Jorge Paz Amorim

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Belém, Pará, Brazil
Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

domingo, 25 de maio de 2014

A entrevista marota


Frutos das refregas verbais e escritas durante e após a revolução francesa, os chamados libelistas construiram um modo de comunicação com o público em que destruíam reputações em troca de dinheiro, capazes de insuflar ainda mais o terror que se disseminara. Depois, migraram para a Inglaterra e espalharam-se pelo mundo deixando um legado que até hoje pode ser observado, principalmente no jornalixo brasileiro, que une a essa forma de escrevinhamento à caça de pistoleiros no velho oeste, também por uns dólares a mais.

A entrevista que o coronel Alacid Nunes concede , hoje, ao professor João Carlos Pereira, publicada em 'O Liberal', é uma prova viva do estrago que esse libelismo argentário faz na reputação de um veículo de comunicação que assume, mesmo tendo o dever precípuo de informar seus leitores, mas sempre degenerando pra nota única que satisfaz a vontade e os interesses dos proprietários do jornal, ainda que o leitor nada tenha a ver com isso.

Mais grave é ver um professor, que cultivar e trnsmitir o que há de mais belo na literatura universal, submeter-se a um papel tartúfico, quando deveria estar ensinado o quanto esses personagens, reais ou fictícios, são nefastos à sociedade e à história. No caso do coronel, o texto editado evita velhacamente o modelo tradicional de entrevistas, com perguntas do entrevistador e respostas do editado e depara-se com um texto escrito exclusivamente pelo jornal, ou por quem está a serviço dele. Aqui e ali é soltada uma ou outra declaração do entrevistado, porém, sem ter muito a ver com que deseja o jornal.

Quase a totalidade das mais ácidas declarações de Alacid são desferidas contra seu desafeto histórico Jarbas Passarinho. O boicote à unção ao governo do DF, o palavrório boçal do ditador João Figueiredo chamando Alacid de traidor, boicote no repasse de verbas a seu governo porque este, em 1982, apoiava o pemedebista Jader Barbalho contra o pedessista Oziel Carneiro, candidato ao governo apoiado por Passarinho, tudo vilmente editado para que o incauto pense ser essa perseguição fruto de alguma manobra do senador Barbalho, até que lá no final o dito cujo é citado, todavia, o alvo principal da imorredoura mágoa alacidista sequer é lembrado.

Menos mal que alguns fatos convenientemente já engavetados de nossa história mais recente vêm à tona e mostram que o polidez do coronel Passarinho não resiste à poeira do tempo. Refletia uma postura autoritária, conservadora e afinada com um grupo que mandou no país na maior parte dos 25 anos de golpe empresarial/militar e era tão truculenta quanto aos do chamado grupo linha-dura. A lamentar, entretanto, que as novas gerações tenham extrema dificuldade em ter a dimensão real dos acontecimentos, se não por outro, pelo motivo que a docência acadêmica alugou seu gatilho para caçar pistoleiros desafetos dos que se acham donos da cidade. Afinal, também nessa guerra, a verdade dos fatos é a maior vítima.
  

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