Quando os participantes do Fórum Social das Resistências derem os primeiros passos na tradicional marcha de abertura, às 18h da tarde dessa terça-feira, 21 de janeiro, com saída do largo Glênio Peres, estará dada a largada oficial do evento. Trazendo a expressão “das resistências” no lugar da palavra “mundial”, o Fórum Social de Porto Alegre tem duas missões elementares. A primeira é manter a conexão do evento com a cidade onde nasceu (a primeira edição foi em 2001) e chegou a reunir mais de 150 mil pessoas, em 2005.
Há também a preocupação de superar limitações de edições anteriores, cuja marca era uma oferta muito variada de atividades e debates, em agendas que aconteciam de forma simultânea, sobrepondo bandeiras e movimentos e impedindo, em muitos casos, a interlocução entre eles.
“Partimos de algumas críticas ao processo do Fórum Social Mundial como evento, não como um espaço que consiga produzir novas estratégias para o movimento altermundista”, observou Mauri Cruz, integrante do Conselho Internacional e também do grupo facilitador do fórum 2020, em entrevista à Carta Maior.
“A realidade coloca defensoras e defensores da democracia, da solidariedade e dos direitos humanos em estado de alerta e exige um esforço extra no processo de articulação de uma agenda capaz de produzir uma unidade mundial do campo democrático e popular entorno de propostas capazes de enfrentar as crises ambiental, econômica, social e a crise dos valores democráticos. Por isso, é uma exigência que os movimentos altermundialista se reúnam para refletir e propor saídas comuns para a humanidade, numa ótica solidária, democrática, de respeito as diversidades, que busque enfrentar as causas das várias formas de violências, das desigualdades sociais e territoriais”, diz a carta convocatória desta edição do evento.
No lugar das “atividades atomizadas”, como define Cruz, estão os 14 painéis chamados “convergências”, que acontecem na quarta-feira, 22. Neles, movimentos sociais debaterão em assembleias temáticas para em seguida formularem uma carta em comum, unificando a mensagem entre todos. A intenção do grupo facilitador é testar e oferecer essa metodologia para a organização do Fórum Social Mundial, cuja próxima edição acontece em 2021, no México.
A ideia da convergência, aliás, estará presente já na marcha de abertura, que aproveita a mobilização de movimentos para o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, neste 21 de janeiro. “Nossa marcha vai estar articulada com a 12ª pela vida e pela liberdade religiosa, liderada tradicionalmente pelos povos de terreiro e pelas religiões de matriz africana”, explica Cruz.
Na quinta, 23, três grandes mesas de debates marcam a agenda. Pela manhã, “Direitos do planeta e dos bens comuns”, na Unisinos, em São Leopoldo, contará com a presença das lideranças indígenas Sônia Guajajara e cacique Raoni. À tarde, em Porto Alegre, as pautas são “Direitos dos povos, territórios e dos movimentos sociais” e, na sequência, “Os desafios da democracia hoje”.
A sexta-feira, 24, será o dia da Assembleia dos Povos, e no sábado e domingo, o conselho internacional do Fórum Social Mundial se reúne na capital para debater e organizar os próximos passos do movimento altermundista, inclusive batendo o martelo sobre a data do evento no México, no ano que vem.
Além do Fórum das Resistências, em Porto Alegre, outros capítulos do Fórum Social Mundial estão programados para 2020: o Fórum Social Panamazônico, de 22 a 25 de março de 2020 em Mocoa, na Colômbia, e o Fórum Social das Economias Transformadoras, de 25 a 28 de junho, em Barcelona, na Espanha.
Caráter anti-sistêmico foi absorvido pela extrema direita
Criado como um contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos, que também arranca nesta terça-feira, 21, nos alpes Suíços, o Fórum Social Mundial precisa lidar também com uma contradição extra: o fato de o caráter anti-sistêmico que caracterizou o movimento durante anos ter sido incorporado pela
“No início do Fórum havia uma identidade muito forte entre os governos neoliberais e o pensamento de Davos. Hoje, com Trump e Bolsonaro, o sistema capitalista vive uma disputa de conceitos. A ultradireita tem um quê de anti-sistêmica, tem um quê de anti-Davos”, pondera Cruz.
O presidente brasileiro, por exemplo, não viajou à Suíça e será representado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
Por outro lado, o próprio Fórum Econômico incorporou parte da agenda do FSM como uma resposta aos movimentos que saíram às ruas no ano passado no Chile e no Equador e à crise climática. Um dos convidados da edição 2020, por exemplo, é o co-criador do movimento Occupy Wall Street, Micah White.
