criticam os programas de larga escala, dizem-se seus mentores. Da versão “correta”.
Veja-se a polêmica de quem inventou o Bolsa Família: irrelevante para a opinião pública, mas central para as oposições.
À medida que o programa avançou e se expandiu ao longo do primeiro governo Lula, tornando-se sua marca mais conhecida e aprovada, sua paternidade começou a ser reivindicada pelo PSDB. Argumentavam que sua origem era um programa instituído pelo prefeito tucano de Campinas, José Roberto Magalhães Teixeira, em 1994.
Ele criou de fato o Programa Renda Mínima, que complementava a receita de pessoas em situação de miséria. Por razões evidentes, limitava-se à cidade e beneficiava apenas 2,5 mil famílias, com uma administração tão complexa que era impossível expandi-lo com os recursos da prefeitura.
Tem sentido dizer que o Bolsa Família nasceu assim? Que esse pequeno experimento local é a matriz do que temos hoje? O maior e mais bem avaliado programa do gênero existente no mundo e que serve de modelo para países ricos e pobres?
O que a discussão sobre o Renda Mínima de Campinas levanta é uma pergunta: se o PSDB estava convencido da necessidade de elaborar um programa nacional baseado nele, por que não o fez?
Não foi Fernando Henrique Cardoso quem venceu a eleição de 1994? O novo presidente não era amigo e correligionário do prefeito? Ou será que FHC não levou o programa do companheiro para o nível federal por ignorá-lo?
Quem sabe conhecesse a iniciativa e até a aplaudisse, mas não fazia parte do arsenal de medidas que achava adequadas para enfrentar o problema da pobreza. Não eram “coisas desse tipo”que o Brasil precisava.
Goste-se ou não de Lula, o fato é que o Bolsa Família só nasceu quando ele chegou à Presidência. E é muito provável que não existisse se José Serra tivesse vencido aquela eleição.
Fazer a arqueologia do programa é bizantino. Para as pessoas comuns não quer dizer nada. Como se vê nas pesquisas, acham até engraçado sustentar que o Bolsa Família não tem a cara do Lula.
Não é isso, no entanto, o que pensam os conservadores. Para eles, continua a ser necessário evitar que essa bandeira permaneça nas mãos do ex-presidente.
O curioso é que não gostam do programa. E que, toda vez que o discutem, só conseguem pensar no que fazer para excluir beneficiários: são obcecados pela ideia de “porta de saída”.
Outro dia, tudo isso estava em um editorial de O Globo intitulado “efeitos colaterais do Bolsa Família”: a tese da ancestralidade tucana, a depreciação do programa – apresentado como reunião de “linhas de sustentação social (?) já existentes”- a opinião de que teria ficado “grande demais”, a crítica de que causaria escassez de mão de obra no Nordeste, e por aí vai (em momento revelador, escreveu “Era FHC” e “período Lula” – como se somente o primeiro merecesse a maiúscula).
Para a oposição – especialmente a menos informada -, o Bolsa Família é o grande culpado pela reeleição de Lula e a vitória de Dilma Rousseff. Não admira que o deteste.
Para os políticos, as coisas são, porém, mais complicadas. Como hostilizar um programa que a população apoia?
Por isso, quando vão à rua disputar eleições, se apresentam como seus defensores. Como na inesquecível campanha de Serra em 2010: “Eu sou o Zé que vai continuar a obra do Lula!”. Alguém acredita?
(Marcos Coimbra/Carta Capital)

4 comentários:

Henrique disse...

A cientista política Lúcia Avelar, da Universidade de Brasília, tem uma tese para a má vontade.

Em uma análise acadêmica das últimas eleições municipais, ela verificou o avanço dos partidos de esquerda a partir de 2000, e o recuo constante dos partidos de direita.

“A transferência de renda cria um vínculo do eleitor com o Estado, sem intermediários, e este é o primeiro passo para um sentimento de cidadania”, diz.

Entre os municípios com pior índice de desenvolvimento humano predominam o DEM e os partidos considerados de direita.

“São locais tradicionalmente controlados pela elite financeira local. Por isso há tanta chiadeira”, conclui.

Henrique disse...

A sociedade capitalista não é estática e não há comodismo porque há desenvolvimento! O bolsa-família é um programa bem feito, com metodologia e seriedade. Obviamente se não houver desenvolvimento, para gerar empregos, frustrará seus objetivos. Mas é um programa maiúsculo, porque há desenvolvimento.

Henrique disse...

O miserável recebe um mísero Bolsa-Família, uma média de R$70,00, que muda radicalmente sua vida e de sua família, que veste e dá comida prá quem não tem. Condená-lo é de um cinismo brutal de quem não conhece seu país, é desinformado ou nunca lhe faltou(graças a Deus) um prato de comida e um chinelo de dedo para calçar. ... Existe sim uma perspectiva para o pobre com o Bolsa-família. Pelo menos e no mínimo eles não vão morrer de fome. Ou será que é para deixar morrerem?? ... A melhor comprovação disso é conhecer as famílias que recebem e/ou visitar os locais indignos e sem nenhuma atuação social local para ver o que é uma pessoa pedir um prato de comida para seus filhos. ... Agora se o problema é a discussão eleitoreira, então deixe-os morrerem em seus lugares que não têm condições nenhuma de sobrevivência e a questão eleitoral fica resolvida. ... Sentado numa poltrona é uma realidade boa. 'In loco' , a realidade é cruel demais.

Henrique disse...

A desinformação é grande O Bolsa família que chamam de esmola, até Nova Yorque adotou o Bolsa Família que se chama "Opportunit NY", nos moldes mexicanos. Dizem que a indústria, comércio e agricultura estão indo para a falência. Mas nunca a indústria utilizou tanto a sua capacidade instalada, o comércio apresenta recordes de superavits e agricultura de produção. Será que é dificílimo para uma pessoa acrítica e apartidária ou a grande imprensa admitir que o governo do PT não está se saindo tão mal quanto todos eles esperavam??? O preconceito cega

Bolsa Família não é assistencialista. Para pesquisadora da London School of Economics, programa foi ‘desenhado’ de forma a permitir a emancipação dos beneficiados. O Bolsa Família, principal programa de transferência de renda do governo federal, tem uma estrutura que “vai em direção contrária” ao assistencialismo, avalia a pesquisadora italiana Francesca Bastagli, da London School of Economics, que estuda ações de diversos países direcionadas à transferência de renda para os pobres. Ao exigir dos beneficiários que os filhos freqüentem a escola e tenham a vacinação em dia, o programa “garante condições mínimas de saúde e educação e estimula a demanda por esses serviços, que deve ser atendida pelos municípios”.