Brasília – O número de pessoas em situação de pobreza extrema, ou seja,
com renda de até R$ 70 por mês, poderia representar menos de 1% da
população brasileira, se o Programa Brasil Carinhoso tivesse sido
implementado no ano passado. O cálculo é resultado de uma simulação
divulgada hoje (26), em Brasília, por pesquisadores do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Atualmente, as famílias vivendo em situação de pobreza extrema
representam 3,4% dos mais de 190 milhões de brasileiros. Pelas contas do
Ipea, sem os benefícios de complemento de renda pagos pelo Programa
Bolsa Família, essa taxa seria superior a 5%.
Rafael Guerreiro Osório, pesquisador do instituto, explicou que o
possível “salto de efetividade” do programa - que objetiva a erradicação
da pobreza extrema - é explicado pelas mudanças no cálculo do
benefício. Mesmo recebendo recursos do Bolsa Família, muitas famílias
não tinham renda própria ou os rendimentos eram tão baixos que, apesar
da transferência do valor, seus integrantes não conseguiam chegar aos R$
70 mensais.
“A introdução do Programa Brasil Carinhoso em 2012 alterou o desenho de
benefícios e considera famílias que não chegariam à linha mínima de
renda e calcula quanto falta”, disse Osório. Segundo argumenta, “não é
possível calcular o benefício apenas por família, tem que considerar a
renda per capita para ser efetivo”.
O Programa Brasil Carinhoso foi lançado em 14 de maio passado
pela presidenta Dilma Rousseff, com um pacote de medidas para tirar da
miséria crianças até 6 anos de idade e previsão de investimentos de R$
10 bilhões até 2014.
Como o foco do Brasil Carinhoso está voltado para as famílias que não
conseguiriam elevar suas rendas mesmo com as transferências calculadas
pela composição familiar, o valor dos benefícios passou a considerar a
diferença entre a renda com os repasses tradicionais do programa e a
faixa mínima definida como de extrema pobreza (R$ 70 per capita, mensais).
O pesquisador destacou que as contas que apontam uma redução da taxa da
extrema pobreza no país são resultados de simulações. “Não é uma
previsão de futuro. Não podemos afirmar que a taxa será de menos de 1%,
mas, com certeza, podemos afirmar que a redução de pobreza, pela mudança
do desenho de benefícios, será bem maior do que a que seria obtida com
os desenhos anteriores”.
Desde a criação do Bolsa Família, as regras de concessão de benefícios e
os reajuste de valores já foram alteradas várias vezes. As mudanças
mais significativas, segundo analistas sociais, foram a extensão dos
cálculos para jovens de 16 e 17 anos, em 2007, e a ampliação do número
de crianças consideradas para o cálculo do repasse, que passou de três
para cinco em 2011.
Na avaliação dos pesquisadores do Ipea, a ampliação da participação de
famílias com crianças e jovens na distribuição dos benefícios sinaliza
um novo modelo de política social. De acordo com estas avaliações, os
investimentos sociais que, durante a década de 1990, estavam voltados
para a população idosa, passam a se concentrar nas crianças e jovens.
“Olhando qualquer indicador social, a taxa de pobreza infantil é
superior à das outras linhas, mesmo quando se considera a renda
doméstica dividida igualmente entre as pessoas de uma família”, disse
Marcelo Neri, presidente do Ipea.
Para Neri, a política social brasileira “ainda é mais curativa e pouco
preventiva”, mas os indicadores têm sinalizado mudanças nos últimos dez
anos. “Os indicadores ainda mostram que as crianças estão em uma liga
inferior, mas há sinais de que este gap [palavra inglesa que
significa lacuna, nesse caso, a diferença entre as faixas etárias] está
diminuindo e o Brasil Carinhoso é um diferencial”, concluiu.
(Agência Brasil)
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