Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

sábado, 4 de junho de 2016

A maior dúvida sobre Muhammad Ali é se ele foi maior dentro ou fora do ringue


A maior dúvida sobre Muhammad Ali é se ele foi maior dentro ou fora do ringue.

Dentro, ele inventou um novo jeito de lutar entre os pesos pesados. Dançava como se fosse um peso leve, uma ruptura completa sobre a tradição dos pesos pesados de se arrastarem lentamente no tablado, agarrados um ao outro.

E interrompia a dança para bater duro.

Ali, nas suas próprias palavras, voava como uma borboleta e picava como uma abelha.

Era um mestre na estratégia. Na maior de suas lutas, contra o então invicto e considerado imbatível George Foreman, Ali surpreendeu não apenas o oponente como o mundo todo.

Treinou a região abdominal durante meses para suportar os golpes de Foreman ali. Encostou-se às cordas, protegeu a cabeça com as mãos e provocou Foreman: “Achava que você batia mais forte, George.”

Foreman, depois de alguns assaltos, ficou ao mesmo tempo exausto física e mentalmente. Foi quando Ali, enfim, saiu das cordas para, com um punhado de golpes, derrubar o gigante.

Admiradores de Ali, como Norman Mailer, temiam pela sua vida. Ali já passara dos 30, e não tinha mais a velocidade de antes, e Foreman, campeão invicto, massacrava adversários sobre adversários.

O nocaute em si mostrou a grandeza de alma de Ali. Foreman estava a seus pés, tombando, e Ali estava com um último golpe preparado. Quando notou que Foreman estava batido, recuou os braços e poupou o rival.

Para muitos, foi a maior luta da história do boxe.

Fora dos ringues, Ali foi igualmente portentoso. Nos anos 1960, quando surgiu, foi um protagonista incansável da luta pelos direitos dos negros. Trocou o nome de Cassius Clay — herança da escravatura — pelo de Muhammad Ali.

Foi também militante antiguerra. Recusou-se a lutar no Vietnã, o que lhe custou o título de campeão dos pesados e o afastamento do boxe durante alguns anos, exatamente aqueles que seriam seu apogeu como lutador. “Nunca nenhum vietnamita me chamou de nigger”, explicou.

Retornou enfim em 1971, e desafiou o então campeão Joe Frazier, seu maior rival. Perdeu a primeira das três lutas que travaram. Ganhou as duas seguintes. Todas as três disputas foram, como a contra Foreman, eletrizantes.

No esforço épico de elevar a auto-estima dos negros, Ali louvava a própria beleza. “Sou o homem mais bonito do mundo”, dizia. Mas ele estava elevando, na verdade, a raça negra. Na época, mulheres e homens negros, tratados como gente de segunda classe, alisavam cabelos e clareavam a pele para se parecerem com os brancos.

O orgulho negro deve muito a Muhammad Ali.

Seus últimos anos foram doídos. O homem que voava no ringue se movia com extrema dificuldade por causa de um Parkinson que pode estar associado aos golpes recebidos na cabeça. O formidável conversador mal conseguia terminar uma frase.

Mas bem antes disso ele já deixara sua marca incomparável dentro e fora do ringue.

Este texto é dedicado a meu pai, Emir Nogueira, que me ensinou o que era Muhammad Ali.
(Paulo Nogueira/ DCM)

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