"Ô Madalena, o meu peito percebeu que o mar é uma gota, comparado ao pranto meu..."(Vitor Martins).
Duvido que alguém em sã consciência pare para tentar comparar o volume de água contido em um oceano, com as lágrimas apaixonadas derramadas nessa bela canção, imortalizada na voz da inigualável Elis Regina.
Por isso, transformar em assunto prioritário da conjuntura local um comentário feito pela cantora Gaby Amarantos, o Diário do Pará de hoje traz reportagem de quase página inteira sobre o assunto, a respeito da violência vivenciada por ela no Jurunas quando era adolescente, não passa de abordagem oca em apologia ao bairrismo.
Lembro de um jogador, nascido na Inglaterra, que passou uma mini temporada no Paysandu, e certa vez em entrevista a um jornal europeu, se não me engano, quando perguntado sobre adaptação ao meio, declarou que era aconselhado a não se afastar muito do prédio onde morava para não ser mais uma vítima da violência em nossa cidade.
O mundo midiático parauara desabou enfurecido sobre a cabeça do atleta, como se ele fosse o inventor da recomendação, e não apenas alguém que lembrou de um conselho recebido de belenenses, certamente dado por conhecedores mais abalizados da situação, ao qual parece apenas ter seguido e revelado oportunamente, quando foi instado a dar suas impressões a respeito.
O próprio jornal, que publicou a matéria citada onde Amarantos é sutilmente acusada de cuspir no prato que comeu, durante muito tempo, colocou-se na mesma posição assustada da artista, na ocasião em que o então governador Almir Gabriel usou a expressão "sensação de insegurança", tentando minimizar os efeitos políticos dessa mesma violência que horrorizava a todos.
Com efeito, expressões hiperbólicas não podem esconder o sol atrás da peneira e serem tomadas ao pé da letra quando exprimem sentimentos subjetivos, diante de uma situação concreta experimentada por todos e todas, só que em casos como o presente muito mais dolorosos onde a pobreza urbana, tão bem analisada pelo mestre Milton Santos, convive diuturnamente com a violência. Só isso.


 
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