Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

sábado, 21 de novembro de 2015

Especial GGN dia da Consciência Negra: Do samba ao rap

A cada nova pesquisa do IBGE população brasileira se reconhece mais negra


Jornal GGN - A cada novo levantamento realizado pela Pnad (Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira se reconhece cada vez mais como negra. Em 2010, entre os mais de 191 milhões de brasileiros, 91 milhões se autodeclararam brancos (47,7%) contra 97 milhões (50,7%) que se autodeclararam pretos (15 milhões) e pardos (82 milhões). Naquele ano foi a primeira vez na história do IBGE que mais de 50% da população brasileira se declarou não branca. Em 2013, o mesmo censo destacou que, em dez anos a população que se declarou preta no país cresceu 2,1% passando de 5,9% do total de brasileiros em 2004 para 8% em 2013.

Os dados apontam para o empoderamento de um público importante, a partir da valorização da cultura negra e de décadas dos trabalhos de autoafirmação desenvolvidos pelos movimentos sociais negros no país. Para debater mais esse tema, e, em especial a valorização da cultura negra, o Jornal GGN recebeu três importantes ativistas: a coordenadora de Igualdade Racial da Prefeitura de Guarulhos, Edna Roland, a diretora de conteúdo e marketing do site Mundo Negro, Silvia Nascimento, e o rapper Ricon Sapiência.

As formas de organização da população negra no Brasil são profundamente marcadas pela questão da cultura, pontuou Edna Roland. "A cultura é realmente um eixo que estrutura, que nos ajuda a construir a nossa identidade a valorizar nosso povo e nossa autoestima", destacou Edna que, em 2001, foi indicada pelo então Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, para integrar o Grupo de Pessoas Eminentes encarregadas de monitorar a implementação do Programa de Ação de Durban, contra Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata.

A expressão cultural mais forte da cultura negra no Brasil é, sem dúvida, a música. O rapper Rincon Sapiência destacou, durante o debate, pontos comuns entre a criação do samba e do rap. Os dois estilos são ricos em poesia e nasceram nas quebradas das periferias brasileiras.

"Quando o samba começou a se expor, a ganhar mais popularidade, sofreu muito preconceito social, até se tornar o que é hoje, onde temos o Carnaval como uma manifestação do samba, cheio de patrocinadores apoiando".

"Isso foi bom, principalmente [porque] implementou muitos elementos da cultura clássica no samba. A gente pode reparar que o samba mais antigo tem metais, flautas, arranjos de piano. Isso foi dando requinte ao samba musicalmente, e isso foi se fazendo sem quebrar esses preconceitos", pontou Sapiência, destacando que o rap passa hoje por um processo semelhante.

"O rap, naturalmente, por mais que seja do gueto, tenha uma linguagem informal, tem a beleza na poesia e no rítimo", ressaltou o músico. Entretanto, o estilo ainda sofre preconceitos por utilizar gírias e palavrões. Por outro lado, com a melhora da situação econômica no país, que atingiu as periferias, os músicos do rap passaram a ter acesso a tecnologia, informação e conhecimento - em dez anos a população negra nas universidades cresceu 230%.
Ou seja, se por um lado a aceitação do samba pelo mercado fonográfico ocorreu, em parte, pela introdução de conceitos da cultura branca, por outro, hoje o rap, em meio ao embate cultural, está se sofisticando em grande medida graças ao empoderamento da própria população negra, com mais acesso a educação e tecnologia.
“Isso foi fazendo a gente conseguir atingir outros locais e ter um pouco mais de visão na hora de jogar as cartas do que a geração do rap anterior a minha”, avaliou Rincon.
Negro e preto

Ao retomar a questão da importância entre cultura e empoderação da população negra no Brasil, analizando como as gerações foram mudando a forma como se auto-denominam negras no país, Edna Roland destacou que a geração anterior a ela, até os anos 1960, se denominava como "pessoas de cor". Em seguida veio a sua geração, de 1980, que se afirmou como negra. "É a fase do '100% negro', 'negro é a raiz da liberdade', retomando a questão do samba", lembrou.

Depois, nos anos 1990, vieram os rappers que começaram  a se definir como pretos. "Na minha geração o termo preto é coisa, é cor, não a pessoa. Mas a geração do rap se autodenominou como preta, porque eles consideravam que se dizer preto era mais radical do que se dizer negro", explicando que esse posicionamento foi uma influência dos rappers norte-americanos que levantaram a bandeira do ser black, e não negro, um termo considerado pejorativo naquele país.

A jornalista Silvia Nascimento, também convidada para o debate, ressaltou que, apesar das estatísticas que revelam que mais de 50% da população brasileira é negra, esse público ainda é sub-representado pela imprensa e marketing brasileiros. Por isso, em 2001, ela decidiu criar o siteMundo Negro, com notícias voltadas para essa população, que vão de políticas públicas à beleza.

Ao longo da sua jornada de criação e sustentação do portal, Silvia diz que aprendeu muitas formas de combater o preconceito e de atender seu público. "Há várias formas de combater o racismo inclusive valorizando a auto estima dos meus leitores. Acredito que o amor próprio, a valorização da auto estima, a valorização da sua cultura, também tem poder revolucionário, quando você gosta do que você é", pontuou.

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