A Província do Pará, 137 anos.

A Província do Pará, o jornal mais importante do Norte durante vários anos, completaria nesta segunda-feira, 25 de março, 137 anos se ainda estivesse em circulação. Fundado em 25 de março de 1876, por Joaquim José de Assis (criador, entre outras publicações, do periódico maçom "O Pelicano" e do periódico republicano "O Futuro", ambos em 1872), A Província do Pará circulou como jornal diário por 125 anos. Durante o ciclo da borracha pertenceu ao então intendente de Belém,Antonio José de Lemos, e sua sede era no prédio onde hoje funciona o Instituto de Educação do Pará, e que foi incendiado pelos inimigo de Lemos, em 1912 .

Em 1947, passou a integrar o grupo dos Diários Associados , tendo sido vendido, em 1997, para o grupo paraense dono da Editora Cejup, à frente Gengis Freire. Foi novamente vendido em 2001, para um certo Miguel Arraes, mais conhecido como Miguel "Barulho", quando deixou de circular.

Fui o último Diretor de Redação de A Província do Pará e tenho a consciência de que o jornal não faliu por culpa da qualidade do seu noticiário. Pelo contrário, A Província do Pará foi uma grande universidade, por onde passaram, nos últimos quarenta anos de sua existência, talentos até hoje reconhecidos na imprensa paraense, como Lúcio Flávio Pinto, Guilherme Augusto Pereira, Ribamar Fonseca, Emanoel Ó de Almeida (o pai), Raimundo José Pinto, de saudosa memória; Raimundo Costa, Nélio Palheta, Ronaldo Brasiliense, Ana Diniz, Aldo Almeida, Carlos Gomes, Carlos Rocque, Palmério Dória, Ségio Buarque, Euclides Bandeira, Mário Couto, o cronista, Olavo Dutra, Edir Proença, Edgar Augusto Proença , Edir Augusto Proença, Carlos Castilho, Rubens Silva, Ivo Amaral, Mário Sobral, Vicente Cecim, Benedicto Monteiro entre outros. O jornal chegou a ter correspondente em Lisboa e Paris.

Mais atrás, tivemos a passagem de Humberto de Campos como secretário na época de Lemos; Luis Gálvez Rodríguez de Arias (São Fernando - 1864, Madri - 1935, que foi jornalista, diplomata, e aventureiro(muitas vezes erroneamente chamado de boliviano) que proclamou a República do Acre em 1899. Ele governou o Acre entre 14 de julho de1899 e 1º de janeiro de 1890, pela primeira vez e entre 30 de janeiro e 15 de março de1900, pela segunda e última vez.

Foi ele quem logo depois do governo boliviano celebrar um acordo de comércio e exportação de borracha, através de um Contrato de Arrendamento com um sindicato de capitalistas estrangeiro, o Bolivian Syndicate, presidido pelo filho do então presidente dosEstados Unidos, denunciou a tramóia. Gálvez recebeu um cópia do documento para ser traduzido para o inglês, como funcionário do Consulado boliviano em Belém.

Levou o assunto ao conhecimento do governador Ramalho Júnior, e revelou seu intento de promover a independência do Acre. O governador apóia a idéia clandestinamente, fornecendo recursos financeiros, armas, munições, provisões, um navio especialmente fretado e equipado com um canhão e uma guarnição de vinte homens. O escritor amazonense Márcio Souza tem um livro sobre essa epopéia, chamado “Galvez, o Imperador do Acre”.

Também atuou em A Província do Pará o famoso Carlos Castelo Branco, natural de Teresina (PI), que manteve no JB uma das mais prestigiadas colunas da imprensa brasileira.

Na última fase de A Província como órgãos dos Diários Associados, estavam à frente da empresa o senador Milton Trindade (Diretor Geral), o jornalista Roberto Jares Martins (Superintendente e, depois, Diretor Geral), e o economista Arthêmio Scardino Guimarães, que foi o seu último diretor-geral,com a morte dos dois outros, além de Rubens Onetti, diretor comercial, posto que também foi ocupado por José Maia e Carlos Rocque.

Era o jornal de menor circulação entre os três diários de Belém, o terceiro mais antigo do Brasil e o quarto da América Latina.

-Antônio José Soares, jornalista e ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará.