Leio no jornal que o 'Lapinha', templo da boemia que marcou época na noite amanhecida de Belém, está abandonado e parte do seu teto desabou.
Decididamente, nesses tempos boçais que vivemos, é muito difícil um ambiente aconchegante onde amar era a palavra de ordem sobreviver à sanha truculenta ora predominante.
Depois que o seu fundador, José Alencar, morreu aquele templo dionisíaco entrou em decadência e viu inúteis as tentativas de reanimá-lo, posto que todas negavam suas origens.
Lembro especificamente de uma em que os proprietários tentaram transformá-lo em uma casa de shows cheia de recato e discrição, negando sua tradição bandalha.
Assoreou prematuramente, vitimado pelo moralismo hipócrita que tomou como primeira medida excluir as piranhas daquele lago de felicidade.
Agora, sob escombros, devem ecoar na indiferente madrugada os ruídos alegres dos shows produzidos por Rudy Star, assim como as performances daquela belíssima stripper que povoava os sonhos eróticos do saudoso Chembra, tudo ainda impregnado nas paredes do que resta daquele templo, hoje já sem devotos dispostos a cultivar a alegria.
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