Jorge Paz Amorim

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Belém, Pará, Brazil
Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Lei sancionada por Aécio prejudica 70 mil servidores


















Uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucional a Lei Complementar 100/2007, que igualou servidores contratados aos profissionais concursados em Minas Gerais. Com isso, cerca de 70 mil servidores, lotados na área da educação, terão que deixar os cargos em um prazo de 12 meses.

A Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) foi ajuizada pela Procuradoria Geral da República. Quando a Lei Complementar foi sancionada por Aécio Neves, já havia duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade questionado a vinculação de servidores ao Estado sem concurso público, ou seja, o governo tinha conhecimento da possibilidade de questionamento.

Mesmo assim, sancionou a lei, o que comprometeu a vida de milhares de servidores. “O governo deve muita explicação aos efetivados. E vamos cobrá-las”, diz a presidenta do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE/MG), Beatriz Cerqueira.

De acordo com a ação, o governo de Minas efetivou aproximadamente 96 mil profissionais na área de educação sem a realização de concurso público. Por unanimidade, os ministros do STF decidiram pela inconstitucionalidade da lei. No entanto, o plenário do STF manteve os direitos adquiridos pelos servidores já aposentados, o que, segundo o governo, representa 16 mil profissionais.

Além disso, os trabalhadores que cumprirão os requisitos para aposentadoria até a publicação da ata do julgamento tiveram seus direitos mantidos. Outros 11 mil designados também não serão atingidos pela decisão, porque já foram aprovados em concurso público.

Os servidores contratados devem deixar o cargo imediatamente e os concursados ainda não nomeados devem ser convocados para assumir os respectivos cargos. Já nos casos em que não há concurso público em andamento, o governo terá um prazo de um ano para regularizar a situação.

No entanto, a decisão, que ainda pode ser questionada via recurso, só é válida após a publicação. O Sind-UTE/MG solicitou uma reunião com o governador Antonio Anastasia e com a Secretária de Estado de Planejamento e Gestão, Renata Vilhena, para tratar de assuntos relacionados à situação dos efetivados.

“Não concordamos com a política deste governo de resolver as questões que envolvem milhares de pessoas por decretos e resolu- ções sem conversar com ninguém”, diz Beatriz.

(Portal Minas Livre/Brasil de Fato)

Sessão nostalgia


Esta foto, publicada hoje(31) no Diário do Pará, vale mais do que qualquer palavreado laudatório do jornal dos Barbalhos a respeito da decisão tomada pelo Partido dos Trabalhadores de abrir mão de candidatura própria ao governo do estado e apoiar o pemedebista Helder Barbalho no pleito de outubro próximo.
Por exemplo, o senhor de camisa escura e gola branca, à esquerda de Paulo Rocha, é José Conrado, capo da Federação das Indústrias do Estado do Pará(FIEPA) que notabilizou-se por liderar campanha feroz contra os kits escolares que o governo petista distribuiu, desagradando segmentos empresariais, principalmente do setor gráfico como Conrado, porque as agendas daqueles kits foram confeccionadas fora do estado e mesmo assim, ressalte-se, saíram mais barato do que se fossem confeccionadas aqui. Lembremos, ainda, que o Ministério Público recomendou ao atual governo a distribuição de kits escolares aos estudantes, no entanto,a recomendação foi tão tímida que o governo ignorou e os empresários que poderiam ser os maiores interessados não fizeram qualquer manifestação pública a respeito do assunto.
O que está à esquerda de Conrado é um dirigente da Vale e, salvo engano, presidente de uma entidade sindical patronal. Ou seja, alguém que defende o atual status quo da exploração mineral o que exclui, por exemplo, um investimento do porte da ALPA, que o governo petista encerrado em 2010 um dia vislumbrou como forma de nos livrar da condição de província mineral, mas o governo tucano, contando com a parceria  do PMDB dos Barbalhos, ajudou a sepultar sendo remoto que Helder faça dessa industrialização em nosso território ponto programático de sua plataforma, por motivos óbvios.
Faltou na foto o presidente da FAEPA- Federação da Agricultura do Estado do Pará Carlos Xavier. Todavia, podem todos ficar descansados que esse é um aliado histórico do PMDB e sua inimizade com a esquerda em nosso estado, datada mais ou menos da mesma época da amizade citada, parece totalmente superada inclusive no que se refere as acusações de mandante de crimes de pistolagem.
Em 1982, Jader Barbalho elegeu-se governador com apoios que iam da esquerda até a ala mais truculenta do regime militar, representada no Pará pelo governador Alacid Nunes. Diante da conjuntura atual e daquilo que se vislumbra pro futuro, constatamos que quase nada mudou. Triste!

Muito barulho por (quase) nada

No ano passado, quando a agência de classificação de risco americana Standard & Poor’s rebaixou a nota da França, o economista Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia, escreveu um artigo no New York Times dizendo que as agências de classificação realmente não têm informações privilegiadas sobre a solvência – ou insolvência – dos grandes países, como nos querem fazer crer.

Na época, como bem lembrou o jornalista Paulo Nogueira, a França estava sendo rebaixada simplesmente porque o presidente François Hollande aumentara o imposto sobre os ricos e relutava em desmontar o Welfare State. A S&P é aquela agência que em 2008 classificou a Lehman Brother’s como ‘AAA’ pouco tempo antes de este banco de investimentos pedir concordata, mergulhando o mundo na maior crise financeira desde a Grande Depressão de 1929.

Agora, a mesma S&P rebaixou a avaliação de risco soberano do Brasil de ‘BBB’ para ‘BBB-’ alegando que “a deterioração fiscal brasileira nos últimos anos inclui déficits relativamente maiores como resultado de um superávit primário menor”, além de registrar “enfraquecimento das contas externas” e a redução no nível de emprego, entre outras coisas. Ora, essa avaliação não guarda relação com os números da macroeconomia brasileira, como alardeia a mídia conservadora. Como no caso da França, a postura da S&P parece expressar muito mais a rejeição ao modelo de política econômica adotado pelo Brasil – um modelo heterodoxo, compromissado com o duplo objetivo de manter a estabilidade e criar empregos –, porque este modelo contraria os interesses financistas que a S&P e as demais agências representam.

Senão, vejamos. Como a S&P define a avaliação do risco soberano? “Os ratings de crédito soberano da Standard & Poors refletem a opinião da empresa sobre a capacidade futura e a disposição de um governo soberano de honrar, pontual e integralmente, o serviço de suas obrigações financeiras com o setor não oficial.” Bem, é só verificar os números da economia para ver que não foi isso que a agência levou em conta para rebaixar a nota do Brasil.

Comecemos pela política fiscal. Nestes 11 anos, os governos Lula e Dilma se caracterizaram pelo compromisso com o equilíbrio fiscal. Tanto que o país alcançou superávits primários em todos os anos entre 2003-2013, com uma média de 3,4% do PIB até 2008. No período que vai de 2009 a 2013, apesar das sucessivas crises e da desaceleração da economia mundial, o superávit primário médio do país foi de 2,4%. E a trajetória da dívida pública também é positiva; a dívida líquida caiu de 60,4% do PIB em dezembro de 2002 para 33,8% do PIB em dezembro de 2013.

Convém notar que o Brasil tem o maior superávit primário dentre os países emergentes e o quinto maior superávit primário do mundo. Alguns superávits primários maiores do que o nosso são de países de grande exportação de petróleo. Já Estados Unidos, os países da zona do Euro e os da América Latina estão praticando déficits primários, não conseguindo poupar para pagar a dívida.

E a inflação? Manter a estabilidade sempre foi um compromisso da política econômica dos governos do PT. Tanto que a taxa média de inflação no período entre 2003 e 2013 foi de 5,8%, contra 8,8% entre 1999 e 2002, quando os tucanos estavam no Planalto. E também é preciso atentar para a significativa redução dos juros nos últimos dez anos. A taxa Selic, que era de 26% ao ano em dezembro de 2002, baixou significativamente em 2012 e, mesmo com a persistência da crise econômica internacional, ainda está em 10,5% agora.

Também o mercado de crédito para operações de investimento e consumo cresceu significativamente na última década. O saldo da carteira de crédito pulou de 24,2% do PIB em dezembro de 2002 para 56,5% em dezembro de 2013. É importante ressaltar que esta expansão do crédito foi construída em bases sólidas e compatíveis com a estabilidade do sistema financeiro. Um exemplo é dado pela inadimplência da carteira de crédito que alcançou a marca de 2,9% em dezembro de 2013.

