Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

"Foro de SP permitiu mudar cara da América Latina"


Mônica Valente: Foro de SP permitiu mudar cara da América Latina
Foto: Paulo Pinto/Agencia PT
Entre os dias 23 e 26 de julho, El Salvador receberá os mais importantes partidos progressistas do continente americano para a 22ª edição do Foro de São Paulo. Golpe contra uma presidenta eleita de maneira legítima e a ofensiva neoliberal na América Latina devem estar entre os principais temas do encontro em 2016, afirma a secretária de relações internacionais do PT, Mônica Valente, também Secretaria-Executiva do Foro.

Se existem razões para estar em alerta – já que setores conservadores do continente americano se mostram cada vez mais dispostos a um vale-tudo para chegar ao poder -, há também motivos para comemorar.

A redução da pobreza e das desigualdades em países governados por partidos progressistas é inegável. Para Mônica Valente, este é um dos resultados concretos da atuação do Foro de São Paulo. “A América Latina foi o único continente que, nos últimos 17 anos, melhorou seus índices de pobreza, aumentou emprego, melhorou inclusão social e renda“.

À Agência PT de Notícias, ela fala das expectativas para o encontro, faz uma análise das disputas políticas na América Latina e afirma que reforçará a denúncia de golpe contra Dilma Rousseff no exterior.

A seguir a entrevista completa:

O Foro de São Paulo surgiu em 1990 com objetivo de debater a conjuntura internacional pós-queda do Muro de Berlim e as consequências da implantação de políticas neoliberais na região. Qual é seu papel 26 anos depois?
Já há pelo menos 3 anos, mais do que isto, nós denunciamos o que chamamos de uma tentativa de contraofensiva neoliberal contra nossos governos, governos democráticos.

O papel é de troca de experiências entre os partidos políticos, seja dentro do governo, seja fora do governo. É um debate sobre políticas de inclusão social, porque todos os governos da América Latina e Caribe que participam do Foro de São Paulo priorizam a inclusão social, a moradia popular, que priorizam educação, saúde, programas de transferência de renda, como Bolsa Família, auxílios de combate à pobreza.

O Foro de São Paulo, ao longo de 26 anos, permitiu que fôssemos mudando a cara da América Latina. A América Latina foi o único continente que, nos últimos 17 anos, melhorou seus índices de pobreza, aumentou emprego, melhorou inclusão social, renda.

Se compararmos com Europa e EUA, estes países só tiveram aumento do desemprego. Na Espanha, o desemprego está na ordem de 27%.

Estes êxitos que são reconhecidos por instituições internacionais como ONU, Unesco. São organizações que fazem as avaliações e reconhecem os êxitos destes governos dirigidos pelos partidos do Foro de São Paulo desde 1998, quando Hugo Chávez ganhou a eleição na Venezuela.

Quais são seus principais eixos?
O Foro de São Paulo tem três consignas básicas. A primeira é oposição ao neoliberalismo que tantas mazelas causa para a humanidade. Em seguida, a democracia como instrumento estratégico, não só a democracia eleitoral, mas a democracia participativa como um todo. Todos os governos nossos são governos que aplicaram a participação popular na gestão do Estado, com conferências, conselhos, participação popular.

A terceira consigna importante é que, apesar das diferenças ideológicas que têm entre seus partidos consegue valorizar a unidade, não a diversidade, mesmo com divergências entre os partidos que compõem o Foro. É uma organização que consegue construir a unidade em torno destes programas antineoliberais.

Tanto no Brasil como fora, é cada vez maior o número de pessoas cientes de que houve um golpe contra a presidenta Dilma. Sua intenção é reforçar esta denúncia?

O Foro de São Paulo já se manifestou sobre isto, considerando o que aconteceu no Brasil como uma tentativa de golpe, de usurpação do voto popular. Já manifestou publicamente que considera a tentativa dos golpistas de implementar um programa que foi derrotado nas urnas, este programa neoliberal do governo golpista. A expectativa é que o Foro reitere esta posição.

Qual é sua análise sobre a atuação de forças conservadoras e neoliberais nos países americanos?

Começou com a deposição do Manuel Zelaya (2009), em Honduras, também em um golpe judicial militar, depois com Fernando Lugo (2012), no Paraguai, e, agora, com a Dilma.

