A estratégia da direita consiste em jogar vários candidatos no ventilador e apostar no que tiver a melhor largada. Confiam que a Justiça e o Ministério Público impeçam a corrida dos adversários.
Já a estratégia do PT é complicada pois tem que levar em conta diversos fatores.
Fator 1 – mídia e Judiciário
Basta se mencionar um candidato do PT, para o Ministério Público e a Polícia Federal sacarem do supermercado das delações premiadas uma delação qualquer, induzida ou espontânea, mas em geral apenas declaratória, para fuzilar o atrevimento.
Provavelmente foi o principal fator a definir a estratégia de Lula, de postergar ao máximo o anúncio da chapa do PT.
Lula sai candidato com Fernando Haddad de vice e Manoela D’Ávila de regra três. A tática política da mídia-Judiciário já se desgastou. E Lula continuou crescendo. Agora, terá que atirar em dois, Lula e Haddad. Até agora, foram disparados apenas balas de festim contra Haddad, sem nenhum significado jurídico e político maior.
Basta se mencionar um candidato do PT, para o Ministério Público e a Polícia Federal sacarem do supermercado das delações premiadas uma delação qualquer, induzida ou espontânea, mas em geral apenas declaratória, para fuzilar o atrevimento.
Provavelmente foi o principal fator a definir a estratégia de Lula, de postergar ao máximo o anúncio da chapa do PT.
Lula sai candidato com Fernando Haddad de vice e Manoela D’Ávila de regra três. A tática política da mídia-Judiciário já se desgastou. E Lula continuou crescendo. Agora, terá que atirar em dois, Lula e Haddad. Até agora, foram disparados apenas balas de festim contra Haddad, sem nenhum significado jurídico e político maior.
Fator 2 – as coligações
A postergação da escolha, mais a prisão de Lula, afetaram as coligações. Mas o acordo firmado com o PSB comprovou que a candidatura Lula não seria apenas simbólica. A popularidade avassaladora de Lula no Nordeste facilitou os acordos e o alinhamento dos governadores em torno de seu nome.
A postergação da escolha, mais a prisão de Lula, afetaram as coligações. Mas o acordo firmado com o PSB comprovou que a candidatura Lula não seria apenas simbólica. A popularidade avassaladora de Lula no Nordeste facilitou os acordos e o alinhamento dos governadores em torno de seu nome.
Fator 3 – a transferência de votos
Faltava definir o ungido. O perfil do candidato, segundo a executiva do partido, deveria ser de alguém que fosse leal e suficientemente maduro para que a candidatura não subisse à cabeça.
Dentro do PT, dois nomes eram evidentes: o ex-governador da Bahia Jacques Wagner e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.
De Wagner, dizia-se da vantagem de trazer consigo o eleitorado nordestino e a facilidade em falar para as classes mais humildes, com seu jeito paternal.
De Haddad, o fato de representar a modernidade do partido.
Deu Haddad.
Tempos atrás, o próprio Haddad andou divulgando uma proposta de dobradinha com Ciro Gomes – que não teria sido aceita por Ciro. À luz dos últimos fatos, não se sabe o que havia de real ou de manobra do PT para não expor seu candidato às feras midiáticas.
Faltava definir o ungido. O perfil do candidato, segundo a executiva do partido, deveria ser de alguém que fosse leal e suficientemente maduro para que a candidatura não subisse à cabeça.
Dentro do PT, dois nomes eram evidentes: o ex-governador da Bahia Jacques Wagner e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.
De Wagner, dizia-se da vantagem de trazer consigo o eleitorado nordestino e a facilidade em falar para as classes mais humildes, com seu jeito paternal.
De Haddad, o fato de representar a modernidade do partido.
Deu Haddad.
Tempos atrás, o próprio Haddad andou divulgando uma proposta de dobradinha com Ciro Gomes – que não teria sido aceita por Ciro. À luz dos últimos fatos, não se sabe o que havia de real ou de manobra do PT para não expor seu candidato às feras midiáticas.
Fator 4 – riscos e possibilidade de Haddad
Não fosse petista, Fernando Haddad simbolizaria todas as virtudes que a direita definiu para a política e que não encontra em nenhum dos seus candidatos. É um filho direto da Universidade de São Paulo, formado em filosofia, economia e direito.
Suas gestões– no Ministério e prefeitura- significaram o reencontro das políticas públicas com diagnósticos modernos e resultados efetivos, um banho de inovação inédito, uma tentativa de ir às raízes dos problemas que só tem paralelo nos anos 60, com as reformas de base de Jango e com as reformas institucionais do período Castelo Branco.
Por exemplo, a boa gestão sugere formas de recompensar a eficiência. O orçamento da educação impedia essas sofisticações. Haddad então criou fundos para beneficiar projetos, gestores que apresentassem resultados concretos.