Finalmente, o nível de emprego nas regiões metropolitanas vem tendo uma trajetória ascendente. Em dezembro de 2002 a taxa de desemprego era de 10,5%; em dezembro de 2013, baixara para apenas 4,3%, a menor da série histórica calculada pelo IBGE. É um nível que os especialistas consideram de ‘pleno emprego.’

Parece que nem o mercado comprou a avaliação da S&P, já que a bolsa subiu e o dólar caiu. Much Ado About Nothing (Muito barulho por nada – ou quase nada), como diria William Shakespeare.

(Claudio Puty)

O pesadelo paraguaio pós golpe que os neoliberais querem importar

Na quarta-feira(26), os trabalhadores paraguaios mostraram que a deposição do presidente Fernando Lugo não acabou com os movimentos sociais. O país teve a primeira greve geral em vinte anos, com apoio das sete centrais sindicais, adesão dos estudantes e 90% dos trabalhadores urbanos e uma marcha camponesa à capital. Com apoio dos liberais da Frente Guasú de Lugo, o movimento exige do presidente Horacio Cartes aumento do salário mínimo, controle dos preços da cesta básica e redução dos preços do transporte, mas sobretudo a revogação da lei de "Aliança Público-Privada", que prevê a privatização de serviços estatais com aumento de tarifas.
(Carta Capita)

WALDIR PIRES DETALHA ANTES, DURANTE E DEPOIS DO GOLPE

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Homem forte do ex-presidente João Goulart e um dos últimos homens públicos vivos entre os que sofreram o golpe de 1964, Waldir Pires, aos seus 87 anos, conta em entrevista imperdível ao jornal Tribuna da Bahia detalhes da trama que culminou na imposição da ditadura militar brasileira; ex-ministro da Defesa, ex-governador da Bahia e ex-senador, Waldir exerce mandato de vereador de Salvador e lembra com detalhes dignos de memória virtual de como se iniciou o golpe de estado que impôs terror e sofrimento aos brasileiros

Estamos completando 50 anos do golpe militar e o senhor viveu muito de perto esse momento importante da história do país. Quando o senhor começou a sentir que a ditadura estava por vir no Brasil?

A ditadura, no Brasil, esteve sempre, vez por outra, entradas terríveis. Nós estávamos, naquele período, vivendo uma expectativa otimista, na minha geração, sobretudo. Nós imaginávamos que dificilmente o Brasil recairia em um sistema de força de golpe de Estado. Evidentemente que, em determinado instante, as coisas foram se acentuando e tornando clara uma posição majoritária da alta burguesia brasileira, dos controladores da imprensa. De outro lado, crescia muito uma expectativa das áreas populares na linguagem e no avanço que estava sendo conhecido no Brasil, que teve uma exclusão humana terrível e muito demorada. A República não corrigiu isso, inicialmente, e o Império foi um desastre. Ficamos 400 anos com escravatura, foi uma segregação gigantesca, de modo que, para a nossa geração a expectativa do golpe de Estado era remota. Isso se acentuou como algo tramado e organizado quando se deu a renúncia do Jânio Quadros. Ali, tudo ficou inequivocamente fragilizado. A eleição de Juscelino Kubistchek foi imediatamente posterior àquele quadro do suicídio de Getúlio Vargas, que tinha voltado e iniciado o seu processo de presidente da República eleito pelo povo, que foi uma eleição de força gigantesca. Havia as candidaturas dos partidos oficiais fortes, que eram a UDN e o PSD. Tinha, portanto, a candidatura do Eduardo Gomes e do Cristiano Machado, no PSD, e a candidatura que nasceu de improviso, mobilizada por áreas diversas e estimulada por uma entrevista que o jornalista Samuel Wainer, que instituiu a Última Hora, fez. Ele foi a Itu e fez uma longa entrevista com Getúlio Vargas. Wainer sentiu a possibilidade de que Getúlio considerasse, na hora de encerrar aquele exílio nacional em Itu, depois que deixa o governo em outubro de 1945, a possibilidade de ser candidato à Presidência da República. No fundo, quando a candidatura surge, Getúlio só tinha a estrutura do PTB, mas uma marca gigantesca na sociedade, sobretudo, com os trabalhadores e com os despossuídos. O Getúlio, depois de 1930, foi quem iniciou o processo de certa inclusão social brasileira, tanto na política de instituição da proteção ao trabalho quanto na absorção de todos os candidatos ao trabalho, que passaram a ter um estímulo enorme.

Qual foi o último pilar que ruiu antes do golpe se tornar realidade?

O grande fato que significava a grande ameaça completa e depois a tentativa que a direita brasileira adotou de esconder isso foi quando Jânio Quadros se tornou presidente da República. Ele se elegeu e tomou posse. Jânio era brilhante, surpreendente em seu comportamento político, estava forte. Ao mesmo tempo em que ele dava grandes demonstrações de apreço a toda burguesia ortodoxa brasileira que votou com ele. Ele foi candidato da UDN. Nessa ocasião, quando o Jânio Quadros renuncia no auge da sua popularidade, depois do incidente com Carlos Lacerda, em que houve o episódio que ele mandou deixar na portaria do Palácio do Planalto as suas valises para ser hóspede do Palácio e Jânio teria dado a ordem para que ele não entrasse, que ele não passaria a noite para conversar com o presidente. Assim, mandou reservar um quarto para o Carlos Lacerda em um hotel. A partir daí houve um ruptura enorme entre os dois. Surpreendentemente, em agosto, numa solenidade pública de natureza militar, era dia do Exército, Jânio Quadros renuncia. Faz uma carta imitando o início da carta de Getúlio Vargas, quando ele dá um tiro no peito e morre, e sai. Houve uma declaração enorme de apoio dos ministros militares a ele, numa tentativa de retomar, mas como ele adotou o processo de encaminhar ao Congresso Nacional uma renúncia, a renúncia desenganadamente é ato unilateral, de forma que, para o Congresso Nacional, depois da renúncia não tem volta. Ele fez isso numa sexta-feira e a expectativa era que na sexta à tarde, quando o ministro da Justiça levasse ao Congresso Nacional essa renúncia, não tivessem mais deputados em Brasília, não haveria sessão e não ocorreu nada disso. A esse fato, Jânio Quadros renuncia e imediatamente surge a indagação de que o presidente da República é João Goulart, que estava no exterior cumprindo o mandato do Jânio Quadros, organizado por Jânio Quadros. Muita notícia, muita informação que se impõe como bem conceituada foi a de que Jânio organizou isso para essa hipótese. Ele renuncia e os três ministros militares, naquela ocasião era ainda o regime de ministro da Marinha, ministro do Exército e ministro da Aeronáutica, eram ministros de Estado comandando as suas respectivas armas. Eles dão uma declaração dizendo que o presidente da República não seria João Goulart e que se ele voltasse para o Brasil seria preso. No mesmo dia e no dia seguinte foi uma notícia generalizada, surpreendente e bruta.

Onde o senhor estava naquele momento em que toda a confusão do golpe aconteceu?

Esse ainda não era o golpe, foi o primeiro sinal da dificuldade e o prenúncio de que ele viria. Naquela ocasião, o João Goulart era o vice-presidente da República de Juscelino Kubistchek. Ele foi candidato a vice-presidente com êxito muito grande. Cada cidadão tinha direito a dois votos para a chefia do governo, do Estado Nacional. Um era o voto para presidente e o outro para o vice, independentes. De forma que nessa eleição Juscelino Kubistchek se elege presidente da República e João Goulart se elege com meio milhão de votos à frente de Juscelino, portanto, bem mais votado do que Juscelino. Ele entrou forte e continuou servindo e atuando com uma relação muito boa com Juscelino. Neste dia, o João Goulart tem a notícia e ficou perplexo. No dia seguinte, já chega a ele o conhecimento de que os três ministros militares tinham vetado. Ele foi eleito presidente pelo voto direto, pela soberania popular e os três ministros militares asseguraram que não havia hipótese do João Goulart assumir. Ali, realmente, iniciou-se o processo de golpe de Estado, claro, manifesto, não executado ainda.

O que o senhor destaca de mais importante do início do golpe para a sua concretização efetiva?

