Pelo que lembro, o Brasil sempre ganhou as copas em que a mídia sentenciava suas derrotas. Em 1958, quando Feola substituiu os preferidos da imprensa por Garrincha, Pelé, Gilmar muita gente torceu o nariz; em 1970, os sábios sentenciavam que Pelé e Tostão não podiam jogar juntos; em 1994, a arrogante Falha de São Paulo até adotou um calendário derrotista e todo dia dizia, faltam tantos dias pro Brasil perder a copa e em 2002, até que a Globo, por interesses comerciais, criasse a família Felipão, o clima era de pessimismo, agravado pelo trauma de 1998.
No caminho inverso, a mídia nativa até hoje trata a seleção de 1982 como campeã e uma das melhores já formadas na história do nosso futebol, ignorando que dela faziam parte Valdir Peres no gol, Luisinho na zaga e Serginho Chulapa no ataque, três dos piores jogadores que já vestiram a camisa da seleção. E silenciando que terminamos em oitavo lugar, mesma colocação conseguida por Sebastião Lazzaroni, sendo este esculhambado, enquanto Telê endeusado.
Digo isso porque sempre achei preocupante o papel que a mídia se auto concede no Brasil, quando o assunto é seleção brasileira: a de avalista dos times que vão nos representar. Abençoada ou excomungada de acordo com o que pensam nossos "deuses" da escrita e do microfone.
Ontem, durante a partida Flamengo e o modestíssimo Real Potosí da Bolívia, na luta por uma vaga na fase de grupos da Libertadores, foi patética a exaltação feita pelo comentarista Junior e locutor Luís Roberto, à atuação de Ronaldinho Gaúcho, de resto, pífia ao longo dos noventa minutos, mas encerrada com um gol de bela feitura, suficiente para que o empolgado locutor afirmasse que Ronaldinho ainda tem muito a contribuir com o futebol brasileiro.
Há controvérsias, a julgar não só pela péssima atuação de ontem, mas pelo conjunto da obra desde que retornou ao Brasil o ex-ídolo do Barcelona, que nem o inegavelmente belo gol(no último lance do jogo, diga-e) é capaz de apagar. Dá a impressão que isso faz parte de um certo culto à idolatria que esquece a competição e fixa-se na figura de um astro que muito contribui com os custos da transmissãoe e o investimento dos anunciantes. Parecem fazer parte desse pacote os longos cinco meses( desde abril do ano passado) que o Adriano precisa para entrar em forma, assim como fazia parte o mau humor de Ronalducho e outros quando questionados, em 2006, a respeito de suas (más)formas físicas, só admitidas após o fiasco diante da França, quando o time brasileiro mostrou-se tão inferior que não foi capaz de dar um chute a gol digno desse nome.
Mais grave é que o nosso treinador, Mano Menezes, até aqui não tem dado mostras de ter o domínio da situação, estando mais para o omisso Parreira de 2006, do que para o altivo de 1994, que enfrentou a arrogância midiática, trazendo o caneco após longos 24 anos de espera e à revelia do que vaticinava o bestunto midiático.
Precisamos, o quanto antes, formar uma seleção competitiva que não faça concessões ao espetáculo fora das quatro linhas na medida em que esse sempre foi prejudicial ao jogo competitivo. Nesse sentido, deve jogar quem estiver bem preparado e focado em defender nossas cores, não quem é queridinho da mídia porque vende cerveja ou outro produto qualquer. Miremo-nos nos exemplos de Djokovic e Nadal, cuja lição dos limites a que pode chegar o atleta devem servir de exemplo para todos que almejam o alto nível. Atletas desse naipe fazem o espetáculo que o público gosta e paga pra assistir. Ao contrário de outros, que continuam ídolos, mas vão trocando de lugar aonde são notícias, isto é, vão paulatinamente saindo das páginas esportivas para as de fofocas televisivas e até páginas policiais.
6 comentários:
Meus parabéns pelo belo texto,mas quero discordar quanto a sua visão em relação ao Quarto Zagueiro Luisinho,este era sim um GRANDE Jogador de Futebol,daqueles Zagueiros que não dava BICANCAS na área e im saia jogando maviosamente com seus parceiros de Time.Quanto aos outros dois nem deveriam ser citados,tal a INUTILIDADE que foram naquele TIME,dito pelo Reinaldo,como o maior Time que ele já viu Praticando a Bela Arte de jogar Futebol.E que eu ssino embaixo.
