Jorge Paz Amorim

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Belém, Pará, Brazil
Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

POVO SABE PROTESTAR, MAS PRECISA DE MOTIVO JUSTO


História recente do País prova que população não teme sair às ruas para fazer pressão; em plena ditadura de Geisel, enterro do metalúrgico Santo Dias da Silva teve multidão de mais de 100 mil pessoas; sob Figueiredo, comícios das Diretas Já marcaram a história; contra Collor, caraspintadas conseguiram objetivo; mas frente a Lula, primeiro ato fracassou



– O fracasso da manifestação convocada no domingo 13, em São Paulo, para protestar contra o ex-presidente Lula despertou comentários de que o povo brasileiro não é afeito a protestar. Nada mais falso. A história do País está repleta de exemplos de manifestações de massa, em praças públicas, com objetivos claros e definidos.



Para não ir tão longe, vale lembrar que, debaixo da severa ditadura do general Erneste Geisel, em 1976, praticamente todos os 100 mil metalúrgicos da cidade de São Paulo acompanharam, em protesto, o enterro do colega Santo Dias da Silva, morto durante uma greve por uma bala disparada pela Polícia Militar. Feita na surdina, a convocação para o ato foi, de per si, um registro de confronto ao regime – e sua realização abriu as portas para os movimentos que surgiram nos anos seguintes, em favor da anistia aos presos e exilados políticos, em 1978, e, até mesmo, a campanha das Diretas Já, em 1984.

Os comícios pelas Diretas Já foram, nos tempos recentes, os maiores exemplos de mobilização popular que se têm notícia nos últimos 30 anos. Atos com nunca menos que 50 mil pessoas e até 300 mil pessoas, como no caso da Candelária, no Rio de Janeiro, se espalharam, sequencialmente, pelas capitais brasileiras. A classe média, que até ali ficara em casa, resolveu participar e o que se viu foi um sucesso que entrou para a história. O movimento não alcançou, por conta de manobras dos políticos no Congresso, o seu objetivo, mas resultou na eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, batendo o retrocesso representado pela candidatura de Paulo Maluf. Dali, com José Sarney, eleito vice-presidente, no governo, conseguiu-se, finalmente, cinco anos depois, a primeira eleição para presidente em 28 anos.

A classe média outra vez foi preponderante no jogo de pressão das ruas para encurtar o mandato do então presidente Fernando Collor, eleito em 1989. Apenas dois anos depois, cercado por denúncias de corrupção, ele viu jovens estudantes do segundo grau e de cursos superiores saírem a praça pública, outra vez por todo o País, com as faces pintadas de verde e amarelo, e sempre vestidos de preto. Eram os caras-pintadas que estavam dando, com suas numerosas manifestações, o motivo que faltava para o Congresso votar o impeachment de Collor.

Na semana passada, agora sob a bandeira de protestar contra o ex-presidente Lula, uma manifestação convocada para ser feita em São Paulo fracassou. Apareceram cerca de 20 pessoas com seus cartazes chamando Lula de corrupto. Já é certo que nova manifestação será convocada, desta vez com mais apoio dos partidos políticos que fazem oposição ao governo federal. Como prova a história, se a população considerar a bandeira justa, vai estar junto. Mas pelo jeito, a julgar pelo primeiro ensaio dessa batalha, não há tanta clareza assim de que perseguir Lula em praça pública seja mesmo uma ordem que galvanize a opinião pública.

(Brasil/247)

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