Nesse período eu estava na Câmara dos Deputados, eu era deputado federal. Nós estávamos apoiando a posição de luta do Rio Grande do Sul e o Brizola era o governador do Rio Grande naquela época. Ele levantou a opinião pública do estado, reforçando que o presidente da República foi eleito por voto popular. O Jânio Quadros tinha também um candidato a vice-presidente, um homem muito sério e bem julgado, que era o governador de Minas Gerais. Mas o João Goulart teve mais do que Jânio, quase um milhão de votos. Portanto, é uma presença na estrutura do poder nacional muito sólida, de respeitabilidade do corpo de cidadãos brasileiros. Nós, ali, sentimos que o golpe de Estado estava feito, só poderia impedir a posse do vice-presidente da República se houvesse o Golpe de Estado, e ali o golpe se instalou. Cresceu muito o movimento que Brizola iniciou: a luta da legalidade, manter a legalidade, e foi conquistando o país todo. Conquistou uma parte do 3º Exército. O comandante do 3º Exército, o General Machado Lopes, assumiu a responsabilidade de dizer que não era correto, que não cumpriria. Daí por diante foi uma força curiosa porque, no fundo, aquilo estimulou o crescimento do país de que se levasse a uma consequência imediata no conflito com a posição dos ministros militares, que tinham endurecido na questão. Em face desse endurecimento, se formulou em uma parte do Congresso Nacional vinculada à direita, com a UDN admitindo, não ostensivamente, mas admitindo, grande parte do resto da sociedade parlamentar admitindo também a ideia de instituir-se o Parlamentarismo no Brasil. Isso levaria, em face da crise nacional, os ministros militares a admitirem a posse de João Goulart, desde que fosse um presidente da República sem poderes. Então se formulou o projeto do Parlamentarismo no Brasil, votaram, institui-se o Parlamentarismo no Brasil e houve a concordância de que João Goulart tomaria posse, não como presidente como fora eleito nas condições do exercício de todos os poderes, mas como presidente do Parlamentarismo. João Goulart era um grande negociador e tinha capacidade de diálogo extraordinária, com visão política admirável. Pouco antes desse período, por exemplo, ele teve uma posição extremamente importante com Kennedy. A carta que ele fez a Kennedy foi uma linda carta, em que ele não admitia a invasão de Cuba pelos Estados Unidos porque o Brasil tinha o compromisso com a Organização dos Estados Americanos (OEA). Essa Organização está assentada no princípio da congregação e do fortalecimento da comunidade latino-americana e por isso não haveria possibilidade de se recusar à OEA, a capacidade de vetar, de impedir a invasão oficial dos Estados Unidos em Cuba.

Já que o senhor falou em Cuba, quem, efetivamente, estava por trás do golpe do Brasil
?

Os Estados Unidos, desenganadamente. Do primeiro ao último momento.

Qual o interesse deles, na visão do senhor?

O mundo, naquele instante, parece que vivia um período neurotizado da Guerra Fria, que significava o poder dos que ganharam a guerra, excluindo a posição do aliado, que era a ex-União Soviética. Mas acontece que a luta do mundo, naquele momento, perdeu um dos homens mais admiráveis dos Estados Unidos, que era o Franklin Roosevelt, que era o presidente. Ele fazia um grande trabalho de meio de campo na composição das forças aliadas, que eram a Inglaterra, os Estados Unidos a França livre, que não tinha mais poder porque estava ocupada pelo Marechal Pétain. Todo o continente europeu já havia sido tomado pela Alemanha, pelo nazismo. Quando o Roosevelt morre, ele teve um substituto de qualidade secundária, muito medíocre, que foi o Trumman, que implantou uma linguagem diferente da de Roosevelt. Ao invés de tentar administrar as diferenças entre a União Soviética e o império inglês, Trumman fez o oposto.

Especificamente no episódio do golpe, como o senhor viveu esse período?

Eu vivi aí uma fase pouco posterior a essa primeira que é quando se dá a primeira tentativa de dizer que o presidente João Goulart não assumiria o poder, em 1961. Como ele perde essa posição, o João Goulart, mesmo fazendo o enfrentamento com o Brizola e outras forças, ele admitiu a negociação. Ele disse que autorizaria Tancredo Neves a fazer as negociações necessárias para que pudesse tomar posse. João Goulart nomeia Tancredo como primeiro-ministro e a partir daí ele não era presidente da República com os poderes presidenciais. A partir daí os poderes presidenciais passaram para o primeiro-ministro, como em todo sistema parlamentarista. O Tancredo sempre foi muito leal, conversando e articulando tudo com o João Goulart. O golpe de Estado chega, então, na fase em que as coisas foram se acentuando. João Goulart era uma figura sem radicalismo e já tinha recuperado os poderes presidenciais em 1963, fato que é um dos episódios políticos mais brilhantes que temos porque ele assume com humildade e vai construindo. Em 1963 já está tão forte que ele consegue em áreas militares que o plebiscito seria a forma de devolver ao povo brasileiro a soberania, que é da natureza do presidencialismo. Se estabelece, então, o processo de plebiscito em 1963. João Goulart ganha essa eleição com 80% dos votos, vitória esmagadora, apesar de toda a pressão da impressa, da UDN, dos setores conservadores. Ele tinha aberto um diálogo com os setores avançados do capitalismo nacional para impedir a subserviência brasileira, na plena entrega de tudo e na inobservância da presença dos interesses econômicos brasileiros. João Goulart nomeia como ministro da Fazenda, com capacidade de conversar com os Estados Unidos, o Santiago Dantas. As coisas se radicalizaram e o João Goulart avançava, mas não a ponto de ter o beneplácito da simpatia completa das áreas mais radicais da esquerda, por exemplo. O Brizola fazia muitas resistências a ele, o Arraes algumas, mas o fato é que João Goulart avançava e organizou um projeto básico, do qual eu participei diretamente. Nesse intervalo, fui candidato a governador da Bahia com a presença de todo mundo. O velho PSD, que era o meu partido, e o PTB, que era o partido do João Goulart e queria a candidatura de Antônio Balbino, e a UDN tinha a liderança um pouco da direita, tinha outra candidatura. Inicialmente, essa candidatura foi com Josaphat Marinho, que era secretário da Fazenda do Getúlio Vargas, mas em determinado instante, os filhos do Juracy Magalhães, que era governador da Bahia, fizeram uma conspiração e tiraram a candidatura do Josaphat Marinho. Foi substituído por uma candidatura avulsa, de um prefeito com linguagem política municipalista simpática, que foi o Lomanto, que passa a ser o adversário das nossas posições. Nenhum dos grandes líderes do PSD quis assumir a responsabilidade de ser candidato a governador e começaram a dizer que o povo queria Waldir, e eu fui candidato a governador naquela ocasião. Tive um problema com o cardeal, era professor da Universidade Católica e um dia o cardeal mandou me chamar porque soube que os comunistas votavam em mim e eu tinha que fazer a recusa dos votos deles. Eu disse que não era comunista por não aceitar nenhum processo ditatorial, por não acreditar, no mundo de hoje e de sempre, que a força autoritária possa ser a força que organize a comunidade humana. Nós somos um governo laico, de modo que os votos dos comunistas são votos que eu respeito. O cardeal mandou fixar uma bula e mandou afixar em todas as igrejas da Bahia a determinação dos católicos não votarem em Waldir Pires. Inclusive, aconteceu com minha mãe, que estava se confessando em uma igreja e o padre disse: "A senhora não pode votar em Waldir Pires". Ela ficou indignada, abriu a cortina e disse: "Eu sou a mãe de Waldir, meu filho nunca fui comunista, ele é muito decente". Eu ganhei todas as urnas de Salvador, mas tive a redução dos votos em algumas áreas e isso não foi suficiente para cobrir a posição do governo.

Outro fato importante desse período foi o sumiço do Rubens Paiva, e o senhor foi um dos últimos a estar com ele. O que lhe arremete àquele momento
?