Também o que está acontecendo na Venezuela faz parte de um processo em que o empresariado venezuelano vem criando desabastecimento de uma material proposital para criar situação de desgaste para o governo de Nicolás Maduro.

Também tentam fazer isto no Equador. Na Bolívia, quando teve a proposta de referendo, neste ano, se o Evo Morales poderia concorrer ou não a um terceiro mandato, foi feita uma campanha midiática super suja, insinuando coisas sobre ele, e ele perdeu o referendo.

É possível perceber uma contraofensiva neoliberal, com relação aos governos democrático populares da nossa região.

Quais são casos emblemáticos no continente?
O Chávez. Ele tentou uma insurreição armada em 1992, perdeu, não conseguiu. Criou um partido político, o PSUV, disputou eleições e, em 1998, ganhou eleições democráticas. Então, não se pode dizer que os partidos que compõem o Foro são partidos terroristas ou que defendem a luta armada, guerra insurrecional. Pelo contrário: todos os partidos que compõem o Foro são partidos democráticos e que participam de eleições.

A própria Venezuela, que muita gente acusa de o governo de comunista, que defende a luta armada. Mas o partido do Maduro e do Chávez disputou, em 17 anos, 14 eleições, e ganhou todas. Algumas com mais votos, outras com porcentual de votos menor. Eles sempre se submeteram ao voto popular – coisa que os golpistas aqui não querem. A direita critica a Venezuela e o governo do Maduro, mas é um governo dirigido por um partido que ganhou as últimas 14 eleições. Sejam parlamentares, municipais, nacionais.

Veja o caso da Bolívia, que tem tido um crescimento expressivo ao longo dos últimos 10 anos de 4,5% a 5%. É claro que agora, com a crise internacional, as dificuldades são maiores. Mesmo assim, se você comparar com os últimos anos o crescimento da pobreza e os países europeus e os partidos latino-americanos que compõem o Foro de São Paulo, você vai ver que aqui combatemos a desigualdade. Na Europa e nos Estados Unidos, só aumentou a desigualdade.

Qual é a importância de realizar este encontro, em 2016, em El Salvador?

É significativo que seja em El Salvador, que é governado por um partido de esquerda.

Reafirma uma posição política dos partidos que compõem o Foro de São Paulo, partidos políticos de esquerda de um espectro bastante amplo. Tem sociais-democratas, socialistas, comunistas, nacionalistas que são contra o neoliberalismo.

É muito significativa a escolha de El Salvador porque é o segundo governo da esquerda democrática que melhorou significativamente a vida do povo salvadorenho.

Em segundo lugar, é o exemplo do que estou falando de democracia como instrumento estratégico. Mas não como simplesmente a democracia eleitoral, mas também a participativa. A Frente Farabundo Martí para la Liberación Nacional (FMLN) é uma frente que participou, nos anos 70, 80, da luta insurrecional porque era a única maneira que existia, naquele momento, de enfrentar o poderio norte-americano.

Eles se organizaram como partido, disputaram eleições, ganharam a primeira com Mauricio Funes. Disputou novamente as eleições com Salvador Sánchez Ceren, ganhou estas eleições e vêm aprofundamento a democracia participativa no país. El Salvador é a prova do que viemos construindo no Foro de São Paulo.


O que se deve responder a quem acusa o Foro de São Paulo de “terrorista”?
Primeiro, temos que confrontar: o PT é um partido terrorista? O Partido Socialista chileno, que faz parte do Foro de São Paulo, é o partido de Michelle Bachelet, é um partido terrorista? O partido do Lugo, Frente Guasú, é um partido terrorista?

É só ver a composição dos partidos políticos que fazem parte do Foro de São Paulo para constatar que nenhum deles tem na sua estratégia, na sua tática, qualquer perspectiva, seja de terrorismo, seja de luta armada, seja de guerra insurrecional.

Todos os partidos que compõem o Foro, desde seu nascimento, há 26 anos, são partidos que trabalharam para ganhar eleições democraticamente, e ganharam.

Esta crítica é uma tentativa de obscurecer o importante papel que o Foro de São Paulo desempenhou nos últimos 26 anos.
(Agência PT de Notícias)

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