"Na manhã de hoje de 1889, Nellie Bly começou sua viagem.
Júlio Verne não achava que aquela mulherzinha linda conseguisse dar a volta ao mundo, ela, sozinha, em menos de oitenta dias.
Mas Nellie abraçou o planeta em setenta e dois dias, enquanto ia publicando, reportagem após reportagem, o que via e vivia.
Aquele não era o primeiro desafio da jovem jornalista, nem foi o último.
Para escrever sobre o México, se mexicanizou tanto que o governo do México, assustado, a expulsou.
Para escrever sobre as fábricas, trabalhou como operária.
Para escrever sobre as prisões, se fez prender por roubo.
Para escrever sobre os manicômio, simulou loucura, e atuou tão bem que os médicos a declararam louca de pedra; e assim conseguiu denunciar os tratamentos psiquiátricos que padeceu, capazes de enlouquecer qualquer um.
Quando Nellie tinha vinte anos, em Pittsburgh, o jornalismo era coisa de homens.
Naquela época, ela cometeu a insolência de publicar suas primeiras reportagens.
Trinta anos depois publicou as últimas, desviando de balas na linha de fogo da Primeira Guerra Mundial."
(Eduardo Galeano)
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