Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Corrente delinquente

É o que a direita demotucana tentou fazer com um poema do professor Affonso Romano de Sant'Anna, eis a farsapoeta Affonso Romano de Sant'Anna, divulgou em seu blog um desmentido a respeito de uma corrente de e-mail desses mentirosos, do tipo daqueles que espalham fichas falsas por aí.

O e-mail falso, muda seu poema e o contexto, publicado originalmente no "Jornal do Brasil" em 1984, quando do episódio do desfecho da apuração do atentado do RioCentro, que acabou em pizza.

Nem precisa dizer que, obviamente, o email falso é para atacar Dilma e Lula.

Segue a nota do poeta:

A VERDADE DA MENTIRA
Postado por Affonso Romano, em 01/04/2010, às 10:47

HOJE DIA DA MENTIRA ME VEJO OBRIGADO A UMA VEZ MAIS A DESMENTIR UM TEXTO QUE CONTINUA A CIRCULAR DOIDAMENTE NA INTERNET COM MEU NOME.

AGORA PIOROU. ADICIONARAM O SEGUINTE:

"ESSE TEXTO DEVE-SE TRANSFORMAR NA MAIOR CORRENTE QUE A INTERNET JÁ VIU, PARA QUE NA ÉPOCA DAS ELEIÇÕES CONSIGAMOS FREAR A ESCALADA DO MAL!!!! "

FAVOR DIVULGAR O POEMA CORRETO QUE NAO TEM NADA A VER
COM A CONTRAFACÇÃO QUE ANDA PELA INTERNET,
ESTE POEMA É DE 1984, ESCRITO DURANTE A DITADURA
E O EPISODIO DO 'RIO CENTRO'



A Implosão da Mentira

Affonso Romano de Sant'Anna

Fragmento 1

Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.

Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.

Mentem.Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.

Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.

Fragmento 2

Evidente/mente a crer
nos que me mentem
uma flor nasceu em Hiroshima
e em Auschwitz havia um circo
permanente.

Mentem. Mentem caricatural-
mente.
Mentem como a careca
mente ao pente,
mentem como a dentadura
mente ao dente,
mentem como a carroça
à besta em frente,
mentem como a doença
ao doente,
mentem clara/mente
como o espelho transparente.
Mentem deslavadamente,
como nenhuma lavadeira mente
ao ver a nódoa sobre o linho.Mentem
com a cara limpa e nas mãos
o sangue quente.Mentem
ardente/mente como um doente
em seus instantes de febre.Mentem
fabulosa/mente como o caçador que quer passar
gato por lebre.E nessa trilha de mentiras
a caça é que caça o caçador
com a armadilha.

E assim cada qual
mente industrial? mente,
mente partidária? mente,
mente incivil? mente,
mente tropical?mente,
mente incontinente?mente,
mente hereditária?mente,
mente, mente, mente.

E de tanto mentir tão brava/mente
constróem um país
de mentira
-diária/mente.

Fragmento 3

Mentem no passado. E no presente
passam a mentira a limpo. E no futuro
mentem novamente.
Mentem fazendo o sol girar
em torno à terra medieval/mente.

Por isto, desta vez, não é Galileu
quem mente.
mas o tribunal que o julga
herege/mente.

Mentem como se Colombo partin-
do do Ocidente para o Oriente
pudesse descobrir de mentira
um continente.

Mentem desde cabral, em calmaria,
viajando pelo avesso, iludindo a corrente
em curso, transformando a história do país
num acidente de percurso.

Fragmento 4

Tanta mentira assim industriada
me faz partir para o deserto
penitente/mente, ou me exilar
com Mozart musical/mente em harpas
e oboés, como um solista vegetal
que absorve a vida indiferente.

Penso nos animais que nunca mentem.
mesmo se têm um caçador à sua frente.
Penso nos pássaros
cuja verdade do canto nos toca
matinalmente.

Penso nas flores
cuja verdade das cores escorre no mel
silvestremente.

Penso no sol que morre diariamente
jorrando luz, embora
tenha a noite pela frente.

Fragmento 5

Página branca onde escrevo. Único espaço
de verdade que me resta. Onde transcrevo
o arroubo, a esperança, e onde tarde
ou cedo deposito meu espanto e medo.
Para tanta mentira só mesmo um poema
explosivo-conotativo
onde o advérbio e o adjetivo não mentem
ao substantivo
e a rima rebenta a frase
numa explosão da verdade.

E a mentira repulsiva
se não explode pra fora
pra dentro explode
implosiva.

(Poema publicado no JB em 1984, quando do episódio do Rio Centro e em diversas antologias do autor.

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