Jorge Paz Amorim

Minha foto
Belém, Pará, Brazil
Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

sexta-feira, 3 de março de 2017

A estratégia do PSDB no governo e a indicação de Aloysio Nunes no Itamaraty


Quatro grandes questões relacionadas à América Latina dominam a nova agenda do chanceler Aloysio Nunes (PSDB) a frente do Ministério das Relações Exteriores. Recém-empossado, o ministro pode ter que se explicar em relação a outros assuntos enquanto a política externa brasileira caminha a passos cada vez mais vagarosos.

A primeira se refere ao momento em que vive a América Latina na era Trump e a janela de oportunidade que se abre para a aproximação comercial com o México e aprofundamento político com a parte latina do continente, em mecanismos já estabelecidos, como a CELAC, o MERCOSUL e a UNASUL. O México pode ser grande parceiro comercial, mas não foi priorizado nas últimas gestões, e com Aloysio Nunes não deve ser diferente. Uma política externa com supostos contornos comerciais tem sempre como background básico uma aproximação aos Estados Unidos, algo histórico em nossa política externa. Não precisa ser assim, a China já provou isto.

A segunda é o espaço da corrupção. O Brasil sediará o encontro do GTAC (Grupo de Trabalho Anti-Corrupção) do G-20, do qual é co-presidente ao lado da Alemanha. O PSDB está envolvido até o último fio de cabelo em listas de delação, inclusive José Serra, Aécio Neves e Aloysio Nunes, grandes caciques do partido. Não parece provável que a opinião pública daqui e do exterior caia no conto de que o PSDB e o chanceler Nunes estejam alheios a isso. A imagem do Brasil no exterior sente o resvalo destas questões, é inegável. Na verdade, como ministro, Aloysio Nunes torna alvo preferencial.

A terceira é o controle das fronteiras e as rotas internacionais de tráfico de entorpecentes que vazam nossas fronteiras. Muito da ausência de uma política comum na América do Sul em relação ao controle de drogas contribui para o quadro doméstico. O Itamaraty parece ter perdido terreno neste espaço, ocupado habilmente por Raul Jungmann, titular do Ministério da Defesa. Lidar com a América do Sul a partir do viés da Defesa e Segurança é limitar o enorme potencial que as relações entre estes países poderiam ter, além de descartar qualquer possibilidade de liderança positiva do Brasil, como fazia Celso Amorim, por exemplo.

A quarta é lidar diretamente com o Trump, a quem Aloysio Nunes já fez críticas públicas. Não é que o chanceler não tenha razão, claro que tem. Mas como ministro, volto a ressaltar, torna-se alvo, e isto pode vir a ser cobrado eventualmente. O trato geral com Trump também é uma dificuldade em âmbito geral. Aloysio Nunes foi o enviado de Michel Temer aos Estados Unidos para explicar os controversos expedientes que levaram à questionável deposição de Dilma Rousseff. O chanceler Nunes parece ter trânsito, mas também apostou em uma condição de subserviência ao se mobilizar para dar explicações aos Estados Unidos sobre um assunto de natureza eminentemente interna.

Há um último porém a ser comentado: o nível de deterioração do governo Temer. Ministros importantes estão se afastando do governo. As condições que fizeram Serra se afastar também não são efetivamente claras, já que numa possível eleição indireta após uma cada vez mais provável queda de Michel Temer, Serra precisaria de um espaço de pelo menos três meses para se tornar elegível.

O núcleo duro do PMDB está mortalmente enfraquecido pelas delações da Odebrecht. O governo Temer não parece conseguir se desvencilhar disto. O Ministério das Relações Exteriores ter se tornado um espaço de domínio do PSDB parece também emblemático. Resta saber se todos estes durarão numa eventual deposição de Temer, o que parece pavimentado para o PSDB.
(Daniel Avellar Bragança/ Brasil de Fato)

Nenhum comentário: