Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Fórum Social 2020 quer superar fragmentação histórica


Quando os participantes do Fórum Social das Resistências derem os primeiros passos na tradicional marcha de abertura, às 18h da tarde dessa terça-feira, 21 de janeiro, com saída do largo Glênio Peres, estará dada a largada oficial do evento. Trazendo a expressão “das resistências” no lugar da palavra “mundial”, o Fórum Social de Porto Alegre tem duas missões elementares. A primeira é manter a conexão do evento com a cidade onde nasceu (a primeira edição foi em 2001) e chegou a reunir mais de 150 mil pessoas, em 2005.

Há também a preocupação de superar limitações de edições anteriores, cuja marca era uma oferta muito variada de atividades e debates, em agendas que aconteciam de forma simultânea, sobrepondo bandeiras e movimentos e impedindo, em muitos casos, a interlocução entre eles.

“Partimos de algumas críticas ao processo do Fórum Social Mundial como evento, não como um espaço que consiga produzir novas estratégias para o movimento altermundista”, observou Mauri Cruz, integrante do Conselho Internacional e também do grupo facilitador do fórum 2020, em entrevista à Carta Maior.

“A realidade coloca defensoras e defensores da democracia, da solidariedade e dos direitos humanos em estado de alerta e exige um esforço extra no processo de articulação de uma agenda capaz de produzir uma unidade mundial do campo democrático e popular entorno de propostas capazes de enfrentar as crises ambiental, econômica, social e a crise dos valores democráticos. Por isso, é uma exigência que os movimentos altermundialista se reúnam para refletir e propor saídas comuns para a humanidade, numa ótica solidária, democrática, de respeito as diversidades, que busque enfrentar as causas das várias formas de violências, das desigualdades sociais e territoriais”, diz a carta convocatória desta edição do evento.

No lugar das “atividades atomizadas”, como define Cruz, estão os 14 painéis chamados “convergências”, que acontecem na quarta-feira, 22. Neles, movimentos sociais debaterão em assembleias temáticas para em seguida formularem uma carta em comum, unificando a mensagem entre todos. A intenção do grupo facilitador é testar e oferecer essa metodologia para a organização do Fórum Social Mundial, cuja próxima edição acontece em 2021, no México.

A ideia da convergência, aliás, estará presente já na marcha de abertura, que aproveita a mobilização de movimentos para o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, neste 21 de janeiro. “Nossa marcha vai estar articulada com a 12ª pela vida e pela liberdade religiosa, liderada tradicionalmente pelos povos de terreiro e pelas religiões de matriz africana”, explica Cruz.

Na quinta, 23, três grandes mesas de debates marcam a agenda. Pela manhã, “Direitos do planeta e dos bens comuns”, na Unisinos, em São Leopoldo, contará com a presença das lideranças indígenas Sônia Guajajara e cacique Raoni. À tarde, em Porto Alegre, as pautas são “Direitos dos povos, territórios e dos movimentos sociais” e, na sequência, “Os desafios da democracia hoje”.

A sexta-feira, 24, será o dia da Assembleia dos Povos, e no sábado e domingo, o conselho internacional do Fórum Social Mundial se reúne na capital para debater e organizar os próximos passos do movimento altermundista, inclusive batendo o martelo sobre a data do evento no México, no ano que vem.

Além do Fórum das Resistências, em Porto Alegre, outros capítulos do Fórum Social Mundial estão programados para 2020: o Fórum Social Panamazônico, de 22 a 25 de março de 2020 em Mocoa, na Colômbia, e o Fórum Social das Economias Transformadoras, de 25 a 28 de junho, em Barcelona, na Espanha.

Caráter anti-sistêmico foi absorvido pela extrema direita

Criado como um contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos, que também arranca nesta terça-feira, 21, nos alpes Suíços, o Fórum Social Mundial precisa lidar também com uma contradição extra: o fato de o caráter anti-sistêmico que caracterizou o movimento durante anos ter sido incorporado pela

“No início do Fórum havia uma identidade muito forte entre os governos neoliberais e o pensamento de Davos. Hoje, com Trump e Bolsonaro, o sistema capitalista vive uma disputa de conceitos. A ultradireita tem um quê de anti-sistêmica, tem um quê de anti-Davos”, pondera Cruz.

O presidente brasileiro, por exemplo, não viajou à Suíça e será representado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Por outro lado, o próprio Fórum Econômico incorporou parte da agenda do FSM como uma resposta aos movimentos que saíram às ruas no ano passado no Chile e no Equador e à crise climática. Um dos convidados da edição 2020, por exemplo, é o co-criador do movimento Occupy Wall Street, Micah White.

“O Fórum Social Mundial continua sendo anti-Davos, mas enfrentar Davos não dá conta de enfrentar os desafios da conjuntura. Esse pensamento anti-sistêmico, que o Fórum sempre representou, mas pelo viés da opção humanista, de esquerda, ele também está numa direita fascista. É preciso incorporar novos significados para as tarefas e desafios de enfrentar esse pensamento autoritário e antidemocrático desses governos”, conclui Cruz.
(Carta Maior)

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