Ali foi um episódio extraordinário. No último momento, eu e Darci Ribeiro éramos os últimos membros do governo. Eu era consultor geral da República, que, hoje, é o mesmo advogado geral da União. Darci Ribeiro era o chefe da Casa Civil. Tínhamos ido levar o presidente para embarcar em um avião. Ele mudou de aeronave porque sabotaram as turbinas do avião que iria levá-lo. Para nosso juízo, esse avião era essencial porque as divulgações no sul e em São Paulo diziam que o presidente da República iria para o Rio Grande do Sul e que se ele passar na direção do Rio Grande nós vamos abater o avião. Vamos convidá-lo a descer e caso contrário, vamos abatê-lo. Nós nos mobilizamos para ver o jato que existia e o único era da Varig. Pediu-se esse jato, que era um Coronado, ainda não existia Boeing. O Jango chegou, entrou no avião, Tancredo estava lá, Afonso, Wilson, que depois acabou viajando com ele, e o Rubens, que era deputado federal, só entra nisso um tempo depois. Ocorre que o presidente sai do avião depois de mais de 30 ou 40 minutos. Lá no aeroporto estavam os comandantes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica absolutamente fiéis ao presidente. Quando ele viajou, nós voltamos para o Palácio do Planalto. Quando chegamos ao Largo dos Ministérios, encontramos o Congresso aberto e iluminado. Como já era fim de sexta-feira para sábado, não deveria ter mais nenhuma reunião, mas eles fizeram e foi contrário a tudo que ficou acordado anteriormente. Eu fui para o Palácio do Planalto com Darci e ficamos lá até o último instante. Em determinado momento, chegou uma comunicação do comandante do 3º Exército para o presidente e ele só leu na tarde do dia 1º, que ele veio do Rio de Janeiro no dia 1º e foi para o Torto. Lá, ele decidiu ir para o Rio Grande do Sul e que o general Ladário Teles, comandante do 3º Exército, dizia ao presidente que não apoiava o golpe de Estado e que o 3º Exército vai resistir para manter a democracia brasileira e respeitar a Constituição do País. Então todos nós aconselhamos o presidente a ir. Ele foi, mandou Maria Tereza e o filho em outro avião para o sul. Quando nós voltamos, nos demos conta que a coisa estava gravíssima. Utilizamos a área do Teatro Nacional para reunir maciçamente jovens universitários, estudantes e trabalhadores. Mandamos fazer sopa para o pessoal esperar e tentar impedir o impeachment, que eles diziam que iriam fazer. O impeachment só começa depois de aprovado pela Câmara, presidido pelo Supremo Tribunal Federal, no Senado. Era na legislação anterior e é na atual. O processo de julgamento é feito depois da declaração de abertura de processo pela Câmara dos Deputados e o Senado é o cenário de julgamento. Portanto, não tinha como ser instantâneo e eles estavam pretendendo fazer o impeachment como deliberação sumária. Nós estávamos preparando essa gente toda para ocupar o cenário, mas já não tinha possibilidade porque os militares tinham ocupado todo o espaço da área dos ministérios, da Câmara dos Deputados e do Senado. Nessa ocasião, mais ou menos por volta da meia-noite, Doutel de Andrade, que era deputado e líder do governo na Câmara, chega correndo sem fôlego e diz que os militares iriam dar o golpe. "Eles vão dizer que o presidente fugiu, deixou a nação". Eu disse, então, a ele para chamar Darci, coloquei o papel na máquina e datilografei. Foi coisa simples, sumária, sete ou oito linhas. Foi a última mensagem do Executivo. Na verdade, quem fez foi Darci porque eu não podia. "O presidente da República me incumbiu de comunicar que saiu de Brasília para ir para o Rio Grande do Sul em virtude da convocação do comandante do 3º Exército, que está solidário com a institucionalidade democrática do Brasil". Doutel volta, sobe à Tribuna, lê o texto. Andrade dá o Golpe. Já era uma da manhã do dia 2 de abril. Quando Doutel acaba de ler, o Andrade percebeu a coisa e fez a declaração: declaro vaga a Presidência da República. O presidente da República deixou a nação acéfala e convoco o presidente da Câmara dos Deputados a assumir a chefia provisória do Poder Executivo. Está encerrada a sessão". Saíram pelas costas do Congresso na direção da Praça dos Três Poderes, foram até o Supremo, pegaram o ministro presidente do Supremo Tribunal e vieram caminhando. Eu e Darci ficamos nas vidraças do Palácio do Planalto vendo a "onda" se aproximando. As Forças Armadas estavam organizadas para acolher. Nós saímos e resolvemos ir para o Rio Grande. Nessa hora, eu estava com o motorista e Darci com outro. Eu disse que iria passar em casa para dar um beijo em minha mulher e em meus cinco filhos. Marquei com Darci de nos encontramos em 20 minutos no aeroporto para irmos juntos. Estive com Iolanda, meus filhos estavam dormindo e disse: "Eu vou para o Rio Grande, minha filha. Depois dou notícia, não sei o que vai acontecer". Então me toquei. Cheguei um minuto antes de Darci. Quando fui entrando na base aérea, um major foi chegando e disse: "Dr. Waldir, que loucura é essa o senhor aqui"? Quando ele acaba de dizer isso, Darci chega. E o major emendou: "Dr. Darci, não é possível, vocês estão presos já! Vão embora, saiam por aqui!" Cada um entrou em um carro, eu disse que não havia tempo para saber qualquer coisa, que nem sabia para aonde iria e que bateria na porta de algum amigo. Darci disse que iria fazer o mesmo e combinamos de nos vermos no dia seguinte. Conseguimos nos encontrar, o pessoal tinha marcado uma reunião para a noite, numa casa de uma senhora. Uns 20 senadores reuniram-se e lá estava o Rubens Paiva. O fato tinha sido consumado, o Mazzilli tinha tomado posse, mudando ministros, e nós participamos para saber o que faríamos. A decisão comum foi que eu e Darci iríamos para o Rio Grande porque o presidente estava sozinho lá. Ele tinha saído apenas com o chefe da Casa Militar, com um deputado federal de Pernambuco e um senador do Paraná que era o Amaury Silva. Isso ficou decidido e nós vamos continuar aqui nessa batalha. Rubens Paiva, que era uma pessoa extraordinária, um verdadeiro D'Artagnan, levantou a mão e disse que a logística era com ele. Falou que eu e Darci sairíamos na madrugada do outro dia para o Rio Grande e foi o que aconteceu. Lá pelas 3h horas da tarde, recebemos a comunicação de que Rubens passaria para me ver a partir de 2h da manhã, depois pegaríamos Darci. Rubens alugou um avião monomotor para eu e Darci viajarmos para o Rio Grande. Ele foi para o aeroporto, localizou a moita mais alta que tinha próxima da pista de decolagem. Esse avião pediria autorização de voo às 6h da manhã para ir para uma cidade qualquer de Goiás, mas na realidade, ele viria para o local onde nós estávamos, o local que o Rubens determinou. Ele disse para ficarmos atentos, deitados, e que quando ouvíssemos o barulho de um avião e fosse um avião pequeno, deveríamos correr e entrar na aeronave. Daí, o esquema de saída já estará com o piloto. E foi assim que aconteceu no dia 4 de abril. Decolamos e fomos para uma fazenda, que o Rubens também tinha articulado, na fronteira da Bolívia com Mato Grosso. Quando chegamos, o piloto disse que chegaria um avião com combustível para seguirmos viagem até São Borja, "porque vocês não podem ir direto para Porto Alegre". Se chegássemos lá, seríamos presos imediatamente. Nosso contato para nos encontrarmos com Jango seriam os amigos dele em São Borja. Ficamos em um pasto esperando o outro avião que não chegou, que o piloto nos disse que deve ter ficado preso. Precisaríamos comprar combustível, mas naquele lugar não havia combustível de avião. O piloto nos disse que já tinha voado com gasolina comum de carro e caminhão e que, se nós não nos importássemos, poderíamos seguir viagem assim. Enchemos o tanque com octanagem razoável, mais duas latas de 20 litros, uma no colo de cada um de vocês e tocamos a viagem para São Borja. Mas nessa noite, sentados no campo com o rádio ligado, ouvimos a notícia de que o presidente João Goulart desceu no Uruguai e pediu asilo político. O caminho é o do exílio, não tem alternativa.

Durante o exílio, qual o momento mais difícil para o senhor?

Na fase inicial, o exílio é uma expectativa de que você, na semana seguinte, pode voltar. Tudo quanto era notícia dava a impressão de que voltaríamos logo.

O senhor ficou quanto tempo no exílio?

Seis anos. No Uruguai fiquei um ano e pouco porque em 1964 passamos com muita expectativa. Mas expectativa ingênua de poder voltar. Quando veio o AI 5, para mim, foi a notícia mais atroz. O AI 5 significava o endurecimento da ditadura e a partir daí uma consolidação de uma ditadura por 15, 20 anos. Eu tinha a coisa mais angustiante em mim que era perder nossos filhos. A minha mulher era extraordinária, tinha visão política e solidária completa, acompanhava tudo. Eles fizeram os nossos inquéritos, os nossos IPMs, mas esses IPMs foram arquivados pelo Supremo. Como pode ser ilícita a gestão de Waldir e Darci, membros de um governo democrático, quando resistem à implantação de uma ditadura militar. Então o Supremo mandou arquivar, não havia ilicitude. Foi uma fase, ainda, de certas hesitações, tanto que, logo depois do AI 5, eles puseram fora alguns dos principais ministros do Supremo. Botaram fora o Vitor Leal, o Hermes Lima, que é conterrâneo nosso, grande figura do mundo político e jurídico do Brasil. Para mim, foi uma angústia. Eu disse para a minha mulher que iria renovar o contrato com a universidade, mas iria fazer isso pela última vez, se ela estivesse de acordo, se não perderíamos nossos filhos. A coisa mais comum no exílio, sobretudo em um país como a França, é o sujeito chegar alegre em casa, dizendo que a anistia chegou lá e vamos voltar para casa. Os filhos, já com vinte e tantos anos, ficam alegres, mas quem volta são apenas os filhos e os pais não.

