Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Globo, Folha e Estadão: a construção da desconstrução


O fogo cerrado não parou por um instante sequer, com toda a máquina da mídia hegemônica 24 horas por dia semeando a ideia de um país próximo do caos e entregue à corrupção. Este bombardeamento contaminou vastas camadas da população e, como se não tivesse nada com isso, o jornal Folha de S. Paulocinicamente diz em editorial (de 08/02) comentando as pesquisas do seu instituto: “O sentimento de desesperança e desaprovação vem acompanhado de perigoso descrédito do poder público”.

As pesquisas e as manchetes

Erros do governo, inclusive na condução política e na comunicação, foram importantes para o atual quadro mas não cabe engano sobre o papel que a mídia desempenha. Alguns analistas dizem, de passagem, que o atual baixo índice de popularidade da presidenta Dilma, verificado pelo Datafolha, só é comparável ao de FHC em 1999. É uma inverdade. Dilma, segundo o Datafolha, tem 23% de bom e ótimo (FHC tinha 13% em pesquisa do mesmo instituto divulgada no dia 19/09/99). Dilma tem 44% de ruim e péssimo (FHC tinha 56%). Além da manchete do jornal Folha de S. Paulo no domingo, dia 8, a atual pesquisa foi destaque noEstadão também no dia 8: “Em meio a crise, avaliação de Dilma despenca, diz pesquisa” (o pessoal do Estadão além de ser contra o governo também é contra a crase – "em meio à crise" leva crase Estadão!). O jornal O Globo destacou na primeira página nesta segunda-feira (09): “Avaliação de Dilma em queda dificulta aprovação de medidas”. E logo abaixo esta chamada do seu principal colunista amestrado, Ricardo Noblat: “Lula, Dilma e PT encenaram farsa eleitoral na campanha do ano passado”. Como no entanto era o comportamento da mídia em 1999, quando FHC enfrentava índices ainda piores do que o de Dilma?

As pesquisas e as manchetes II

Como está no início da primeira nota, nos cinco dias que antecederam a pesquisa do Datafolha, levando em conta as edições impressas de O Globo, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, foram onze manchetes negativas sobre o governo, nenhuma positiva e quatro neutras. Em setembro de 1999 o Datafolha divulgou o resultado de uma pesquisa onde o então presidente Fernando Henrique Cardoso ostentava índices de popularidade e avaliação de governo piores do que os da atual presidenta (leia nota acima). Outros institutos (Vox Populi e Soma) divulgavam índices de ruim e péssimo na avaliação do governo FHC acima dos 60%. A taxa de desemprego era mais do que o dobro da atual e a inflação de 1999 alcançou 20,10% (em 2014 o índice foi de 7,14%). Levando em conta o mesmo critério, pesquisamos as manchetes dos três jornais nos cinco dias que antecederam a pesquisa Datafolha de 1999. Pois mesmo em meio a uma grave crise política e econômica, o governo FHC conseguiu nada menos do que seis manchetes positivas e apenas cinco negativas e quatro neutras. Detalhe: o jornalFolha de S. Paulo divulgou no dia 19 de setembro de 1999 a pesquisa sobre FHC, nos dias 19, 20 e 21 nem O Globo nem O Estado de S. Paulo a repercutiram na capa.

As onze manchetes negativas sobre o governo Dilma nos cinco dias anteriores à pesquisa do Datafolha (de 03 a 07 de fevereiro)

Governo planeja adiar pagamento de abono salarial (03), Folha / Cunha já estreia com desafios ao Governo (03), Globo / Após derrota na Câmara, governo negocia 2º escalão (03), Estadão / Graça deixa Petrobras, nome de substituto divide o governo (05), Folha / Rebelião de diretores antecipa saída de Graça (05), Globo / PT recebeu até US$ 200 milhões de propina, afirma delator (06), Folha / PT recebeu US$ 200 milhões, diz delator; Câmara cria CPI (06), Globo / PT recebeu até US$ 200 milhões em propina da Petrobras, diz delator (06), Estadão / Dilma põe presidente do BB na Petrobras, e ações caem (07), Folha / Bendine tem carta branca, mas ações despencam (07), Globo / Dilma põe presidente do BB na Petrobras; escolha frustra mercado (07), Estadão.

As seis manchetes positivas quando FHC enfrentava crise em 1999 nos cinco dias anteriores à pesquisa do Datafolha (de 14 a 18 de setembro)

FHC ataca “indecisão” do Congresso (14), Folha / FHC: País não aguenta mais a indecisão do Congresso (14), Globo / FHC insiste nas reformas, mas atenua crítica ao Congresso (15), Globo / Tápias* anuncia prioridade para empresa nacional (15), Estadão / Governo vence e dívida de ruralistas não terá anistia (16), Globo / Brasil decide retaliar Argentina (18), Folha. * Tápias era então presidente do BNDES.

Globo proíbe jornalistas de citarem FHC no contexto da Operação Lava Jato

O jornalista Luis Nassif revelou em seu blog o conteúdo de um email enviado a todos os chefes de núcleo do sistema Globo, assinado por Silvia Faria, diretora da central globo de jornalismo com o seguinte conteúdo:

“Assunto: Tirar trecho que menciona FHC nos VTs sobre Lava a Jato

Atenção para a orientação

Sergio e Mazza: revisem os vts com atenção! Não vamos deixar ir ao ar nenhum com citação ao Fernando Henrique”.


