Reflexo mais perverso do descontrole inflacionário sob o desgoverno Bolsonaro, a disparada dos preços dos alimentos se capilarizou por todo o país. Em 2021, o valor da cesta básica aumentou nas 17 capitais onde o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) realiza todo mês a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos.
As altas mais expressivas em comparação a dezembro de 2020 foram registradas em Curitiba (16,30%), Natal (15,42%), Recife (13,42%), Florianópolis (12,02%) e Campo Grande (11,26%). Entre novembro e dezembro de 2021, o valor da cesta subiu em oito cidades, com destaque para Salvador (2,43%) e Belo Horizonte (1,71%).
Em São Paulo, a cesta básica sofreu alta de 9,35% na comparação entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021, e atingiu o valor de R$ 690,51, maior custo entre as 17 cidades pesquisadas. Quando comparados o custo da cesta e o salário mínimo líquido (após o desconto da Previdência Social), a relação foi de 67,86%, em dezembro, e 68,04%, em novembro de 2021. Em dezembro de 2020, o percentual era de 65,33%.
Para a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, sob Jair Bolsonaro e Paulo Guedes a economia nacional continuará fracassando. “Carestia no Brasil explode e cesta básica chega a custar 67% do salário mínimo. Projeto genocida do desgoverno faz o povo sofrer e faz do país um pandemônio. Reconstruir vai ser difícil, mas nada como a esperança e a vontade política pra mudar o rumo das coisas”, escreveu a deputada federal paranaense em seu perfil no Twitter.
Com base na cesta mais cara, que em dezembro de 2021 foi a de São Paulo, naquele mês o salário mínimo necessário para manter uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 5.800,98, ou 5,27 vezes o mínimo de R$ 1.100,00. Em dezembro de 2020, o salário mínimo necessário foi de R$ 5.304,90, ou 5,08 vezes o piso em vigor, que equivalia a R$ 1.045,00.
Quando se compara o custo da cesta e o salário mínimo líquido, verifica-se que o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu, em dezembro de 2021, 58,91% do rendimento para adquirir os mesmos produtos que, em novembro, demandaram 58,95%. Em dezembro de 2020, a média foi de 56,57%.
A pesquisa também mostrou que, entre dezembro de 2020 e de 2021, nove produtos tiveram alta acumulada de preços em quase todas as capitais. Foram eles: carne bovina de primeira, açúcar, óleo de soja, café em pó, tomate, pão francês, manteiga, leite integral longa vida e farinha de trigo, no Centro-Sul, e de mandioca, no Norte e Nordeste.
Entre dezembro de 2020 e de 2021, a carne bovina de primeira variou entre 5,00%, em Aracaju, e 18,76%, em Porto Alegre. Esse resultado deveu-se ao alto volume exportado ao longo de 2021, principalmente para a China. Houve ainda influência da alta do preço de insumos como milho e soja, que foram direcionados para exportação.
Cada vez mais famílias deixam de comer carne
Conforme os dados do Dieese, os preços dos alimentos básicos, principalmente os que são commodities, seguem elevados por causa da demanda externa aquecida e do dólar em patamar atraente para as exportações. Ao mesmo tempo, a economia segue em baixa, com alto desemprego, precarização crescente e queda de renda freando o consumo. A mistura tira a carne do cardápio de um número cada vez maior de famílias.
O consumo de carne bovina vem caindo há três anos consecutivos no país. Em 2020, recuou 10% em relação ao anterior. Para 2021, a estimativa é de queda de 2%, para um consumo de 5,24 milhões de toneladas de carne bovina, o menor valor em 12 anos. Quando se considera o consumo por pessoa, o resultado é ainda mais modesto: 24,5 quilos por ano, número próximo do registrado em 2005, 16 anos atrás.
A estimativa foi calculada pelo especialista da Consultoria Agro do Itaú BBA Cesar de Castro Alves para a BBC News Brasil. Conforme os dados, os dois lados da equação do consumo – o preço dos produtos e a renda das famílias – se deterioraram em 2021.
Em contrapartida, no ano passado a receita de exportação de carne bovina do Brasil foi recorde, alcançando US$8,0 bilhões, 7,6% acima do observado em 2020. Apesar da queda no ritmo de embarques devido à suspensão temporária das vendas para a China. Os embarques caíram 9,3% frente a 2020, com as vendas passando de 1,72 milhão de toneladas em 2020 para 1,56 milhão de toneladas 2021, menor quantidade desde 2018.
O comportamento do câmbio foi fundamental para o resultado. O dólar médio em 2021 foi o mais alto da história, a R$5,40, valor 4,7% acima da média observada em 2020 (R$5,15). Até 2019, o dólar médio anual nunca havia superado a barreira dos R$4,00. Em 2020 e 2021 o câmbio operou com média acima de R$5,00. A perspectiva para 2022 é que o dólar fique em torno de R$5,60, na faixa da cotação do início do ano.
Nesta segunda-feira (10), analistas do mercado financeiro voltaram a reduzir a estimativa de alta do Produto Interno Bruto (PIB) para 2022, de 0,36% para 0,28%. Já a previsão para a inflação continua em 5,03%, acima do teto do sistema de metas, levando a taxa de juros básicos da economia Selic para 11,75% no final de 2022.
No boletim da semana passada, a expectativa era de que fechasse o ano em 11,50%. As informações constam do relatório Focus divulgado pelo Banco Central (BC) “autônomo”, e reforçam o quadro de “pandemônio” apontado por Gleisi Hoffmann.
(Agência PT/DIEESE)
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