Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Belo Monte, a floresta e a árvore

Por Rogério Cezar de Cerqueira Leite


Que carnaval estão fazendo os ambientalistas e ecopalermas em torno da futura usina de Belo Monte, a ser implantada no médio Xingu, na Amazônia.

O primeiro crime, segundo eles, seria o sacrifício de 500 km² de mata, ou seja, a mesma área que, em média, tem sido desmatada a cada dois dias neses últimos anos, devido ao comércio de madeiras e à invasão da soja e do gado na Amazônia.

Esse exército extemporâneo de Brancaleone é composto de conservacionistas de diversas espécies. Além de uma tribo de índios locais e de bem-intencionados, porém mal informados, estudantes e intelectuais, veem-se artistas de Hollywood e de outras culturas, malabaristas, fanfarrões e pseudointelectuais. Será que esses senhores deixaram de comprar móveis de mogno, ou se manifestaram perante seus governos, ou boicotaram a carne e a soja produzidas na Amazônia?

Será que percebem que a área alagada pelo projeto Belo Monte corresponde a tão somente 0,01% da Amazônia brasileira e que bastariam 0,025% do rebanho nacional de gado para invadi-la, dentro da média atual de ocupação? Ou seja, da maneira como está planejada Belo Monte, usina de fio d’água, não há no Brasil melhor opção do ponto de vista de sustentabilidade, que combine condições ecológicas e também financeiras.

Alguns talvez argumentem que, somando vários 0,01% do território da Amazônia, então se ocuparia parcela apreciável do território amazônico.

Ah, que bênção seria se tivéssemos mais uma meia dúzia de Belo Montes! Mas, infelizmente, não existem tais riquezas. Tudo bem, vão dizer os mais inteligentes e bem-intencionados “ignocentes” (neologismo composto por 50% de inocência + 50% de ignorância), mas e a biodiversidade?

Ora, qualquer espécie que esteja espontaneamente restrita a um território de 500 km², excetuando-se algumas confinadas a pequenas ilhas, já está em extinção. Só um ignorante pode pensar em perda de biodiversidade nessas circunstâncias. E é claro que muitos espécimes vão sucumbir, milhares, se não milhões de formigas, carunchos e talvez até alguns mamíferos. Em compensação, 20 milhões de brasileiros poderão ter luz em suas casas, muitos outros locais passarão a ter benefícios do progresso, poderão ver pela TV o “Programa do Ratinho”. Indústrias geradoras de emprego serão implantadas. É isso que os “ignocentes” não percebem. Eles veem a árvore, mas não percebem a floresta onde ela está inserida, sem a qual não pode a árvore sobreviver.

Quanto à questão social, é preciso lembrar que o caso de Belo Monte é muito diferente do de Três Gargantas, na China, onde a densidade da população ribeirinha era extremamente elevada. O governo chinês admite que precisou realocar 1 milhão de habitantes; outras organizações falam em 2 e até 3 milhões.
Em contraste, considera-se que, em Belo Monte, apenas dois ou três milhares de habitantes são computados e que, na mudança, ganhariam significativamente quanto a infraestrutura e conforto pessoal. Os índios da região amazônica são, em origem, seminômades, deslocando-se periodicamente sempre que recursos naturais se escasseiem devido ao extrativismo a que eles mesmos recorrem.

Portanto, dos pontos de vista cultural, psicológico e até mesmo material, contrariamente ao que pretendem alguns ambientalistas, o índio pouco ou nada sofrerá.

Vejamos por que são tão ingênuos esses bem-intencionados verdolengos. Se o Brasil for impedido de ampliar o aproveitamento do seu potencial hidroelétrico, será forçado a recorrer ao combustível fóssil, pois a energia eólica, embora desejável sob vários aspectos de sustentabilidade, não oferece segurança de fornecimento acima de certo nível de participação em um sistema integrado.

Além do mais, a distribuição de ventos pode mudar com as inexoráveis mudanças climáticas, devido ao aquecimento global. E, se jamais o pré-sal vier a se concretizar, não haverá como convencer os líderes governamentais de que usinas termoelétricas a óleo combustível serão prejudiciais à humanidade.