Da reconquista da democracia para os tempos de hoje, em que o país avançou de mais substancial nesse período
?

Eu tenho a impressão de que o país avançou no sentido de que recuperou a ideia da transformação da sociedade. De organizar uma sociedade em que o Brasil tivesse mais autonomia. A dependência do Brasil para com os Estados Unidos era uma coisa sórdida. É uma beleza a carta do João Goulart a Kennedy dizendo por que o Brasil não apoia a posição da invasão de Cuba. Foi o Brasil que impediu e daí, a constituição da ditadura generalizada na América Latina toda. O clima da Guerra Fria era neurótico e a posição americana era neurotizada completa, não tinha nada a ver com o processo democrático.

O senhor considera que a nossa democracia é plena, sólida e madura?

Não. Nossa democracia não está plena, nem sólida e nem madura. É uma democracia em instalação frágil. É uma democracia em estado de construção. A democracia é aquela busca em seu conceito básico e surgiu centenas de anos antes de Cristo, no mundo grego. Nesse tempo, a democracia convivia com escravos. Não eram escravos de cor, mas, muitas vezes, sábios de todas as áreas comuns da Grécia Antiga, da Roma e etc. A democracia saiu, você entra posteriormente no Império Romano, vai para a Idade Média e leva mil anos sem dar um passo a nada.

O que precisamos fazer, hoje, para que essa democracia em construção se consolide?

Cumprir o que é o conceito da democracia, que tem verbalidade exata, fácil, brilhante de um grande cidadão do mundo, o Lincoln. Ele faz a definição dizendo que esse é o caminho, depois de chegar com Roosevelt, Churchil e dizer que é preciso encontrar formas de aglutinar a humanidade e não ter os continentes repartidos com áreas dominadoras e o restante escravo. Quando não era escravo, era dependente e subordinado. Nessa fase, é preciso ter esse conceito básico. A democracia é a construção da inclusão no mundo, dos direitos do ser humano, da personalidade humana. Quem for espiritualista diz que é a obra-prima de Deus, quem não é diz que é a obra-prima do ser humano. Lincoln diz que a democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo. Não pode ser para esse ou aquele, a serviço dessa ou daquela ideologia, é para as coisas que signifiquem que o ser humano está incorporado à sua comunidade ocupando a Terra. A democracia é essa aspiração, então ela tem ética. Interna. Eu sou favorável ao Estado democrático, instrumento da construção da democracia, porque, se não for instrumento, as coisas vão ser obtidas pelas coligações de forças absolutamente desinteressadas e privatizadas. O Brasil passa a ter energia quando o Estado assume, passa a ter petróleo quando o Estado assume, tem educação e saúde se o Estado assumir.

Fazendo um paralelo com o presente, qual a avaliação do governo Wagner, na visão do senhor? O PT conseguirá se manter no poder, com a possível vitória de Rui Costa?

Eu tenho a impressão que sim. Tenho conversado pouco com o governador Wagner, mas acho que sim. Muitas coisas da expectativa da construção democrática, que foram base da construção do PT, estão desaparecendo.

O PT não é mais o mesmo
?

O PT tem muita gente boa, mas os seus compromissos foram diferenciados. Nós estamos vivendo uma fase de composição de partidos como se houvesse, permanentemente, uma associação de partidos. Daí termos trinta e tantos partidos organizados com o financiamento para essa organização. Essa proliferação de partidos é a negação da possibilidade de se organizar os conceitos da população, a confiança da população, uma ética de bem-estar da população e uma ética na utilização dos recursos públicos.

Depois de viver tudo isso que o senhor viveu e continua vivendo, qual o país que o pretende ver de agora em diante?

O país que eu pretendo ver construindo a democracia. Foi para isso que fui candidato a vereador. Eu saí candidato a vereador para dizer tudo isso, sempre. Em qualquer lugar onde eu estiver, em qualquer lugar que me convidarem para dizer alguma coisa, eu vou dizer sempre isso, é o mais importante para mim. Nós somos importantes porque se nós contribuírmos, nós organizaremos e só o ser humano, só a juventude.

Cada um de nós é responsável pela construção do país que queremos ter...
Com certeza. Cada um de nós. Eu digo isso com a minha experiência pessoal. Eu tinha 16 anos e os primeiros comícios da minha vida foram para o Brasil entrar na guerra para derrotar o nazismo, que era aquele conjunto de concepções arianas desiguais, contrárias à unificação do ser humano.

Esse conceito que o senhor espera viver está mais próximo da construção de uma democracia sólida?

Não, não está, mas ele está mais viável porque a comunicação é enorme, apesar de termos uma comunicação muito dirigida pela natureza da organização econômica, das empresas que compõem a mídia, no Brasil. Eu creio, por exemplo, que, hoje, a extraordinária tecnologia da comunicação viabiliza isso e pode viabilizar muito mais do que no meu tempo. Eu não sou pessimista, sou otimista. Eu parto do princípio de que a humanidade inteira viveu sempre sob o regime da força e da violência desde que existe a sociedade humana com alguma qualificação de ascensão do ser humano. São seis mil anos se a gente quiser contar isso a partir da história escrita. A história escrita dá, efetivamente, a lição de que até aqui tudo foi na base da força. Todas as modificações conquistadas foram à base da força e pela organização dominadora desse ou daquele setor, segundo os processos econômicos ou religiosos. Nada se fez, ainda, sob a compreensão da solidariedade humana. Eu acho que isso não é fantasia, é a minha força íntima. Eu acho que nós podemos buscar uma humanidade que não permita essa coisa perigosa de hoje. Como outras civilizações foram derrubadas, nós estamos, hoje, se não formos capazes disso, estamos com o crescimento de conhecimento extraordinário, da ciência, da tecnologia. A capacidade de destruir a humanidade está ficando mais fácil, e isso depende da ética política, da civilização do ser humano. Todo ser humano deve poder viver, claro que uns com mais e outros com menos, depende da competência de cada um, do seu vigor de insistência.

(Tribuna da Bahia/Brasil247)

Besteira

Papelucho repulsivo e reacionário que se acha liberal festejando os 700 compartilhamentos ao discurso do contraventor/senador Mario Couto, reproduzido em seu face.
É aversão zoológico/piguenta do abominável 'Cansei!', que a extrema direita um dia sonhou instrumentalizar como remake da famigerada 'marcha da família', a fim de derrubar governo maciçamente votado e idem apoiado pela população brasileira, o que faz desses compartilhamentos algo residual e insignificante enquanto manifestação visando derrubar o governo.

Aquilo que não se apaga

Maluf e Figueiredo na agradável companhia  de protagonistas midiáticos que contribuíram(e ainda contribuem) com a preservação do entulho autoritário(Elio Gaspari, Roberto Civita-já falecido, e Augusto Nunes) 

Esta foto vale mais que mil palavras diversionistas visando enganar a população. Todos os que nela estão têm ligações umbilicais indisfarçáveis, incontornáveis e definitivas com o golpe militar/empresarial dado em 1964.
Não é a omissão em relação ao legado ou eventual posicionamento no coro da sociedade repudiando aquele pesadelo que durou mais de vinte anos, mas a retórica furibunda com que investem contra governos democraticamente eleitos e maciçamente apoiados pela opinião pública, achincalhados por alguns protagonistas dessa reveladora foto como membros de comissariados opressores do povo e constituídos de forma espúria e à margem dessa vontade. São, com efeito, esses cacoetes inevitáveis que revelam as preferências políticas dos representantes midiáticos da foto, jamais seus talentos para tergiversar, engodar, iludir, falsear, ludibriar e ter saudades. Lamentável!

