Jorge Paz Amorim

Minha foto
Belém, Pará, Brazil
Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

A construção do Pobre de Direita


O que leva um trabalhador a atacar outro trabalhador por causa de uma manifestação a favor dos direitos dos trabalhadores? Essa é uma pergunta que eu faço bastante. Inclusive eu cunhei um termo que chama disforia de classe. A gente já tem alguns vídeos sobre isso ou porque pobre vota em rico? Ou sobre o pobre de direita, esse fenômeno.

Eu queria aprofundar um pouco nesses mecanismos que criam esse ser. Primeiro a gente tem que separar que uma coisa é o trabalhador que não pode ir na manifestação pela contingência do trabalho dele. Ele tem medo de perder o emprego, realmente ele depende muito daquilo. Mas ele, mesmo não indo, vai dar um jeito de apoiar, ele não vai reclamar, ele vai divulgar. Ele realmente não consegue ir ou por medo ou por pressão, enfim essas coisas que acontecem.

A outra coisa é o trabalhador que reclama porque a manifestação está atrapalhando: ah não podia fazer no domingo para não atrapalhar. Manifestação é pra atrapalhar, manifestação que não atrapalha é bater panela, que a única coisa que acontece é entortar a panela. Não atrapalha ninguém, não precisa nem sair de casa, você vai na sua varanda gourmet e bate a panela.

Caso você não tenha nem varanda gourmet nem panela, talvez seja o caso de você pensar que você não faz parte desse rol que está sendo beneficiado pelo que está acontecendo. Uma manifestação que não atrapalha é como fornicar pelo direito a castidade. Uma manifestação é um grito. Um grito que ninguém ouve, é um grito? Vamos ficar com essa pergunta filosófica.

Tem uma martelação dessas mídias que é uma defesa de um pacifismo. A gente vai ter que começar a entender quando que ser radical passou a ser ruim. Quando que o bom é você ser meio pacifista. Que nem é pacifista, é ser meio pacato mesmo. Quando que um bom trabalhador virou um trabalhador submisso. Que isso é uma construção. É uma construção histórica, uma construção moderna. Uma construção que tem a ver com esse pulo pra um retirada dos direitos dos trabalhadores que foi conseguido com muita luta. Com muita greve. Com muita paralisação.

Essa construção de mundo, essa visão de mundo ele acaba abafando o conflito que é o mais importante que é um conflito de classes. Então a gente tem uma novela da globo onde os patrões são amigos dos empregados. O núcleo popular vive em casas que são um pouco menos suntuosas do que aquelas casas dos patrões, mas são casas estruturadas meio verde água, né. Com uma decoração verde água. São amigos, os patrões visitam. As vezes eles têm casos de amor. A gente tem uma novela clássica que a gente tem um caso de amor entre um proprietário de terra e uma pessoa do MST.

E aí parece que o conflito de classes é invenção do PT. Que o PT dividiu o Brasil. Não querido, o Brasil já estava dividido. Você que estava achando que estava tudo bem. A gente tem uma construção de dramaturgia onde o mal é sempre um mal individual e essencial. A gente não tem um mal sistêmico. A gente não consegue ver atitudes que são equivocadas dentro do sistema. A gente não consegue ver as opressões que o indivíduo sofre porque tudo isso sofre porque tudo isso é chapado numa dramaturgia, numa visão de mundo, numa contação de história, onde eu incluo o Jornal Nacional, que está tudo bem.

A gente tem que começar a olhar para essas construções para tentar desfazer elas, para ver se a gente consegue ter cidadãos e não consumidores. E para ver se a gente extingue esse fenômeno que é o pobre de direita. É o trabalhador que bate em trabalhador.
(Ana Roxo/ Nocaute)


Nenhum comentário: