Lá pela segunda metade dos anos 60, Gilberto Gil lançou "Ele falava nisso todo dia", uma ironia sobre a modernidade que o governo autoritário da época adotava baseada, entre outras coisas, no planejamento exacerbado do futuro, capaz até de deixar o presente em segundo plano. Falava de um jovem obcecado por pecúlio, seguro de vida, apólices e semelhantes instrumentos garantidores da segurança perene que aqueles novos instrumentos proporcionavam à família. Nos últimos versos, Gil fala que o rapaz morreu atropelado em frente a companhia de seguros, certamente deixando a família na situação que tanto temia, tocado pela paranóica propaganda da época.
Lembrei-me dessa música ao ler uma trágica notícia, divulgada agora, mas acontecida há cerca de 15 dias, a respeito do deficiente visual paulista Diógenes Ermelindo, de 63 anos, que serviu de garoto propaganda do governo daquele estado, a quando da inauguração da linha-3 do metrô, ressaltando os grandes avanços tecnológicos, como nome das ruas em braille e pisos tácteis da estação.
Pois bem(ou mal), apesar de toda a dotação de equipamentos de última geração, não havia um funcionário disponível no momento em que Diógenes precisou do equipamento que tanto exaltou para a população. Assim, acabou morrendo atropelado por um vagão nos trilhos daquela estação.
Será que algum dia os tucanos vão admitir que nada substitui o ser humano?
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