Transferência de paternidade

Em 1964, os líderes da direita brasileira incentivaram os militares a dar o golpe crentes que, após a derrubada de Jango, o poder seria entregue de mão beijada à UDN, a sigla preferencial desses conservadores.
Quando perceberam que os golpistas fardados tinham adorado o sabor do poder usurpado e não compartilhariam fatias dessa iguaria, cedendo apenas migalhas, esses ícones da direita como Carlos Lacerda, Magalhães Pinto e outros resolveram procurar os depostos ou impedidos de prosseguir na vida política do país para tentar organizar um movimento de resistência, movimento desfeito pela repressão, atravé de ações que até hoje causam estranheza pelos lances pouco afeitos ao respeito a lei que as caracterizaram.
Lembrei desse comportamento elasticamente oportunista de alguns políticos, ao ver o conluio tucano-pemedebista tentar devolver ao governo do estado a responsabiidade da burrice travestida de esperteza que cometeram, a quando da votação do émpréstimo, na Assembléia Legislativa, de R$366 milhões concedidos pelo BNDES, a título de compensação pela perda de receitas com as desonerações tributárias feitas para enfrentar a crise mundial do ano retrasado.
A fim de fazer mesquinha disputa política contra a governadora Ana Júlia esse conluio, liderado por José Megale, Parsifal Pontes e Helder Barbaho conseguiu aprovar proposta que tirava os recursos do governo do estado para as prefeituras, apesar de ser o Executivo estadual o fiador e o beneficiário direto daquees recursos, pois estes compensavam perda de receita dos estados.
Agora, quando querem fazer a fila andar com a liberação de mais recursos, tramam devolver ao Estado a tarefa de "assinar convênios" que viabilizem a liberação de mais recursos. E isto porque sabem o tamanho da encrenca em que meteram o financiamento de programas importantes, que correm o risco de paralisia por falta de prestação de contas, sem o que o BNDES não liberará mais um centavo.
Como em 64, o caminho dos golpistas do conluio tucano-pemedebista da Assembléia do Pará é sem volta. Foi uma opção clara pelo confronto naquele momento, resultando disso um autêntico confisco de recursos de outra instância de poder, mas que não exime jamais a obrigação dessa prestação de contas, por parte de quem se apropriou de recursos alheios ao seu orçamento. Obrigação intransferível, diga-se. Como na velha marchinha carnavalesca, "Toma que o filho é teu..."