Por Dan La Botz¹, traduzido para espanhol e publicado em vientosur.info. Tradução para português de Carlos Santos para Esquerda.net
A eleição de Bill de Blasio como presidente da Câmara de Nova York e a vitória de Kshama Sawant em Seattle abanaram a política nos EUA. Mais recentemente, a criação de uma organização política independente a partir do sindicato de professores de Chicago e a campanha de Dan Siegel em Oakland sugerem que algo novo e importante está a caminho de acontecer neste país.
Na primavera de 2012, os 26 mil membros do sindicato de professores de Chicago (CTU), fizeram greve provocando o encerramento das escolas da terceira maior cidade dos Estados Unidos, frequentadas por 350 mil crianças. Esta greve lançou o sindicato contra o presidente da câmara de Chicago, Rahm Emanuel, antigo chefe de gabinete da Casa Branca na presidência de Barack Obama. De uma forma mais geral, a greve dirige-se contra Arne Duncan, secretário de Estado da Educação, que promoveu as “chared schools” [escolas privadas laicas subvencionadas pelas autoridades públicas] e defendeu a harmonização de programas e iniciativas escolares a nível nacional. Duncan tinha sido antes o chefe das Escolas Públicas de Chicago, designado pelo presidente da câmara Richard M. Daley, filho do famoso Richard J. Daley, que dirigiu a cidade pelo Partido Democrata de 1955 a 1976 e que organizou, segundo alguns depoimentos, a fraude que permitiu a John F. Kennedy ganhar as eleições de 1960.
Do combate sindical à luta política
Os professores de Chicago opuseram-se à política escolar
de Duncan e enfrentaram Emanuel numa greve de mais de uma semana que
ganhou o apoio de outros sindicatos, de diversas associações
comunitárias, de pais e de alunos. Esta foi – ainda que ninguém a tenha
reivindicado como tal – uma greve contra o Partido Democrata, realizada
por um sindicato que historicamente tem apoiado os democratas e pelos
professores que majoritariamente votam neles. E o que começou como uma
greve continua agora como uma revolta política que ameaça desafiar o
partido num de seus principais feudos nacionais.
No início de mês de janeiro, o CTU votou a favor de
criar uma organização política independente. A resolução adotada “decide
que o Sindicato de professores de Chicago (CTU), impulsiona uma
organização política independente com aliados importantes de setores
progressistas do movimento operário e associações comunitárias, capaz de
participar nas campanhas eleitorais e legislativas a favor das famílias
trabalhadoras, dos nossos membros ativos e reformados e das nossas
comunidades”. A CTU apoiará os que lutam pela justiça social. Estes
poderão ser democratas já eleitos, novos candidatos democratas, ou
independentes.
Por uma alternativa socialista em Chicago?
A ideia de que um sindicato chave de uma grande cidade
possa romper com o Partido Democrata e apoiar os seus próprios
candidatos às eleições é algo desconhecido na política dos EUA.
Em todo o país, praticamente todos os sindicatos apoiam
os democratas, gerem os telefonemas eletrônicos aos votantes, batem às
suas portas e mobilizam-nos para votar. Ainda que não saibamos
exatamente o que vai fazer a nova organização política do CTU, é
possível que este apoie candidatos independentes. Se este sindicato for
capaz de recrear a nível político a solidariedade que tem desenvolvido
nos centros de trabalho e de apoiar da mesma forma um candidato
independente, isso poderá supor uma evolução importante. Assim, alguns
têm sugerido que a presidenta da CTU, Karen Lewis, afroamericana, se
apresente como candidata contra o presidente da câmara Emanuel.
Ao mesmo tempo, um grupo de cerca de 80 socialistas de
diferentes organizações de Chicago, inspirados pela vitória eleitoral de
Kshama Sawent em Seattle, reuniram-se para ver a possibilidade de uma
candidatura socialista às próximas eleições de sua cidade. Esse grupo
começou a trabalhar em novembro passado, formando comitês para redigir
uma declaração de intenções e organizar uma plataforma, mas também para
avaliar as possíveis candidaturas, encontrar financiamento e apoio
jurídico. Como em Seattle, o seu projeto de plataforma socialista propõe
um aumento do salário mínimo para 15 dólares por hora entre outras
reivindicações. Até agora, os ativistas que participam neste projeto vêm
quase inteiramente da esquerda socialista branca, pelo que será
indispensável ganhar o apoio dos latinos e os afroamericanos para que a
campanha tenha alguma oportunidade de êxito.
Candidatura de esquerda à presidência da câmara de Oakland
Há também algo novo em São Francisco, onde, no princípio
do mês de janeiro, Dan Siegel, advogado e conhecido militante de
esquerda, anunciou que se apresentará como candidato à presidência da
câmara. Desde os anos 60, a baía de San Francisco tem sido uma das
regiões mais radicais do país, que é conhecida pelos seus sindicatos,
pelo seu movimento LGTB, ou pela militância das suas comunidades
étnicas. O atual presidente da câmara de Oakland, Jean Quan, que vem da
esquerda maoísta, foi eleito sob a sigla democrata. Quando o movimento
Occupy se instalou numa praça da cidade, o seu chefe de polícia enviou
os seus homens para desalojar o local usando gás lacrimogêneo, balas de
borracha e granadas de gás pimenta. Quan felicitou o chefe da polícia
pela sua pacífica resolução da situação, o que levou Siegel, um dos seus
assessores de confiança, também de origem maoísta, a romper com ele.
Até aqui, Siegel parece apresentar-se como independente e
a sua reivindicação central na campanha é elevar o salário mínimo para
15 dólares por hora. Também apela ao reforço da segurança em Oakland,
não com mais polícia, mas melhorando as condições de vida dos seus
habitantes. Siegel anunciou a sua candidatura rodeado de dirigentes
sindicais e comunitários que lhe declararam o seu apoio. A sua página de
Twitter apresenta-o como “ativista dos anos 60 e advogado radical” e
“um homem decidido a acabar com o domínio do capital”.
Oakland, uma cidade principalmente operária e
afroamericana, na baía de San Francisco, foi o palco das ações mais
massivas e significativas a nível nacional do movimento Occupy, onde
milhares de ativistas conseguiram bloquear um dos principais portos do
país, em novembro-dezembro de 2011. Os protestos dos afroamericanos
contra a morte de Oscar Grant, no dia de ano novo de 2009 e o movimento
Occupy de 2011 conseguiram mobilizar milhares de pessoas e levaram à
criação de um poderoso núcleo ativista na região da baía de San
Francisco, que conta com uma longa tradição de esquerda.
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