A exumação do presente

Como uma correlação de forças favorável se transforma em uma derrota demolidora? A exumação de 1964 sugere a resposta a esta pergunta.
Como uma correlação de forças favorável se transformou em uma derrota política de consequências históricas demolidoras?
A pergunta ecoa obrigatória na exumação do Brasil de 1964.
Mas a resposta extrapola a necessidade de se compreender o país que existia há meio século para iluminar os dias que correm, as horas que urgem.
A história não cabe em fascículos solteiros.
A versão dos vencedores de ontem presta serviços aos interesses de hoje que disputam a hegemonia com o objetivo de sempre.
Impedir que a sociedade destrave os ferrolhos da riqueza acumulada e altere a matriz redistributiva da que será construída.
Uma simplificação monocausal em torno 1964 remete ameaças a 2014.
Ela é disseminada por aqueles que formam o intestino delgado e sinuoso do golpismo, onde se reprocessa tudo no formato de democracia e lei.
Inclua-se aí os fulanizadores da história, especialistas na arte de abstrair interesses graúdos sem tornar a narrativa entediante.
O que eles sugerem é que 1964 nada mais foi que um mal passo do país; um escorregão sob a presidência de um político hesitante e mulherengo.
Esse, o epitáfio à geração que há 50 anos defendia reformas para cicatrizar as feridas da tradição social brasileira.
Hoje, com a mesma dissipação, tenta-se personificar o ‘problema’ do país na ‘Dilma autoritária’; agora também ‘má gestora’.
Importa, sobretudo, rebaixar o debate em torno daquilo que interliga o passado ao presente e condiciona o futuro: a disputa em torno da agenda do desenvolvimento brasileiro.
Qual país? Para quem? Como chegar lá? Onde e por que os recursos estrangulam?
Sobre 1964, a dissipação coloca na mesa incômoda dos 50 anos a guloseima ecumênica que a tudo perdoa: ‘a polarização conduziu ao golpe’, diz o glacê sobre a massa aerada por 20 anos de censura, tortura e repressão.
‘Era inevitável, qualquer um dos lados o faria a qualquer momento’, reiteram os confeitos aspergidos na memória nacional.
Em resumo: os vencidos foram responsáveis pela violência dos vencedores; a direita apenas se antecipou à ruptura cevada entre a hesitação de Jango e a radicalização ao seu redor.
A premissa está na ponta da língua dos colunistas, na rememoração lucrativa encadernada pelos amigos do regime e na boca dos torturadores cada vez mais desinibidos pela impunidade.
Fatos.
O governo Jango durou apenas 31 meses –de setembro de 1961 a 1º de abril de 1964.
Durante todo o período esteve acossado pelo bafo renitente do golpismo, sobrando ao Presidente um espaço reduzido de tempo e circunstancia para planejar sua ação e o país.
Ainda assim, a correlação de forças barrou o conservadorismo em todas as tentativas de se impor à sociedade por medidas unilaterais.
Por isso foi dado o golpe, ou não haveria necessidade dele.
A direita dispunha, como hoje, do dispositivo midiático, do dinheiro graúdo --local e forâneo , de um pedaço da classe média e de fileiras do Exército.
Mas seu fôlego eleitoral era raquítico e o pulmão político declinante (como hoje).
O projeto americanófilo carimbado em sua testa consolidara-se no imaginário popular como risivelmente entreguista (não sem boa dose de razão); seu recorte elitista recendia à casa grande, de onde urgências da senzala eram descartadas nas respostas aos desafios do desenvolvimento.
Lembra algo?
Antes de recorrer às armas, à repressão, à censura e à tortura, o espírito golpista tentou por duas vezes restringir a democracia que lhe era desfavorável, sendo sucessivamente derrotado no campo aberto do escrutínio popular.
O desenlace, portanto, não foi uma reação de autodefesa, como querem os vulgarizadores da fatalidade, mas o epílogo de uma progressão de mini golpes frustrados.
No aquecimento, tentou-se impedir a posse de Jango em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros.
Só a resistência organizada –é oportuno escandir a palavra or-ga-ni-za-da-- impediu a consumação do golpe branco.
Em 27 de agosto, o então governador Leonel Brizola personificou esse requisito com a criação da ‘Cadeia da Legalidade’ no Rio Grande do Sul.
De início, formada por uma rede de rádios gaúchas, a resistência operava do porão do Palácio Piratini, para onde o líder gaúcho requisitara os transmissores da rádio Guaíba, de Porto Alegre. As tropas da Brigada Militar protegiam o Palácio em vigília diuturna.
Através das ondas médias e curtas ocupava-se o noticiário 24 horas por dia.
Brizola conclamava o povo a ir às ruas em defesa da legalidade democrática, contra o golpe da junta militar que, em Brasília, recusava autorização para Jango, em viagem oficial ao exterior, retornar ao país.
Aos poucos, outras emissoras de Porto Alegre e do interior do Estado uniram-se à Rede, que chegou a cravar 100% de audiência no estado.
O efeito contagiante da resistência iniciada em Porto Alegre romperia a fronteira gaúcha para formar uma cadeia com 104 emissoras de todo o Brasil e de países vizinhos.
Boletins noticiosos em inglês, espanhol e alemão passaram a ser emitidos.
Foram 10 dias que abalaram o Brasil.
Finalmente, o III Exército rachou e declarou solidariedade ao movimento.
O conjunto forçou o Congresso complacente a buscar uma solução negociada.
A escolhida, todavia, circunscreveria Jango nas amarras de um parlamentarismo que reduziu sua posse a um simulacro de transferência de poder.
Em 7 de setembro de 1961, Goulart receberia a faixa presidencial, mas não o mando de governo.
Descarnado dos instrumentos constitucionais, o Presidente gastou dois anos de seu mandato na agonia parlamentar.
Se não conseguiu evitar a posse, o conservadorismo logrou engessar o país agravando seus impasses para corroer, ainda mais, as bases frágeis do investimento, acelerar a fuga de capitais e adicionar pressão à caldeira inflacionária.
Criou-se assim o lastro para legitimar o discurso udenista do desgoverno, de um Brasil aos cacos, prestes a se estilhaçar –‘se não for hoje, de amanhã não passa’.
A sensação de familiaridade não é gratuita.
Com a insatisfação crescente, em janeiro de 1963, Jango convoca um plebiscito para decidir sobre a manutenção ou não do sistema parlamentarista.
O clima confuso criado pelo artifício conservador era respirado em cada esquina.
Mas o discernimento popular não se deixou levar pelos falsos diagnósticos.
Cerca de 80% dos brasileiros votaram pelo restabelecimento dos poderes constitucionais ao Presidente (ouça aqui a campanha popular contra a camisa de força parlamentarista feita por artistas do radio https://www.youtube.com/watch?v=MSD-RW2Kxak).
Um ano e três meses depois viria o golpe.
Possivelmente contra um terceiro revés contratado no calendário eleitoral, se a democracia perdurasse até a sucessão de Jango.
Pesquisas do maleável Ibope , mantidas em sigilo até recentemente, e levadas à rua entre 20 e 30 de março –entre o comício da Central do Brasil e o golpe de Estado-- desmentiam o consenso anti-governo alardeado por uma mídia que exortou, apoiou e justificou a derrubada violenta do Presidente da República, em 31 de março de 1964.
Ontem como hoje, a emissão conservadora foi decisiva para levar a classe média brasileira a adotar um discernimento moralista e golpista em relação aos desafios enfrentados pelo processo de desenvolvimento.
E mesmo assim, apenas uma parte dela.
Os dados colhidos cirurgicamente em meio a esse bombardeio certamente influenciaram a disposição golpista.
Pelas urnas é que não haveria de ser.
O que eles mostravam repita-se, dias antes do golpe, é que 69% dos entrevistados avaliavam o governo Jango entre ótimo, bom e regular (15%, 30% e 24%, respectivamente). Apenas 15% o consideravam ruim ou péssimo. E o mais importante: 49,8% cogitavam reeleger o Presidente, caso ele se candidatasse em 1965 e nada menos que 59% apoiavam as medidas anunciadas no comício da Central do Brasil, considerado a ‘ruptura’ legitimadora do funeral democrático.
É oportuno lembrar que antes de se valer do recurso dos decretos –assinados no palanque da Central do Brasil-- Jango propôs ao Congresso a convocação de um outro plebiscito.
Em 16 de março de 1964, a notícia era dada assim na Folha:
