Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Com Trump, excepcionalismo estadunidense significa pobreza, miséria e morte


Nenhuma outra nação encarou o tanto de mortes por Covid-19 e uma taxa de mortalidade tão alta quanto os Estados Unidos.

Com 4.25% da população mundial, os EUA têm a trágica distinção de representar cerca de 30% das mortes da pandemia até agora.

E é a única nação avançada onde a taxa de mortalidade ainda está subindo. Três mil mortes por dia são previstas até o dia 1 de junho.

Nenhuma outra nação flexibilizou o confinamento e outras medidas de distanciamento social enquanto as mortes aumentam, como os EUA estão fazendo agora.

Nenhuma outra nação avançada estava tão despreparada para a pandemia quanto os EUA.

Agora sabemos que Donald Trump e sua administração foram avisados por experts da área da saúde pública no meio de janeiro sobre a necessidade de ação imediata para evitar a disseminação da Covid-19. Mas de acordo com o Dr. Anthony Fauci, “teve muito contra-ataque”. Trump não agiu até 16 de março.

Epidemiologistas estimam que 90% das mortes nos EUA da primeira onda da Covid-19 poderiam ter sido evitadas se as políticas de distanciamento social tivessem entrado em efeito duas semanas antes, em dois de março.

Nenhuma outra nação além dos EUA delegou a compra de ventiladores e equipamentos de proteção para unidades de governo subordinadas, os estados e as cidades. Em nenhuma outra nação tais sub-governos foram forçados a competir uns contra os outros.

Em nenhuma outra nação experts em saúde pública e emergência foram descartados e substituídos por comparsas políticos como o genro de Trump, Jared Kushner, que tem sido aconselhado por doadores de Trump e celebridades da Fox News.

Em nenhuma outra nação avançada a Covid-19 forçou a entrada de tantos cidadãos comuns na pobreza tão rapidamente. O Instituto Urbano relata que mais de 30% dos adultos estadunidenses tiveram que reduzir seus gastos com comida.

Em outros lugares no mundo, os governos estão fornecendo uma renda de apoio generosa. Nos EUA, não.

Na melhor das hipóteses, os estadunidenses receberam um cheque de 1.200 dólares, o valor de uma semana de aluguel, mercado e utilitários. Poucos estão coletando benefícios de seguro-desemprego porque os departamentos estão sobrecarregados.

O “programa de proteção da folha de pagamento” do Congresso é uma bagunça. A verba tem sido distribuída por meio de instituições financeiras, e, com isso, bancos estão pegando dinheiro para si e recompensando seus clientes favoritos. Dos 350 bilhões originalmente pretendidos para pequenos negócios, 243.4 milhões de dólares foram para empresas grandes de capital aberto.

Enquanto isso, o Tesouro e o Fed estão resgatando grandes corporações de dívidas que acumularam nos últimos anos para comprar de volta suas partes nas ações.

Porque os EUA são tão diferentes de outras nações avançadas que estão encarando a mesma ameaça do coronavírus? Por que tudo deu tão tragicamente errado?

Parte disso é devido à Trump e sua corrupta coleção de parentes, lobistas, vigaristas, palhaços e bajuladores.

Mas também tem raízes mais profundas.

O coronavírus tem sido especialmente potente nos EUA porque são a única nação industrializada que não possui assistência médica universal. Muitas famílias têm evitado ir ao médico ou à emergência por medo de adquirir grandes dívidas.

Os EUA também são a única entre 22 nações avançadas que fracassa em fornecer alguma forma de licença médica paga aos trabalhadores. Como resultado, muitos trabalhadores estadunidenses permanecem no trabalho quando deveriam estar em casa.

Somando a isso, temos a economia nos benefícios do seguro-desemprego nos EUA – fornecendo menos apoio no primeiro ano de desemprego do que em outros países avançados.

Os locais de trabalho nos EUA também são mais perigosos. Mesmo antes de a Covid-19 despedaçar frigoríficos e armazéns, as taxas de mortalidade eram maiores entre trabalhadores estadunidenses em comparação com os trabalhadores europeus.

Mesmo antes de a pandemia roubar os empregos e rendas dos estadunidenses, o crescimento médio salarial nos EUA ficava abaixo do crescimento médio salarial em outros países avançados. Desde 1980, a porção da renda nacional dos trabalhadores estadunidenses caiu mais do que em qualquer outra nação rica.

Em outras nações, os sindicatos há tempos insistem por condições de trabalho mais seguras e salários maiores. Mas os trabalhadores estadunidenses são bem menos sindicalizados do que os trabalhadores em outras economias avançadas. Somente 6.4% dos trabalhadores do setor privado nos EUA pertencem a um sindicato, em comparação com mais de 26% no Canadá, 37% na Itália, 67% na Suécia e 25% na Grã-Bretanha.

Então, o quê ou quem é culpado pelas piores perdas de vida evitáveis da história dos EUA?

Parcialmente, a má conduta de Donald Trump.

Mas a calamidade também é em razão do fracasso de longo prazo dos EUA em fornecer apoio básico necessário para seu povo.(Robert Reich/ Publicado originalmente em 'The Guardian' | Tradução de Isabela Palhares/ via Carta Maior)

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