A lógica da razão cínica

A razão cínica, que permeia uma sociedade movida por dinheiro, nos ensina que advogados são tanto mais imprescindíveis quanto mais forem seus integrantes diferentes de seres humanos como D. Helder Câmara ou Paulo Freire e mais parecidos com Carlinhos 'Cachoeira' e Demóstenes Torres. Por isso, a revelação de que os honorários do advogado Márcio Thomas Bastos, para defender o contraventor, estão na faixa de R$15 milhões causa aquele pasmo deslumbrado e provoca uma reação não menos cínica do citado advogado.
Com efeito, pouco importa a origem do dinheiro que remunerará o trabalho do ex-ministro da justiça, importa, isto sim, que temos mais uma celebridade ostensiva desfiando frivolidades diante de uma selva de microfones e até, quem sabe, daqui a um tempo, oferecendo novos argumentos demonstrando ser bobagem defender o projeto de lei que taxa as grandes fortunas e destina esses recursos à saúde.
Ainda hoje, esse tem sido o ritmo que dança a sociedade, resumindo-se naquilo que Marx expos no Manifesto Comunista, "Onde quer que tenha conquistado o Poder, a burguesia calcou aos pés as relações feudais, patriarcais e idílicas. Todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a seus "superiores naturais" ela os despedaçou sem piedade, para só deixar subsistir, de homem para homem, o laço do frio interesse, as duras exigências do "pagamento à vista". Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno- burguês nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e implacável liberdade de comércio. Em uma palavra, em lugar da exploração velada por ilusões religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta, cínica, direta e brutal". É isso!