‘O presidente João Goulart encaminhou ontem ao Congresso, em Brasília, a mensagem de abertura dos trabalhos da nova sessão legislativa e sugeriu uma reforma constitucional ampla que vise a democratização da sociedade. O presidente Jango também sugeriu a concessão do direito de voto aos analfabetos e praças e a elegibilidade dos sargentos, além de querer incorporar ao processo democrático todas as correntes do pensamento político. Outra sugestão do presidente é uma consulta popular (plebiscito) para a apuração da vontade nacional sobre as reformas de base’
O Congresso rejeitou a proposta de consultar a sociedade sobre a ampliação da democracia e da ação pública nos gargalos do desenvolvimento.
Se havia extremismo em bolsões à esquerda, como se alegava , o fato é que a radicalização golpista fechava todas as portas às tentativas de formação democrática das grandes maiorias indispensáveis a um ciclo sustentável de desenvolvimento.
A corneta da crispação midiática entoava justamente o funeral dessa possibilidade.
A rejeição doentia ao governo, às suas propostas e aos seu métodos, distorcia, boicotava e interditava o debate para desmoralizar e criminalizar as bandeiras progressistas.
Décadas de censura e monopólio das comunicações fariam o resto depois, a estender a qualquer agenda de mudança do país a mesma demonização dispensada às reformas de base em 64.
Ou não terá sido essa a reação quando, no calor dos protestos de junho de 2013, a Presidenta Dilma propôs uma consulta popular para destravar a reforma do sistema político brasileiro -- raiz da hegemonia do dinheiro grosso na democracia?
Um pedaço do que se abortou e se reprimiu em 1964 seria restituído vinte e quatro anos depois pela Constituição de 1988.
Bancadas conservadoras, todavia, impuseram importantes revezes ao resgate do tempo perdido.
A anistia recíproca, seria a mais ostensiva delas; mas também o interdito, na prática, à reforma agrária massiva, ademais da adoção de um labiríntico sistema político que condicionaria o trânsito da redemocratização.
As dores do parto persistem, 16 anos depois.
Um Presidente consagrado nas urnas pela sociedade nem por isso escapa do balcão de negócios parlamentar –e através dele, do dinheiro grosso, para obter a maioria no Congresso.
Ainda assim, a Constituinte legislou avanços indiscutíveis.
O voto ao analfabeto; a aposentadoria rural; o salário mínimo único, bem com o sistema único de saúde são alguns exemplos.
O conjunto fixou parâmetros de um Estado social que ainda hoje os interesses plutocráticos tentam reverter ou não permitem regulamentar .
Mas o que é sobretudo importante na compreensão dos conflitos que interligam o presente ao passado é que o calendário da ditadura e da redemocratização inscreveram o desenvolvimento brasileiro em um paradoxo histórico.
A contrapelo da supremacia neoliberal que florescia em praticamente todo o mundo capitalista nos anos 80, navegava-se aqui nas águas de uma democracia social infante.
Não mais decretada no palanque da Central do Brasil, mas consagrada nas páginas de uma Constituição que prometia mais do que o mercado global estava disposto a ceder então.
O ciclo tucano no poder (95/2002) foi uma tentativa de sincronizar a história do país pulando as folhas do calendário reservadas ao acerto de contas com a ditadura para engatar o mercado brasileiro às reformas neoliberais, sopradas com força cada vez maior no mundo.
Não é preciso reiterar estatísticas. O impacto qualitativo dessa elipse fala por si.
A supremacia mercadista instituída nos oito anos de poder do PSDB influenciaria de forma marcante toda a estrutura do desenvolvimento do país.
As privatizações são o exemplo matricial.
Ademais do seu recorte expropriador, elas subtraíram o poder de planejar a economia através da ação indutora dos grandes orçamentos centralizados.
Por pouco não se perdeu também o BNDES. Ou o Banco do Brasil. E a Petrobrás, que os coveiros de ontem defendem agora com brios patrióticos.
A construção interrompida de um Brasil sucessivamente barrado em 1964 e pelas reformas liberalizantes promovidas entre 1989 e 2002 encontrou uma segunda chance na eleição de Lula, em 2002.
Os resultados não tardaram a aparecer.
Bastou uma fresta de avanços nas políticas sociais, no emprego, no crédito e , sobretudo, na recomposição de poder aquisitivo do salário mínimo e o mercado interno emergiu como um leão faminto.
Em menos de uma década consolidou-se uma faixa de consumo de massa que já reúne 53% da população e 46% da renda nacional.
A crise mundial de 2008 eclodiu no meio desse percurso.
Quando a blindagem financeira e ideológica do sistema fraquejou, porém, revelou-se com maior nitidez ainda um país que já não cabia em estruturas desenhadas para 1/3 de sua população.
As desproporções inscritas nesse conflito ocupam o centro do debate político e macroeconômico atual, em que duelam dois diagnósticos.
Um quer submeter a sociedade a um freio de arrumação classista.
‘Os aeroportos estão insuportáveis’ .
O bordão síntese do arrocho ceva a ignorância da classe média em relação aos desafios do desenvolvimento (leia o artigo de Antonio Lassance.
Não se nega a existência de gargalos seculares fartamente diagnosticados e assumidos como prioridade dos PACs: transportes, energia, portos, habitação etc.
O que se argui é o xamanismo segundo o qual, a restituição de plenos poderes aos deuses dos mercados é a única penitência capaz de dar a esses vazios o lastro de recursos que pode preenche-los com obras e prazos compatíveis com as urgências da economia e da sociedade.
O conflito entre o reformismo reprimido nos anos 60 e seu resgate social na Carta de 1988, e os interesses assim contrariados, explica um bom pedaço da hiperinflação vivida nos anos 80.
O Plano Real domou-a.
Em troca de conceder ao dinheiro graúdo outra salvaguarda, que não apenas a remarcação desenfreada dos preços: juros siderais passaram a defender a liquidez da dissonância histórica que caracteriza o capitalismo brasileiro hoje.
A saber: uma tentativa tardia de construção de um Estado de Bem Estar Social, em um mundo de supremacia das finanças desreguladas, de fronteiras liquefeitas e de direitos sociais dissolventes.
A cada passo do pé esquerdo social do Brasil, o direito rentista tenta passar-lhe a rasteira para obriga-lo a recuar.
A chantagem é amplamente veiculada pelo jornalismo obsequioso como virtuosa.
Para crescer o país precisa baixar os juros e alongar o financiamento requisitado ao investimento de longo prazo.
Mas nada disso ocorrerá sem escalpelar o ‘custo Brasil’.
Ou seja, renunciar a uma das mais vantajosas singularidades do sistema econômico brasileiro: políticas sociais e salariais que ativam o seu gigantesco mercado de massa.
Nada feito, replicam os mercados.
Na prática esse repto impõe ao Brasil o terceiro juro real mais alto do mundo na categoria das economias emergentes.
A informação é do ranking do banco Morgan, citado pelo Wall Street Journal (27/03).
A Selic, taxa básica brasileira, está em 10,75% ao ano.
Compare-se: a mexicana é de 3,5% e a nigeriana , de 12%.
Objetivamente falando, o que o Brasil tem para estar mais perto da frágil Nigéria do que do convulsivo México?
O Brasil tem a anacrônica teimosia de pretender que o desenvolvimento sirva para construir um Estado do Bem Estar social em pleno século XXI.
É isso que explica a ‘precificação financeira’ do país, uma espécie de ditadura monetária às reformas de base do nosso tempo -- incompreensível até para banqueiros mais sensatos, mas justificada vivamente pela mídia isenta.
Da excrescência cultivada como virtude derivam outras: o câmbio afogado em dólares especulativos, por exemplo, que valoriza o Real incentivando a importação de manufaturas e a necrose da planta industrial brasileira, por exemplo.
A dimensão política do desenvolvimento é tão explícita que só uma escandalosa ocultação de suas premissas permite reduzir os impasses atuais a um problema de gestão da Dilma –ou de corrupção do ‘lulopetismo’, a exemplo da caricatura do Presidente bonachão dos anos 60.
A maior lição desses 50 anos de derrotas e resistências, porém, é que não basta recusar a interpretação do adversário.
É preciso acreditar na própria. E dar a essa convicção uma consequência organizativa.
A pergunta inicial insiste no pano de fundo: ‘Como uma correlação de forças favorável se transforma em uma derrota política de consequências históricas demolidoras?’
A exumação dos 50 anos sugere que a resposta estaria relacionada mais à ausência de liderança disposta a organizar o protagonismo do interesse coletivo, do que à aquiescência ou a prostração da sociedade diante da ação conservadora.
Nesse malfadado ponto de encontro reside talvez o mais perigoso e atual alerta de 1964 a 2014.
(Carta Maior)