Espalhados por todo o país, os vestibulares eram um desafio para a própria inclusão dos alunos. Transformou o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) em um vestibular nacional, vencendo desafios tecnológicos e o boicote sistemático da mídia, disposta a escandalizar qualquer problema normal na implantação de grandes sistemas.
Havia enorme desafio para a educação inclusiva, o maior dos quais a resistência da indústria das APAEs (Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais) e das sociedades ditas beneficentes. Haddad criou um modelo pelo qual as APAEs seriam remuneradas por cada aluno que apoiassem nas escolas regulares – onde se dá a inclusão. O programa passou a atender um número crescente de alunos com deficiência, chegando aos 900 mil. Cada escola que aderiu ao sistema passou a contar com uma retaguarda de ferramentas tecnológicas do MEC para atender os alunos.
Trata-se, provavelmente, do maior feito público anônimo da história moderna do país. Tão anônimo que nem a presidente Dilma Rousseff tinha informações sobre o programa. A ponto de atender às pressões das APAEs para mudar a Meta 4 do Plano Nacional de Educação, que versava sobre o tema.
Reside nesse antipopulismo e pudor em mostrar o que faz a maior virtude e a maior vulnerabilidade de Haddad.
Não fosse petista, Fernando Haddad simbolizaria todas as virtudes que a direita definiu para a política e que não encontra em nenhum dos seus candidatos. É um filho direto da Universidade de São Paulo, formado em filosofia, economia e direito.
Suas gestões– no Ministério e prefeitura- significaram o reencontro das políticas públicas com diagnósticos modernos e resultados efetivos, um banho de inovação inédito, uma tentativa de ir às raízes dos problemas que só tem paralelo nos anos 60, com as reformas de base de Jango e com as reformas institucionais do período Castelo Branco.
Por exemplo, a boa gestão sugere formas de recompensar a eficiência. O orçamento da educação impedia essas sofisticações. Haddad então criou fundos para beneficiar projetos, gestores que apresentassem resultados concretos.
Espalhados por todo o país, os vestibulares eram um desafio para a própria inclusão dos alunos. Transformou o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) em um vestibular nacional, vencendo desafios tecnológicos e o boicote sistemático da mídia, disposta a escandalizar qualquer problema normal na implantação de grandes sistemas.
Havia enorme desafio para a educação inclusiva, o maior dos quais a resistência da indústria das APAEs (Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais) e das sociedades ditas beneficentes. Haddad criou um modelo pelo qual as APAEs seriam remuneradas por cada aluno que apoiassem nas escolas regulares – onde se dá a inclusão. O programa passou a atender um número crescente de alunos com deficiência, chegando aos 900 mil. Cada escola que aderiu ao sistema passou a contar com uma retaguarda de ferramentas tecnológicas do MEC para atender os alunos.
Trata-se, provavelmente, do maior feito público anônimo da história moderna do país. Tão anônimo que nem a presidente Dilma Rousseff tinha informações sobre o programa. A ponto de atender às pressões das APAEs para mudar a Meta 4 do Plano Nacional de Educação, que versava sobre o tema.
Reside nesse antipopulismo e pudor em mostrar o que faz a maior virtude e a maior vulnerabilidade de Haddad.
Fator 5 – o técnico e o político
Contra ele pesa a derrota acachapante na campanha de reeleição da prefeitura de São Paulo. No fundo, a derrota foi o antipetismo, que tem seu epicentro em São Paulo, com praticamente toda a mídia em ataques diários contra ele e com a Lava Jato do Paraná se incumbindo do trabalho sujo para João Dória Jr.
Por outro lado, sua falta de gana política – inversamente proporcional ao seu pique de gestor - impediu em diversos momentos que assumisse o protagonismo político em São Paulo.
Em dois episódios essa postura ficou nítida.
O primeiro, nas passeatas de 2013, em que ficou praticamente a reboque do governador Geraldo Alckmin. Não entendeu que a rapaziada que iniciou as passeatas poderia ser seu grande aliado.
O segundo, na crise da Cantareira. Alckmin literalmente travou em momento crucial para o Estado. Ficou catatônico enquanto a desgraça se aproximava. Era hora de Haddad juntar os prefeitos da Grande São Paulo e comandar a reação contra a seca.
Limitou-se a aconselhar Alckmin, a sugerir saídas, mas comportando-se com excesso de pruridos e de cavalheirismo, em um momento que poderia ter assumido a liderança política inconteste do estado.
De qualquer modo, dentro do PT Haddad representa a antítese dos estereótipos do petista tradicional, traçados pela mídia e pelo arco do golpe. O lado mais moderno do empresariado e das Organizações Sociais sempre teve portas abertas na Prefeitura. E complicou-se com o PT municipal por não ceder às demandas de vereadores e lideranças.
