É bem mais que isso

Para o dono do PMDB local, Jader Barbalho, "democracia se faz com votos". É o caso de perguntar: e votos, faz-se com que? A impressão que passa, nas declarações do ex-deputado, é que ele imagina ser o voto do eleitor uma espécie de procuração ao votado para que faça o que bem entenda até a próxima eleição, quando se estabelece novamente a relação de dependência do votante no votado.
Claro que essa concepção guarda um certo desdém com a sociedade organizada e sua participação legítima nas decisões governamentais, não por acaso, o PMDB, partido de Jader, abandonou temporariamente a base de apoio ao governo Dilma e mostrou-se contrário à proposta de financiamento público das campanhas eleitorais, esta visando utilizar os fundos a que os partidos têm direito como única fonte de gastos nas eleições, acabando com doações privadas a candidatos.
É isso que Jader expõe na sua "democracia se faz com votos", ao admitir subrepticiamente que votos faz-se com máquina eleitoral e estas são turbinadas às custas do poder econômico, logo, quem gasta mais está sempre na frente da fila das prioridades, daí não serem apenas os parcos recursos a causa das desigualdades regionais, mas, o estabelecimento de uma relação política que exacerba as desigualdades sociais, ao reproduzir nas mais diversas regiões o aparecimento de elites totalmente descompromissadas com os reais problemas das populações mais pobres.
Também não é coincidência que Barbalho tenha citado, como exemplo de fato que aguça o sentimento separatista, a retirada da derrocada do pedral de Lourenço das obras do PAC sugerindo que isto é fruto da discriminação que o estado sofre politicamente. Nenhuma referência ao superfaturamento inicial, muito menos às responsabilidades que deveria ter com a obra a Vale, maior empresa privada com negócios no território paraense e igualmente maior beneficiária da referida obra.
Certamente, o empenho barbálhico em favor da Vale não será esquecido em uma até aqui improvável próxima eleição que ele ainda venha a participar. Todavia, vale(sem trocadilho) o exemplo que ilustra como são "fabricados" os votos que fazem a democracia dos sonhos de Jader Barbalho.