Foi constrangedor ver senadores petistas, ontem, ir ao microfone para prestar solidariedade ao senador Demóstenes Torres, justo esse que sempre posou de probo e não tinha dúvidas em apontar o dedo e acusar qualquer um que fosse do PT de corrupto. Ontem, com humildade velhaca e bastante cinismo aceitou a solidariedade daqueles que vivia a acusar de tomar o país de assalto.
Ninguém aqui está pregando um parlamento em chamas, afinal, o Poder Legislativo é o do diálogo civilizado e da convivência de visões opostas, daí a necessidade de encontrar-se um ponto que equilibre um dia-a-dia marcado pela não agressão.
No entanto, não é a hipocrisia o parâmetro que norteará essa convivência, muito menos o esforço unilateral para que se mantenha um mínimo de civilidade. Já tivemos o exemplo do ex-senador Arthur Virgílio, que até dar porrada no presidente Lula prometeu, seguido do próprio Demóstenes sempre pronto a acusar alguém de improbidade, mesmo que a acusação depois se mostrasse leviana. Então, com esses dois exemplos quer-se mostra que a oposição não pode sair por aí atirando a esmo. Até mesmo porque, depois do livro de Amaury Ribeiro Jr., constatou-se que ela tem mais a defender-se do que a atacar
Demóstenes já havia mostrado do que é capaz quando prestou-se a protagonizar a farsa do grampo sem áudio, cujo resultado foi o afastamento dos delegados Paulo Lacerda e Protógenes Queiroz dos calcanhares dos que realmente assaltaram os cofres públicos. Portanto, não é dotado de toda aquela inocência encenada ontem na tribuna do Senado Federal, da mesma forma que sua ligação com um bandido que se encontra na cadeia não é obra do acaso. A cozinha importada dos EUA, dada de presente pelo meliante ao senador do DEM, expõe isso e não há chicana retórica que limpe essa barra, como tentou fazer ontem, com impressionante defaçatez, o outrora paladino da moralidade, ao dizer que, até 2007, as atividades de Carlinhos Cachoeira eram legais.
Não eram. Apenas eram toleradas enquanto a mão pesada da lei não se abatia sobre elas. A partir da decisão do STF, ficou patente que o passado, o presente e o futuro daqueles que vivem dessas atividades são consideradas irremediavelmente à margem da lei, inclusive com consequências políticas e morais para quem vier a ter estreitas relações de compadrio com essa marginalidade. Mesmo que faça fita de bom moço.
Portanto, quando um parlamentar petista sucumbe ao corporativismo legislativo e conforta alguém que tem toda a obrigação de vir a público e retratar-se, em vez de desfiar inverossímil cantilena auto comiserativa, está de certo modo contribuindo para que figuras sombrias continuem indevidamente na cena política o que, ao contrário do que possa parecer, não é bom para a democracia.
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