Nassif comenta também: “No Jornal Nacional, o realismo foi maior. Não se divulgou a acusação de Barusco, mas deu-se todo destaque à resposta de FHC (http://migre.me/oyiwP) assegurando que, no seu governo, as propinas eram fruto de negociação individual de Barusco com seus fornecedores; e no governo Lula, de acertos políticos.”

Rosenfield e o multiculturalismo

O filósofo Denis Lerrer Rosenfield, articulista de vários jornalões, é convicto de que o multiculturalismo é uma forma disfarçada de marxismo, teoria dos comunistas que, como se sabe, estão embaixo da cama de todos os cidadãos de bem, como o eminente filósofo, para perturbar-lhes o sossego. Sendo assim, o que faz o bravo defensor da família cristã e ocidental? Combate o multiculturalismo, é lógico. E dando prosseguimento a sua batalha ele acusa, nesta segunda-feira (09), em coluna publicada no jornal O Estado de S. Paulo, o multiculturalismo de quase tudo de ruim, inclusive o terrorismo e a complacência em relação ao terrorismo. Segundo o filósofo, não se pode admitir que “toda forma de existência cultural diferente do Ocidente ou qualquer comportamento fosse de igual valor aos princípios e valores universais que orientam as sociedades democráticas, tolerantes e pluralistas”. “Por que esse silêncio atroz em relação às mulheres, na verdade, meninas mulçumanas que são mutiladas sexualmente em vários países africanos por motivos religiosos?”, pergunta o articulista. De passagem ele ainda defende as ações militares de Israel.

Rosenfield e o multiculturalismo II

Ou seja, para o filósofo em questão os valores do ocidente são superiores. A coisa fica um pouco complicada para Denis se ele tiver que explicar porque o ocidente das “sociedades democráticas, tolerantes e pluralistas” com “princípios e valores universais” tão justos, apoiou e financiou por exemplo o apartheid (que oprimia homens e mulheres negros); apoiou e financiou as duas últimas ditaduras fascistas quase até seus estertores (Salazar e Franco) apoiou e financiou os “estudantes do Corão”, grupo que deu origem aos talibãs (que oprimem principalmente as mulheres) para combaterem o governo secular que havia no Afeganistão; apoiou e financiou as ditaduras militares da América do Sul que em termos de tortura fez coisas de deixar o Estado Islâmico chateado de não ter pensado antes; apoia politicamente o regime despótico da Arábia Saudita, onde as mulheres não tem quase nenhum direito? Isso para dar apenas uns poucos exemplos. Mas Denis, devo confessar, tem um forte argumento que ele usou impiedosamente: “Se tivesse exercido seu ‘direito à diferença’ Issur Danielovitch não teria sido Kirk Douglas”. Creio que a mídia hegemônica age assim: reúne no Instituto Millenium centenas de “filósofos”, “antropólogos” e “livres-pensadores” e manda que escrevam. Quem escrever mais besteira passa a ter coluna nos jornais. Só pode ser.

Denis, olha o que diz o Imã

O xeque Adel-Ghani é um imã (autoridade religiosa do islamismo) do Egito e concedeu interessante entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo publicada nesta segunda-feira (09). Entre outras coisas disse o xeque: “Não existe um Estado islâmico. No Islã, não está previsto nada como o que esse grupo propõe ou como o que acontece no Irã, em que o líder religioso é o líder do Estado. O Islã não é uma igreja. Não temos um líder único, um papa, e não temos um Vaticano. O profeta não propunha um Estado religioso, mas uma sociedade em que os ensinamentos de Deus fossem seguidos por mulçumanos, cristãos ou judeus de acordo com seu entendimento comum e não porque um líder qualquer os impõe”. Sobre o grupo Estado Islâmico, o imã acha que deve se usar a força para combatê-los mas ao mesmo tempo também buscar “entender o que tem atraído tantos seguidores para o grupo”. Em busca desta resposta Adel-Ghani cita uma frase de Martin Luther King: “a injustiça em um lugar qualquer representa uma ameaça a justiça em todos os lugares”.

Denis, olha o que diz o Imã II

Respondendo sobre o que leva ao extremismo, disse o imã: “O problema é que, nos últimos 200 anos, os sauditas têm propagado as crenças de Ibn Taymiyyah e Ibn abd al Wahhab (fundadores do salafismo e do wahabismo), que defendiam uma leitura textual do Alcorão, desconsiderando a premissa de compreender os textos dentro dos contextos em que foram escritos”. Veja você Denis Rosenfield, logo os sauditas, tão amigos do ocidente e de suas “sociedades democráticas, tolerantes e pluralistas” com “princípios e valores universais” tão justos!

Para não dizer que não falei de flores

Caminhando sob um sol escaldante em um deserto repleto de Denis Lerrer Rosenfields, Lúcias Guimarães, eis que você se depara com um texto de Vanessa Barbara intitulado Enciclopédia das Ruas.

(Portal Vermelho)

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