Oh Guilherme, aí residia justamente o problema do Luisinho, não dar bicos quando sua posição assim exige em certas ocasiões. O grande zagueiro fica entre a postura refinada do Luisinho e a truculência do Moisés, autor da célebre frase "zagueiro que se preza não ganha Belfort Duarte" (prêmio por bom comportamento). O Thiago Silva preenche esses requisitos
Ainda prefiro os Grandes Artistas aos Bicudeiros da vida.
Eu também, claro. Só que eu considero uma arte o posicionamento coletivo que se impõe desarmando o adversário e movimentando-se para manter a posse da bola. O gol e o drible são detalhes. ou consequências.
Permisson para meter a colher. Naquele time time de Sócrates, Falcão, Cerezo, Zico, Júnior, não hvia espaço para bicudeiros. Só craques com alggum refinamento. A presença de Sérgio Chulapa é meio sem explicação, mascreio que o Telê esperava usa-lo em jogos ccom características específicas. Nem lembro se havia outros atacantes disponiveis no páis àquela altura. Mas, o Zagalo não lebovou o Daria em 1970?
Então, o "endeusamento" daseleção derrrotada que o Telê comandou é devido ao futebol bonito, deslumbrante que aquele timeapresentou.O time montado por Lazarone era mediocreou. Tanto que caiu no esquecimento. Nem sempre o melhor timeganha a Copa do Mundo. Foi assim com a Holanda, em 1974, na Alemanhã. Venceram os donos da casa,que também tinham um timaço mas a Holanda era que encantava omondocom seu futebol solidário, o famoso carrossel holandes. Nunca mais aHolanda armou nada igual. Nem o Ajax de Amsterdã, que era a base da Larajana Mecânica.
Com relação ao Ronaldinho Gaúcho,tá corretaa avaliação. Ostimes brasileiros estão repatriando jogadores em fim de carreira: Ronaldo Gorducho, Adriano,Ronaldinho Gaúcho. Daqui a pouco vem Robinho, Kaká e outros astros opacos.Não só porque estão no fimda linha como porque a Europa vai enfrentarmuitos problemas ecpnômicos qu vão afetar o futebol, seguramente. A Espanha e
a Itália estãoábeira do abismo.
De fato, o titular era o Careca que sofreu uma distensão e teve que ser cortado, sendo chamado para o seu lugar Roberto Dinamite, aquele que salvou o Brasil da desclassificação prematura na copa anterior, entrando no lugar de Reinaldo e marcando o gol da vitória contra a Áustria.
Naquele momento, todos pensavam que Roberto viraria titular, mas Telê manteve a coerência(ou teimosia) de efetivar aquele que lá já estava, Serginho Chulapa, como dono da camisa 9.
Quanto ao encantamento, a meu juizo, este deu-se somente na partida contra a Argentina. Um banho de bola na campeã de 1978 e ainda reforçada de Maradona. Escócia e Nova zelândia não eram propriamente seleções de bom nível, daí a goleada ser até obrigação. Contra a Rússia saimos atrás e poderíamos até ter perdido o jogo, se o árbitro tivesse marcado uma penalidade máxima clara contra nós. Depois, graças ao talento individual de Sócrates e Éder viramos o jogo e contra a Itália fomos muito mal, muito porque Enzo Bearzot mandou seu time fazer exatamente o que disse que não faria e o nosso treinador ingenuamente acreditou.
Acho que estamos de pleno acordo em quase tudo que você tão bem escreveu. Só faço uma última observação a respeito dos efeitos da crise econômica no futebol. Em 2002, nossa economia descia ladeira abaixo e fomos campeões, por isso penso que esse efeito devastador da crise econômica europeia talvez não atinja tão mortalmente o futebol, principalmente na Espanha, como nos mostra a boa safra oriunda da base na equipe do Barcelona o que tem proporcionado a formação de boas seleções, conforme nos mostrou aquele jogo com o Brasil decidido na prorrogação com um gol meio ao acaso feito pelo Oscar do Internacional de Porto Alegre.
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