Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

domingo, 20 de janeiro de 2019

Socorro ! Agrotóxico da soja extermina 80% das abelhas no RS



Doutor em ciências biológicas, Osmar Malaspina estuda abelhas há 40 anos e integrou a equipe de pesquisa. Segundo ele, o problema está na utilização incorreta do produto. Esta também é a denúncia do coordenador da Câmara Setorial de Apicultura do estado, Aldo Machado. “É um problema que vem se agravando de dois anos para cá, e não tem ninguém fiscalizando. O Ministério Público não está se mexendo, o governo também não”, diz.

De acordo com Machado, nos últimos meses foram registrados casos de extermínio de colmeias nos municípios gaúchos de Alegrete, Bagé, Caçapava do Sul, Cruz Alta, Frederico Westphalen, Santana do Livramento, Santiago e São José das Missões.

O coordenador afirma que produtos à base de fipronil estão sendo usados na fase da floração da cultura. É aí que está o problema, diz Machado, que também é apicultor: as abelhas visitam as áreas de soja, coletam néctar contaminado e retornam às caixas. “O produto mata por contato e ingestão. Qualquer outro inseto que encoste nessa abelha morre também”.

Para Aldo Machado, alguns produtores de soja estão fazendo a aplicação de fipronil juntamente com dessecantes para economizar diesel e mão de obra. “O correto seria aplicar os dois produtos separadamente, para que não haja fipronil nas lavouras quando as abelhas forem atrás das flores”, diz.

Contando os prejuízos

Em Santiago (RS), apicultores estimam ter perdido 200 colmeias, diz Machado. “O presidente do Sindicato de Cruz Alta me contou que cerca de 1.000 colmeias devem ser perdidas só no município”.

Segundo o coordenador da Câmara Setorial, um laudo da Universidade de Santa Maria estima o prejuízo por colmeia em R$ 810. “O produtor que aplica de forma incorreta para economizar está ganhando, e o apicultor, pagando a conta”, afirma.

Cautela

Samuel Roggia, pesquisador de Entomologia da Embrapa Soja, diz que não é possível afirmar que seja esse produto o causador das recentes mortes das abelhas no Rio Grande do Sul sem que antes seja feita a análise de amostras dos insetos mortos.

Roggia explica que o fipronil é um inseticida bastante utilizado porque tem amplo espectro, controlando várias pragas ao mesmo tempo. “Ele apresenta um efeito residual no ambiente um pouco mais longo do que outros produtos, mas é bastante seguro contra seres humanos e animais de sangue quente”, afirma. Por essa razão, é também usado como ingrediente de inseticidas de uso doméstico.

Segundo o pesquisador, a aplicação de fipronil na cultura de soja tem melhor efeito sobre o controle de insetos como o bicudo em fases anteriores ao florescimento.
Polêmica no mundo

Pesquisadores da Universidade de Exeter, no Reino Unido, constataram que o fipronil foi responsável pela morte de milhares de abelhas na França, entre 1994 e 1998 — os casos começaram um ano após o lançamento do produto. Órgãos reguladores da União Europeia proibiram o uso do agroquímico no cultivo em 2017.

Malaspina diz que simplesmente vetar o uso no Brasil é mais difícil. “Não temos a mesma realidade da Europa. Lá, eles têm seis meses de frio intenso, o que extermina a maioria das pragas. Aqui, com clima tropical, elas estão presentes o ano inteiro. Precisamos conscientizar sobre o uso correto. Isso diminuiria muito o impacto”, salienta.

Na Cidade do Cabo, capital legislativa da África do Sul, mais de um milhão de abelhas teriam morrido por causa de fipronil em 2018. Um dos apicultores afetados, Brendan Ashley-Cooper perdeu cerca de 40% da produção. As suspeitas, na época, eram de que uma vinícola local teria usado o produto para se livrar de formigas.

As abelhas não foram as únicas vítimas do inseticida. Em 2017, uma empresa contratada para desinfetar granjas fez uso ilegal do produto e contaminou milhões de ovos. Ao todo, 17 países foram atingidos e os ovos precisaram ser retirados das gôndolas dos supermercados.
(Canal Rural/ Blog da Cidadania)

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