Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

sábado, 2 de dezembro de 2023

Por uma universidade Pan-Amazônica. (I)


Fazer a universidade cumprir as suas finalidades significa reconhecer as nossas insuficiências e as recorrentes opções por um mando centralizado que se converte, muitas vezes, em autoritarismo, descredenciando as iniciativas efetivamente implementadas para conter práticas irregulares e procedimentos ultrapassados.

Muito se tem falado sobre a necessária recomposição dos orçamentos das universidades brasileiras em virtude da falta de compromisso do último governo, que não contente em deixá-la na penúria, ainda distorceu completamente a figura de captação de recursos outros, impedindo o seu crescimento, pois a cada recurso captado fora do orçamento, representava um desconto igual ao captado. Além disso, implementou um conjunto de instruções normativas em profundo desacordo com o cotidiano da produção de saber, por exemplo, o apenamento financeiro e na progressão da carreira do servidor professor e do servidor técnico, mesmo estes tendo apresentado os respectivos relatórios que comprovem a realização de suas obrigações, são jogados no lixo, tendo que aguardar novos interstícios.

Nas universidades mundo afora em melhor colocação nos ranking aqui tão celebrados, dispositivos assemelhados não encontram esse tipo de ingerência hodierno. Ao contrário, existem políticas de estímulo à remuneração para garantir aos docentes um ambiente de trabalho que premie sua dedicação ao esforço de formação de pessoal científico-técnica e a  produção de conhecimento novo, entregando à sociedade uma  plêiade de alternativas de satisfação e gozo de bem viver, porém sem desconsiderar os custos para isso.

Se é certo comemorar tantas conquistas com as melhoras nos índices nos quais a UFPA aparece como referência, também deveríamos estar atentos à definição de metas, o estabelecimento de métodos racionais sobre produtividade e fazer uma densa avaliação sobre o nosso fazer acadêmico, sem sofismas como tem sido característico nos processos implementados ultimamente, pois parece bem evidente que as noções de eficiência, eficácia e efetividade não são as guias em curso. É hora de uma avaliação profunda das técnicas de gestão utilizadas numa instituição que quer ser exemplo de inovação, expansão e modelagem para organizações públicas e privadas.

A ausência de diretrizes elementares para obtermos maior grau de profissionalização, mobilização do capital intelectual e da capacidade instalada de equipamentos com as tecnologias de gestão, acabaram por desordenar gravemente qualquer possibilidade de planejamento na gestão da força de trabalho a atender as demandas finalísticas a que se destinam; além de responder às requisições do estado brasileiro, sempre a exigir um sem número de planos, sendo que alguns deles completamente descabidos pela falta de financiamento, de pessoal e de tecnologia, como por exemplo a exigência de apresentarmos planos de gestão de riscos, sem ter qualquer contrapartida, obsta a permanente realização dos principais objetivos da universidade; a saber: reprodução continuada de gente para o mercado de trabalho, saltos de tecnologia e inovação, qualificação de pessoal técnico para a burocracia estatal, ao par de uma consistente capacidade de crítica sobre o fazer-se da condição humana sobre o conhecer.

Insisto em usar a categoria força de trabalho porque não se trata ainda de um capital intelectual propriamente dito, senão um ajuntamento de capacidades técnicas isoladas e com poucas chances de viabilizar uma orquestração adequada para suprir as contradições ainda existentes, devido ao mau gerenciamento aplicado nos últimos anos. Sequer as lições gestadas em nossa própria instituição foram tomadas como exemplo de bem administrar a falta de pessoal e de tecnologia. Saúdo os campi do interior que foram os primeiros a perceber a impossibilidade de reposição de pessoal técnico em número suficiente para atender aos reclamos de faculdades e programas e optaram por estabelecer o redimensionamento das atividades nas secretarias unificadas que funcionam, caminho percorrido há pelo menos 15 anos na Universidade Federal do Pará, todavia sem ter se tornado o efetivo modelo para formarmos um complexo de secretarias para gerir as demandas atinentes dessa função especializada.

Nosso esforço de planejamento é punido sem dúvida pelas ameaças provocadas pelo ambiente externo que se modificam muito rapidamente nos últimos 10 anos,  contudo nossa capacidade de previsibilidade de cenários tão desfavoráveis não constava em nenhum momento nos planos de desenvolvimento institucional, conforme pode ser consultado. Por obviedade, não significa que poderíamos ter tido um desempenho muito diferente devido ao atrelamento da autarquia, como é a universidade na estrutura do estado brasileiro, porém poderíamos ter sofrido menos impactos se tivéssemos colocado esta emergência em nossa projeção de futuro, de modo a não desfigurar tanto do nosso horizonte de expectativas em permanente reavaliação.

Devemos considerar a importância vital de elaborarmos um planejamento mais qualificado, atrelado a uma série de políticas que possam suportar melhor as muitas incertezas do tempo presente, como as ameaças ditadas pelo clima, pela concorrência acirrada entre blocos econômicos e pela insegurança de para onde vamos. Fazemos muito, por demais, o cansaço já dá sinais, porém, às vezes, parte dessa contribuição está desconectada dos reclamos da sociedade. Está na hora de perguntar se a expansão do ensino superior praticado por nós está em consonância com as exigências de formações diversas  para suportar a pluralidade dos problemas atuais?

Seguimos executando um repertório sem saber aonde queremos chegar. Isto fica evidente por exemplo na ausência de quais cursos de graduação e pós-graduação nós iremos criar nos próximos 20 anos, quantos alunos nós iremos formar e com que perfil. Para isso ser alcançado nós precisamos estabelecer objetivamente qual é a estratégia? Esta eleição de projeto precisa ficar sinalizada com letras garrafais para que não seja a perspectiva de apenas um indivíduo e seu grupo, antes é necessário um investimento profundo em democracia que reconheça os muitos atores internos e externos que compõem a universidade e suas redes na escolha dos seus caminhos. Felizmente temos a oportunidade de fazer essa discussão neste momento. À guisa de contribuição, minha plataforma como pré-candidato a reitor sustenta a implantação do orçamento participativo, descentralização administrativa e inovação na graduação.

(Prof. Dr. Fernando Arthur de Freitas Neves

Universidade Federal do Pará)


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