Diante de uma tragédia como a de ontem em Paris, duas atitudes se impõem.
A primeira é chorar cada morte. Na última contagem, 120 pessoas foram mortas pelos atos conjuntos de terrorismo, e dezenas estão feridas, muitas em estado crítico.
A palavra mais comum nos jornais franceses deste sábado é, previsivelmente, horreur, horror.
Derramadas todas as lágrimas, vem a segunda atitude. Tentar compreender como uma violência de tal magnitude pôde acontecer.
É um passo essencial para evitar que outros episódios dantescos como o desta sexta em Paris possam se repetir.
Mas há, aí, uma extraordinária dificuldade em sair de lugares comuns como a “violência radical” do islamismo e dos islâmicos.
Trechos do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, são citados em apoio dessa tese falaciosa e largamente utilizada.
A questão realmente vital é esta: o que leva ao extremismo tantos muçulmanos, sobretudo jovens? Por que eles abandonam vidas confortáveis em seus países de origem, abraçam o terror e morrem sem hesitar pela causa que julgam justa?
Os líderes ocidentais não fazem este exercício porque a resposta àquelas perguntas é brutalmente indigesta para eles.
O terror islâmico nasce do terror ocidental, numa palavra.
Há muitas décadas os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, promovem destruição em massa nos países islâmicos.
Querem garantir o petróleo, a que preço for, e fingem que estão naquela região com propósitos civilizatórios.
O último grande ato de predação foi a Guerra do Iraque. Sabe-se hoje que as razões alegadas pelos americanos e seus aliados britânicos para realizá-la foram mentirosas.
O Iraque de Saddam Hussein simplesmente não tinha as armas de destruição em massa que serviram de pretexto para a guerra.
Um levantamento reconhecidamente criterioso calcula em cerca de 120 000 as mortes de civis iraquianos. Outras fontes falam em meio milhão.
Quem paga por este crime de guerra chancelado por Bush nos EUA e Tony Blair na Grã Bretanha?
Ninguém.
Você pode imaginar o tipo de reação que ações como a Guerra do Iraque provocam entre os sobreviventes da violência ocidental.
Mais recentemente, os drones americanos – os aviões de guerra teleguiados – vem semeando mortes em quantidade pavorosa nos países árabes.
Apenas nos anos de Obama, calcula-se que 500 civis tenham sido mortos pelos drones, muitos deles crianças e mulheres.
No mesmo dia do drama parisiense, os americanos comemoraram a morte, por um drone, do terrorista do Estado Islâmico que se tornou conhecido como Jihadi John. Aparentemente JJ foi quem degolou várias pessoas em medonhas execuções filmadas e postadas na internet.
Brutalidade gera brutalidade.
Bin Laden foi o cérebro por trás de uma mudança radical nas retaliações islâmicas. Ele levou a guerra paradentro dos países ocidentais. O maior exemplo disso foram os atentados de 11 de Setembro.
O que a mídia ocidental quase não noticiou é que Bin Laden virou um ídolo entre os muçulmanos e como tal foi chorado ao ser executado pelos americanos.
Os atentados de Paris obedecem à mesma lógica: transportar os combates para a casa dos inimigos.
O que torna esta guerra ainda mais complicada para os ocidentais é que os soldados islâmicos não se importam de morrer pela causa. Alguns deles se explodiram ontem em Paris.
Sem refletir profundamente sobre as origens do terror islâmico é impossível que a situação mude.
Obama, quando anunciou a morte de Bin Laden, disse famosamente que o mundo ficara mais seguro.
Os episódios de ontem em Paris mostram quanto Obama se equivocou – lamentavelmente.
(Paulo Nogueira/ DCM)
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