Assumiram a liderança de uma nova agenda histórica.
Desse impulso divisor nasceria o PT, há 33 anos.
A série de 13 debates que o Partido inicia nesta 4ª feira, a partir de São Paulo, com a presença de Lula e Dilma, para em seguida inaugurar um circuito nacional, pretende consolidar o inventário desse período, 1/3 do qual no comando do país.
A rememoração é necessária.
Ela ocorrerá previsivelmente sob outros pontos de vista.
O colunismo bicudo, as manchetes especializadas nas adversativas, cuidarão de transformar o aniversário em necrológio.
O PT tem razões para acionar contrafogos. Mas seria crucial que não ficasse apenas nisso.
Seria precioso que surpreendesse indo além da reflexão de legítima defesa.
Os avanços em si são tão conhecidos quanto a contrapartida da desqualificação que os acompanha. À direita, disparada por um conservadorismo que os nega.
À esquerda , por visões --muitas delas legítimas-- determinadas a instigar o debate progressista, sublinhando a insuficiência do patamar atingido.
O conjunto mais reafirma do que dissipa o essencial.
Os deslocamentos sócio-econômicos e geopolíticos acumulados na década de governo do PT, assim como os erros e hesitações que possam ser computados ao partido, compõem um novo e largo mirante da história brasileira.
O futuro que hoje se coloca na mesa do presente carrega intrínsecas condicionalidades progressistas.
Elas não existiriam tivesse o Brasil dos últimos dez anos sido governado pela coagulação conservadora que agora tenta desqualificar Lula, Dilma e respectivos governos.
Um dado resume todos os demais: sendo ainda uma das sociedades mais iníquas do planeta (apenas sete nações ostentam pior distribuição de renda) o Brasil é hoje o país menos desigual de toda a sua história.
Não é necessário endossar o trajeto de um resgate social inconcluso para reconhecer o degrau alcançado.
O ressentimento conservador, em permanente flerte com a oportunidade de uma elipse institucional, confirma o adágio de Lênin: 'política é economia concentrada'.
A agenda política da direita regurgita diuturnamente a intolerância de classe a um governo que não pode ser chamado integralmente de seu.
Ainda que seu sejam muitos dos cargos, recursos, políticas e limites espetados na relação de forças que compõe o coração de qualquer governo de coalizão.
O conservadorismo local e forâneo quer Lula e o PT longe de Brasília.
Não apenas pela bagagem dos avanços sociais e econômicos que faíscam na festa de aniversário do partido.
Mas pelo risco de que o 'inconcluso e insuficiente' possa gerar massa crítica de um novo salto, de repercusão histórica semelhante ao original. Agora em escala ampliada.
O medo de classe ajuda a entender a permannte conspiração de uma plutocracia que se lambuzou em caldas doces no ciclo recente e até há pouco.
Banhou-se confortavelmente nos últimos anos no cofre forte rentista onde a sociedade depositou o equivalente a 5% do PIB ao ano, referente aos juros da dívida pública.
O dízimo da governabilidade, diziam os mais condescendentes com a sangria asfixiante, foi reduzido de forma substancial em 2012.
A perspectiva de injeções declinantes nesse tanque do Tio Patinhas, mesmo associada a opções de investimentos (em infraestrutura) até mais rentáveis que a taxa de juro real, inquieta os detentores do dinheiro grosso.
Da ganância rentista com seu imenso aparato vocalizador partem os principais disparos que ameaçam o passo seguinte do ciclo histórico que agora fecha um balanço de 33 anos, 1/3 deles no governo da nação.
Um número para resumir o calibre do impasse.
O Brasil precisa investir algo como R$ 130 bi por ano. É o requisito para continuar gerando emprego, renda e receita capaz de ampliar e qualificar a rede pública de educação, a de saúde, transportes, pesquisas etc
O dinheiro existe.
Até hoje engordou ocioso no pasto financeiro da dívida pública. Pronto para o abate líquido quando for esse o interesses de seus detentores. Sem ônus, nem risco.
O pasto raleou substancialmente com as podas feitas por Dilma na Selic, em 2012.
Mas a obsessão mórbida pela liquidez não serenou a qualidade e o tamanho de apetite.
Ao contrário.
O ventre gordo tem sido instigado a apostar no fracasso das restrições impostas ao capital a juros.
O tambor sombrio não cessa de emitir vaticínios e alertas.
Vai ter apagão; a inflação descambou; o PAC travou; a Petrobrás quebrou; Gurgel vai 'pegar' Lula; Eduardo e Aécio vem aí --e, claro, a Marina também.
Não importam os fatos.
A intenção é sinalizar a chance de uma volta redentora dos professores banqueiros ao poder, em 2014.
E estes não se fazem de rogados.
Diretamente, ou por intermédio de porta-vozes credenciados no jornalismo econômico, confirmam as intenções futuras, ao clamar pela alta dos juros já no presente.
Apascentam assim, as incertezas rentistas com o feno amargo das expectativas voláteis.
Quem toparia colocar capital em projetos de longa maturação com uma neblina dessa espessura?
Private banks, contas especiais que administram grandes fortunas no país, tem sob seu piquete uns R$ 500 bilhões.
Dinheiro coagulados pela guerra política que condiciona a engrenagem econômica.
Dinheiro ruminando indecisão.
Quase cinco anos do investimento pesado que o Brasil precisa fazer para avançar na caminhada da última década está aí.
A pergunta é: os 33 anos rememorados a partir desta 4ª feira guardam algo do impulso original capaz de romper o novo ardil conservador, menos ostensivo, porém, mais complexo que aquele dos anos 70/80?
A distintção se estende à relação de forças.
Hoje,em certa medida, até mais favoráveis que a dos anos 70/80.
A supremacia neoliberal esfarelou-se. A oposição está atada a ese colapso como carne e osso. Existe maior abrangência e capilaridade progressista; o Estado, bem ou mal, tem recorte democrático.
Acima de tudo: os ingredientes e a escala modificaram-se.
Para melhor.
Entraram no jogo 50 milhões de brasileiros que ascenderam socialmente através das políticas públicas implantadas desde 2003.
Exceto em breves intervalos de disputa eleitoral, essa paleta de forças e interesses quase nunca se mobilizou de forma coordenada e contundente.
Em certa medida, é como se o PT desconhecesse o real alcance do protagonista político mais importante que ajudou a revelar.
A omissão argui a responsabilidade histórica do partido que atinge a idade da razão.
É viável enfrentar as contradições e conflitos de um ciclo de desenvolvimento como o do Brasil atual, sem estreitar os canais de organização e comunicação com a principal força capaz de sustentar a continuidade e a coerência do processo?
A ver.
(Saul Leblon- Carta Maior)
3 comentários:
Os governos petistas asseguram uma profunda estabilidade à hegemonia burguesa. Por isso, todos os partidos conservadores, com exceção de três, apoiam o governo.
E há aqueles que se dizem de esquerda, mas na hora do aperreio batem fotos com Lula e Dilma que é uma beleza.
Esses são de "esquerda" tal qual Lula e Dilma!
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