Hipocrisia eleitoreira

Essa campanha hipócrita que setores da classe média da região Sudeste do país movem contra Tiririca, o deputado mais votado do país nas eleições do domingo último, tem ranço de nostalgia em relação ao voto censitário, que durante séculos conservou o poder político nas mãos de vis compradores de uma nobiliarquia imaginária e ridícula, mas aceita porque custava muito caro.
Em um passado recente, tivemos a eleição de figuras nocivas à política nacional sem que a "massa cheirosa" demonstrasse a indignação que agora se presencia. Quando foi que Hildebrando Pascoal provocou esse tipo de reação? Só quando a polícia esclareceu que ele tinha por hobby usar motosserras para despedaçar desafetos. E o finado senador pernambucano, Nei Maranhão? Que justificava as mortes que trazia nas costas com esse primor de cinismo: alguns, Deus leva. Outros, temos que mandar.
E o José Roberto Arruda seria, por acaso, mais útil que Tiririca? Primeiro, ajudou a fraudar o painel de votações do Senado Federal, junto com outro nefasto Toninho Malvadeza, renunciou ao mandato e anunciou sua retirada da vida pública; depois, voltou e foi saudado pela infame revista Veja como exemplo de político competente que deu a volta por cima selando-se, aí, sua companhia a José Serra na chapa tucana para as eleições de 2010, até que umas gravações mostraram que a extensão da bandidagem política vai mais longe do que essa falsa moral reacionária estampa.
Decididamente, Tiririca não é o político dos sonhos do povo brasileiro. Porém, pelo que demonstrou até aqui, está mais longe ainda de representar aquilo que historicamente contribuiu para a desmoralização do parlamento brasileiro. É só botar a memória pra funcionar e rever alguns dos fatos mais recentes envolvendo o uso da política como balcão de negócios. ou será que já houve, mas não foi noticiado, um telefonema de Tiririca para algum ministro do STF para paralisar alguma votação naquela Corte e o povo não ficou sabendo?