Existem muitas diferenças e algumas semelhanças entre os
primeiros mandatos de Lula e Dilma Rousseff. No plano eleitoral, essas
são especialmente visíveis no modo como chegaram ao quarto ano e ao
início do processo sucessório.
A vitória de Lula em 2006 foi tão
significativa e o segundo mandato tão consagrador que tendemos a
esquecer as dificuldades que o ex-presidente atravessou naquele ano. Ele
sempre liderou as pesquisas, é verdade, e o governo manteve-se
majoritariamente aprovado ao longo do período, mas sua posição só se
tornou confortável nos últimos meses.
Se tomássemos como estava
no fim de fevereiro, constataríamos um quadro nada tranquilizador. O
governo tinha uma avaliação positiva de 37%, maior que a negativa, de
22%, mas menor que a soma daqueles que o consideravam “regular”, 39%,
segundo dados do Datafolha.
Essa falta de entusiasmo em relação
ao governo se manifestava nas intenções de voto: na mesma pesquisa, Lula
obtinha 39% na lista em que José Serra, com 31%, aparecia então como a
opção do PSDB. Os demais candidatos totalizavam 16%. A chance de o
petista vencer no primeiro turno era quase nula.
Nos
levantamentos subsequentes, a vantagem de Lula sobre os concorrentes
ampliou-se, mas muito pelo fato de Geraldo Alckmin ter sido o escolhido
para representar os tucanos. Em março, o ex-presidente tinha 42% e o
paulista alcançava 23%. No mês seguinte, a diferença entre os dois
permaneceu idêntica. Lula só chegou à marca de 45% em maio, quando
deixaram de ser pesquisados os nomes de possíveis candidatos do PMDB,
após o partido decidir não lançar um nome.
Como se vê, foi lenta a
ascensão de Lula, e deveu-se mais a movimentos internos do sistema
político do que ao crescimento do apoio popular à candidatura.
A
razão, provavelmente, era a avaliação do governo. Pois, se é fato que os
números de fevereiro (embora não fossem maravilhosos) mostrassem
expressiva recuperação em relação a dezembro, os meses seguintes foram
de interrupção da tendência de melhora.
No fim de 2005, o governo
Lula havia chegado a seu pior momento: apenas 28% dos entrevistados o
avaliavam positivamente, abaixo dos 29% que o reprovavam. Recompôs-se e
foi a 37% em fevereiro. Mas lá empacou: 38% em março, 37% em abril, 39%
em maio, 38% em julho. Parecia incapaz de voltar ao patamar de 45%, onde
estivera em dezembro de 2004.
Quem acompanha as pesquisas atuais
percebe a semelhança com o momento atual. As quatro fases pelas quais
Lula passou entre meados de 2005 e a pré-campanha de 2006 repetem-se com
Dilma. A presidenta estava em seu máximo no começo de 2013, perdeu boa
parte da popularidade entre junho e julho, recuperou-se em agosto, mas
sem voltar aos níveis anteriores ao “derretimento”, e parou de melhorar
de lá para cá. Sua avaliação e intenção de voto estão “congeladas” desde
setembro. O mesmo padrão do ocorrido com Lula.
Em 2006, houve,
porém, uma nova fase, inaugurada quando foi dada a largada efetiva da
campanha. Mais especificamente, a partir de agosto, ao começar a
propaganda eleitoral na televisão e no rádio. Foi somente quando Lula
teve acesso aos meios de comunicação de massa, para mostrar seu trabalho
e defender o governo, que as condições de competição se tornaram menos
desequilibradas. A intensa campanha da mídia antipetista contra ele e o
governo não cessou, mas outro discurso pôde ser exposto aos eleitores.
A
avaliação positiva foi a 45% em agosto, 46% no início e 49% no fim de
setembro. Continuou a crescer em outubro e chegou a 53%, superior à
alcançada por qualquer presidente que o antecedeu, em qualquer momento
(dados sempre do Datafolha).
E Lula venceu a eleição.
A
lembrança do acontecido em 2006 serve para deixar menos ansiosos aqueles
que apoiam a reeleição de Dilma. Tudo considerado, o fato de ela “ter
parado de subir” desde agosto de 2013 não parece ser problema grave.
Inversamente,
serve para diminuir as esperanças da oposição. Não são apenas Aécio
Neves e Eduardo Campos que podem se beneficiar da propaganda eleitoral.
Na verdade, como vimos nas disputas pela reeleição, tanto com Fernando
Henrique Cardoso em 1998 quanto com Lula em 2006, quem está no governo
tende a crescer, pois possui obras a apresentar e argumentos concretos
para convencer os eleitores.
Ainda mais quando, como Dilma neste ano, lidera uma coalizão que lhe assegura abundante tempo de televisão.
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