Sem arroubos retóricos, comuns nos políticos tradicionais, jamais recuou em suas posições ou na lealdade a Lula.
Tem as opiniões fortes de Ciro Gomes, mas sem os escorregões retóricos que comprometem a carreira do primeiro.
Depois que deixou a Prefeitura, sua ida para o Insper, a universidade que concentra mais do que qualquer outra o chamado pensamento liberal, foi uma maneira de se aproximar dos liberais paulistas.
Enfim, jamais deixou de buscar espaços de mediação em um país contaminado pelos vídios da radicalização.
Contra ele pesa a derrota acachapante na campanha de reeleição da prefeitura de São Paulo. No fundo, a derrota foi o antipetismo, que tem seu epicentro em São Paulo, com praticamente toda a mídia em ataques diários contra ele e com a Lava Jato do Paraná se incumbindo do trabalho sujo para João Dória Jr.
Por outro lado, sua falta de gana política – inversamente proporcional ao seu pique de gestor - impediu em diversos momentos que assumisse o protagonismo político em São Paulo.
Em dois episódios essa postura ficou nítida.
O primeiro, nas passeatas de 2013, em que ficou praticamente a reboque do governador Geraldo Alckmin. Não entendeu que a rapaziada que iniciou as passeatas poderia ser seu grande aliado.
O segundo, na crise da Cantareira. Alckmin literalmente travou em momento crucial para o Estado. Ficou catatônico enquanto a desgraça se aproximava. Era hora de Haddad juntar os prefeitos da Grande São Paulo e comandar a reação contra a seca.
Limitou-se a aconselhar Alckmin, a sugerir saídas, mas comportando-se com excesso de pruridos e de cavalheirismo, em um momento que poderia ter assumido a liderança política inconteste do estado.
De qualquer modo, dentro do PT Haddad representa a antítese dos estereótipos do petista tradicional, traçados pela mídia e pelo arco do golpe. O lado mais moderno do empresariado e das Organizações Sociais sempre teve portas abertas na Prefeitura. E complicou-se com o PT municipal por não ceder às demandas de vereadores e lideranças.
Sem arroubos retóricos, comuns nos políticos tradicionais, jamais recuou em suas posições ou na lealdade a Lula.
Tem as opiniões fortes de Ciro Gomes, mas sem os escorregões retóricos que comprometem a carreira do primeiro.
Depois que deixou a Prefeitura, sua ida para o Insper, a universidade que concentra mais do que qualquer outra o chamado pensamento liberal, foi uma maneira de se aproximar dos liberais paulistas.
Enfim, jamais deixou de buscar espaços de mediação em um país contaminado pelos vídios da radicalização.
Fator 6 – a grande aposta
Nas próximas semanas se terá uma ideia melhor da estratégia Lula e do fator Haddad.
Até que ponto conseguirá diluir o antilulismo? Até que ponto conseguira galvanizar setores modernos para suas bandeiras civilizatórias? Até que ponto recriará espaços de mediação essenciais para interromper a marcha da insensatez no país?
E como os adversários irão se comportar?
A direita já iniciou seu festival de extravagâncias, com Alckmin e Bolsonaro disputando quem radicaliza mais o discurso. A indicação da deplorável Ana Amélia para vice de Alckmin demonstra que não há o menor risco de arejamento das ideias do ex-governador.
Por outro lado, Haddad disputará espaço com Ciro Gomes em setores social-democratas insatisfeitos com as alternativas atuais.
Enfim, é um movimento em que Lula radicaliza o discurso para as massas, mas acena para o lado moderno com a socialdemocracia de resultados de Haddad.
Nas próximas semanas se terá uma ideia melhor da estratégia Lula e do fator Haddad.
Até que ponto conseguirá diluir o antilulismo? Até que ponto conseguira galvanizar setores modernos para suas bandeiras civilizatórias? Até que ponto recriará espaços de mediação essenciais para interromper a marcha da insensatez no país?
E como os adversários irão se comportar?
A direita já iniciou seu festival de extravagâncias, com Alckmin e Bolsonaro disputando quem radicaliza mais o discurso. A indicação da deplorável Ana Amélia para vice de Alckmin demonstra que não há o menor risco de arejamento das ideias do ex-governador.
Por outro lado, Haddad disputará espaço com Ciro Gomes em setores social-democratas insatisfeitos com as alternativas atuais.
Enfim, é um movimento em que Lula radicaliza o discurso para as massas, mas acena para o lado moderno com a socialdemocracia de resultados de Haddad.
(Luís Nassif/ GGN)
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