Será que tais ambientalistas não percebem que não deixam alternativa ao país senão o uso de combustíveis fósseis, o que acarretará, inelutavelmente, embora a longo prazo, a desertificação da Amazônia, dentre outras catástrofes? Com isso, não será apenas a meia dúzia de saimiris que perecerá nos 500 km 2 da usina Belo Monte, mas toda, ou quase toda, a biodiversidade da Amazônia e do resto do planeta.

Não percebem esses “ignocentes” que a usina e suas eventuais congêneres constituem a melhor arma que têm o Brasil e a humanidade para combater o aquecimento global e, com isso, defender a integridade da floresta Amazônica e das demais matas de todo o planeta?
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*ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE , 78, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), presidente do Conselho de Administração da ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron) e membro do Conselho Editorial da Folha.
Fonte: Folha de SP

(O Esquerdopata)

6 comentários:

Anônimo disse...

Quem é o paspalho esclerosado para criticar os defensores da Amazônia? Deve ser um daqueles paulistas representantes dos barões do café. Pô, Jorge como é que divulgas um pulha desses! Concordas com as asnices que ele escreveu? Só faltava essa!!!

Na Ilharga disse...

Incrível! Não há um argumento contestando só "paspalho", "representante dos barões do café"(será café Diário? Bom, mas aí já mexe com o Barbalho), "pulha", "asno". Por favor, uma linhazinha argumentativa.

Anônimo disse...

Aí vai, apenas um: dizer que nenhum índio será atingido pela obra supera qualquer estultícia do articulista da Falha, digo, Folha. Nega cegamente estudos antropológicos e hidrológicos que demonstram exatamente o contrário. E aí, contestas? Apresenta argumento para defenderes o físico que só conhece a Amazônia no mapa. Se tiveres dificuldades te mandarei estudos sérios. Em inglês e também português.

Na Ilharga disse...

Não morro de amores por ele, mas é inegável que essa balela parte de uma visão idílico/alencariana que se tem, como se os índios vivissem em um conjunto habitacional do tipo BNH. Se és daqui da região, certamente conheces o modo de vida dessas nações, grande parte delas, de fato, vivendo do extrativismo por isso deslocando-se constantemente, apenas para ficar no teu argumento.
Quanto aos "estudos", espero que não tenham sido produzidos pelo James Cameron, muito menos traduzidos pela Maitê Proença. De todo modo, sem querer desqualificar o que não conheço, espero que não tenham sido financiados por empresas petrolíferas ou de energia nuclear, as únicas no mundo a condenar radicalmente a energia hidrelétrica. Claro, com a ajuda de muita gente bem intencionada e ainda marcada pelo trauma da Hidrelétrica de Tucuruí. Mas, isso já é outra história. Nesse momento, o que causa espécie é uma luta ter como símbolo um cineasta medíocre, que viajou milhares e milhares de quilômetros para lutar pela preservação da Floresta Amazônica e não disse palavra alguma a respeito do que ocorreu no Golfo do México, uma das maiores catástrofes ambientais da história da humanidade.

Anônimo disse...

Por que tentar desqualificar os estudos sem nem os conhece, como afirmas. Os estudos embasaram a posição do Ministério Público Federal no Estado do Pará. Verás fundamentos de difícil contestação. Te digo que isso, aos defensores da obra, pouco interessa. Tudo está decidido. A presidente Dilma definiu que Belo Monte sairá de qualquer maneira. Aí, quem discorda tem apenas de lutar para que amanhã não se repitam os mesmos impactos sociais, ambientais e econômicos deixados com a usina de Tucuruí.

Na Ilharga disse...

Êpa! Não desqualifiquei e ressaltei isto. Acho que Belo Monte é o oposto de Tucuruí, esta imposta pela ditadura militar sem qualquer mitigação aos seus impactos nefastos; enquanto Belo Monte Passou por dezenas de audiências públicas e igual número de condicionantes à sua realização. Penso ser esse o maior desafio, fazer com que o Consórcio Norte respeite esses compromissos assumidos, assim como é fundamental o uso dos R$3 bilhões na reparação de alguns impactos. Enfim, espero que depois de concluida Belo Monte seja bem mais do que geração e fornecimento de energia limpa, mas um modelo de realização de obra de infra estrutura que o país tanto precisa.