“O Fórum Social Mundial continua sendo anti-Davos, mas enfrentar Davos não dá conta de enfrentar os desafios da conjuntura. Esse pensamento anti-sistêmico, que o Fórum sempre representou, mas pelo viés da opção humanista, de esquerda, ele também está numa direita fascista. É preciso incorporar novos significados para as tarefas e desafios de enfrentar esse pensamento autoritário e antidemocrático desses governos”, conclui Cruz.
Há também a preocupação de superar limitações de edições anteriores, cuja marca era uma oferta muito variada de atividades e debates, em agendas que aconteciam de forma simultânea, sobrepondo bandeiras e movimentos e impedindo, em muitos casos, a interlocução entre eles.
“Partimos de algumas críticas ao processo do Fórum Social Mundial como evento, não como um espaço que consiga produzir novas estratégias para o movimento altermundista”, observou Mauri Cruz, integrante do Conselho Internacional e também do grupo facilitador do fórum 2020, em entrevista à Carta Maior.
“A realidade coloca defensoras e defensores da democracia, da solidariedade e dos direitos humanos em estado de alerta e exige um esforço extra no processo de articulação de uma agenda capaz de produzir uma unidade mundial do campo democrático e popular entorno de propostas capazes de enfrentar as crises ambiental, econômica, social e a crise dos valores democráticos. Por isso, é uma exigência que os movimentos altermundialista se reúnam para refletir e propor saídas comuns para a humanidade, numa ótica solidária, democrática, de respeito as diversidades, que busque enfrentar as causas das várias formas de violências, das desigualdades sociais e territoriais”, diz a carta convocatória desta edição do evento.
No lugar das “atividades atomizadas”, como define Cruz, estão os 14 painéis chamados “convergências”, que acontecem na quarta-feira, 22. Neles, movimentos sociais debaterão em assembleias temáticas para em seguida formularem uma carta em comum, unificando a mensagem entre todos. A intenção do grupo facilitador é testar e oferecer essa metodologia para a organização do Fórum Social Mundial, cuja próxima edição acontece em 2021, no México.
A ideia da convergência, aliás, estará presente já na marcha de abertura, que aproveita a mobilização de movimentos para o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, neste 21 de janeiro. “Nossa marcha vai estar articulada com a 12ª pela vida e pela liberdade religiosa, liderada tradicionalmente pelos povos de terreiro e pelas religiões de matriz africana”, explica Cruz.
Na quinta, 23, três grandes mesas de debates marcam a agenda. Pela manhã, “Direitos do planeta e dos bens comuns”, na Unisinos, em São Leopoldo, contará com a presença das lideranças indígenas Sônia Guajajara e cacique Raoni. À tarde, em Porto Alegre, as pautas são “Direitos dos povos, territórios e dos movimentos sociais” e, na sequência, “Os desafios da democracia hoje”.
A sexta-feira, 24, será o dia da Assembleia dos Povos, e no sábado e domingo, o conselho internacional do Fórum Social Mundial se reúne na capital para debater e organizar os próximos passos do movimento altermundista, inclusive batendo o martelo sobre a data do evento no México, no ano que vem.
Além do Fórum das Resistências, em Porto Alegre, outros capítulos do Fórum Social Mundial estão programados para 2020: o Fórum Social Panamazônico, de 22 a 25 de março de 2020 em Mocoa, na Colômbia, e o Fórum Social das Economias Transformadoras, de 25 a 28 de junho, em Barcelona, na Espanha.
Caráter anti-sistêmico foi absorvido pela extrema direita
Criado como um contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos, que também arranca nesta terça-feira, 21, nos alpes Suíços, o Fórum Social Mundial precisa lidar também com uma contradição extra: o fato de o caráter anti-sistêmico que caracterizou o movimento durante anos ter sido incorporado pela
“No início do Fórum havia uma identidade muito forte entre os governos neoliberais e o pensamento de Davos. Hoje, com Trump e Bolsonaro, o sistema capitalista vive uma disputa de conceitos. A ultradireita tem um quê de anti-sistêmica, tem um quê de anti-Davos”, pondera Cruz.
O presidente brasileiro, por exemplo, não viajou à Suíça e será representado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
Por outro lado, o próprio Fórum Econômico incorporou parte da agenda do FSM como uma resposta aos movimentos que saíram às ruas no ano passado no Chile e no Equador e à crise climática. Um dos convidados da edição 2020, por exemplo, é o co-criador do movimento Occupy Wall Street, Micah White.
“O Fórum Social Mundial continua sendo anti-Davos, mas enfrentar Davos não dá conta de enfrentar os desafios da conjuntura. Esse pensamento anti-sistêmico, que o Fórum sempre representou, mas pelo viés da opção humanista, de esquerda, ele também está numa direita fascista. É preciso incorporar novos significados para as tarefas e desafios de enfrentar esse pensamento autoritário e antidemocrático desses governos”, conclui Cruz.
(Carta Maior)
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