A imprensa e o golpe de 64

Lambe botas de generais
Folha, Globo e outros jornais estão fazendo especiais sobre os 50 anos do Golpe.
É uma tragédia e ao mesmo tempo uma comédia.
Qualquer esforço sério para falar do Golpe tem que tratar do papel crucial da mídia.
O que jornais como o Globo, a Folha, o Estadão e tantos outros fizeram, portanto.
Alguma linha sobre o assunto?
Pausa para rir, ou para chorar. Você escolhe.
1964 não teria existido sem a imprensa, este é um fato doído para nós, jornalistas.
Os jornais construíram um Brasil fantasioso – de mentira, sejamos diretos – que chancelaria a ação dos militares
Como mostrou o jornalista Mário Magalhães em seu blog nestes dias, o presidente João Goulart tinha altapopularidade em março de 1964.
Numa pesquisa do Ibope, não divulgada à época e nem por muitos anos, ele aparecia bem à frente na lista de intenções de voto para as eleições presidenciais de 1965.
Como não seria popular um presidente que tinha uma agenda pró-povo como Jango? Entre outras coisas, em seu governo foi criado o 13.o salário, que o Globo – numa hoje amplamente exposta e debochada primeira página – tratou como calamidade.
Mas o noticiário criava a sensação de que os brasileiros em massa eram contra Jango. O Globo conseguiu dizer que a democracia fora “restaurada” com o golpe que mataria tantas pessoas e faria de seu dono o homem mais rico do país.
Mesmo o grande jornal que mais tarde foi uma trincheira na oposição aos militares – o extinto Correio da Manhã – produziu duas manchetes que entrariam tristemente na história.
Uma delas dizia “Basta!” e a outra “Fora!” Como maus exemplos prosperam, a Veja copiaria o Correio da Manhã na capa em que, décadas depois, anunciou a saída de Collor. (E sonharia por oito anos repetir a cópia na gestão de Lula.)
O apoio da mídia à ditadura se manteria enquanto os militares foram fortes para beneficiar seus donos. (É extraordinário o trabalho do professor Fabio Venturini em mostrar como os generais,com dinheiro público, enriqueceram os donos das empresas jornalísticas. Venturini foi ouvido pelo site Viomundo.)
A campanha da Folha pelas eleições diretas só veio quando a ditadura cambaleava: politicamente, a insatisfação galopava, e a economia era um caos insustentável.
Antes, Octavio Frias se comportara de maneira bem diferente. Cedera carros da Folha para a caça a opositores da ditadura, o que o levou a temer ser justiçado como outro empresário que fez o mesmo, Henning Albert Boilesen, da Ultragás.
Frias mostrou também sua combatividade seletiva quando, depois de uma crônica de Lourenço Diaféria que dizia que o povo mijava na estátua do Duque de Caxias, patrono do Exército, recebeu uma ordem de um general para afastar o diretor de redação Claudio Abramo.
Afastou – não um mês, uma semana, um dia depois. Afastou na hora. Covardemente, ainda mandou retirar seu próprio nome – dele, Frias — da primeira página do jornal como “diretor responsável”.
Pôs o de Boris Casoy, escolhido para substituir Claudio por causa de seus notórios vínculos com a ditadura. Boris foi integrante do Comando de Caça aos Comunistas, o CCC. Não sabia escrever, mas isso era um detalhe.
Depois, quando a ditadura desabava, Frias autorizou valentemente a campanha das Diretas Já, tão enaltecida como nascida da grandeza de Frias ainda hoje por jornalistas de renome como Clóvis Rossi.
Quando penso no papel desempenhado pela imprensa no golpe, tenho vergonha de ser jornalista. Mas aí me lembro de como o DCM é diferente de tudo aquilo e sigo adiante, para combater o bom combate por um país libertário, ensolarado para todos, meritocrático de verdade, socialmente justo — um ‘Brasil Escandinavo’, em suma.
(Diário do Centro do Mundo)

domingo, 30 de março de 2014

Triunfo Machista. Em 47% das empresas brasileiras não há mulheres em cargos de liderança

Em 2013 eram 33% e em 2012, 26%, segundo a pesquisa International Business Report 2014, que há 19 anos analisa 12,5 mil empresas em 45 países

Quase metade das empresas brasileiras (47%) não possui mulheres em cargos de diretoras ou presidentas, índice abaixo da média global, que é de 33%. O cenário revela um retrocesso em relação aos anos anteriores: em 2013, 33% das empresas do país não tinham mulheres em cargos de liderança e, em 2012, 26%, segundo a pesquisa International Business Report 2014, que há 19 anos analisa 12,5 mil empresas em 45 países, sendo 300 brasileiras, em geral de médio porte.

Apenas 7% das empresas nacionais têm planos para contratar ou promover mulheres nos próximos 12 meses, segundo o levantamento. No Brasil, os conselhos de administração dessas companhias têm em média cinco integrantes, sendo apenas uma vaga ocupada por mulheres. Ainda assim, 65% das empresas responderam que apoiariam cotas para aumentar esta proporção nas diretorias e presidências.

“As mulheres estão fazendo tudo certo: estudando muito, se capacitando, se titulando e trabalhando de forma muito eficiente. O problema está na estrutura das corporações, que não dá a elas ferramentas para que elas evoluam”, avalia Madeleine Blankenstein, sócia da empresa responsável pela pesquisa, chamada Grant Thornton Brasil. “A maioria das empresas não oferece creches nem horário flexível. Na Holanda, por exemplo, as mães têm o direito de trabalhar um dia a menos.”

O levantamento mapeou o suporte que as empresas oferecem para que as mulheres progridam nas carreiras: apenas 19% garantem acesso aos programas de educação continuada e desenvolvimento profissional, contra uma média mundial de 37%. Durante a licença-maternidade somente 9% das empresas brasileiras pagam salários por um período maior do que o recomendado pela lei – a média dos outros países é 29%.

“As empresas precisam analisar o currículo sem levar em conta se o candidato é homem ou mulher. Elas devem se focar na qualificação, na capacidade de liderança e em competências como criatividade e flexibilidade”, acredita Madeleine. “No restante do mundo o que vemos é que há uma estagnação do percentual de mulheres em cargos de liderança.”

Nas economias analisadas, os setores de educação e serviços sociais têm mais mulheres em posição de liderança (51%), seguidos por hospitalidade (37%). Os segmentos com menos mulheres em cargos de chefia são mineração (12%), agricultura e eletricidade (ambos 16%).

A pesquisa avaliou empresas de países do G7 (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos), dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China), da União Europeia (como Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França e Alemanha) e do Sudeste Asiático (Malasia, Filipinas, Singapura, Tailândia, Vietnã), entre outros.

(Rede Brasil Atual)

Folha descobre que Pasadena dá lucro



Enfim um grande jornal brasileiro enviou um repórter à Pasadena! A jornalista Isabel Fleck viajou para lá e publicou hoje sua primeira matéria sobre o tema. E o que ela descobriu? Que nos últimos dois anos, a refinaria teve seu melhor desempenho desde 2005, “operando com uma boa margem”. E com “média de 95% de aproveitamento”!

Ou seja, Pasadena dá lucro!

Trecho da matéria:




Entretanto, como não podia deixar de ser, o título e o viés da matéria tentam esconder essa informação de todo modo:




Ora, o mercado de petróleo se caracteriza justamente por esses altos e baixos. A informação mais importante aqui é que a refinaria dá lucro!

O final da matéria chega a ser engraçado e merece um comentário.



Reparem bem. O email do CEO da Astra, cujo teor tenho certeza que está sendo manipulado, é de 2007. A refinaria foi comprada em 2005. Portanto, ele se referia apenas aos anos de 2005, 2006 e 2007, certo? Não me parece uma base suficiente para análise, ainda mais porque, no primeiro ano da aquisição a Astra teve que investir na modernização do maquinário. E houve diversas paralisações da fábrica por causa de furacões na região, que causaram dano à refinaria, como o furacão Rita, que assolou o golfo do México e o Texas em setembro de 2005.

Mas pedir para a Folha contextualizar as informações seria demais, não é?

(Miguel do Rosário/Tijolaço)

Para Gabrielli, acusações do Caso Pasadena são eleitoreiras

O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli afirmou neste sábado (29), na Bahia, que há um exagero nas informações sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), motivado por questões eleitorais.

"Não há dúvida de que essa exacerbação das informações é campanha eleitoral. É claramente uma ação da oposição contra a presidente Dilma [Rousseff]. Não tenho dúvida de que é uma questão política", disse Gabrielli a jornalistas ao chegar à reunião anual do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), em Costa do Sauípe (85 km de Salvador).

A compra da refinaria de Pasadena é alvo de investigações do Tribunal de Contas da União (TCU), da Polícia Federal e do Ministério Público Federal por suspeita de superfaturamento.

Gabrielli presidiu a Petrobras de 2005 a 2012, quando assumiu a Secretaria de Planejamento da Bahia. Neste sábado, ele defendeu a compra da refinaria norte-americana como um bom negócio no contexto da época da aquisição, em setembro de 2006.

O ex-presidente afirmou que atualmente a refinaria tem produção de 100 mil barris por dia, gerando um faturamento de R$ 3,6 bilhões para a petroleira brasileira. "A refinaria dá lucro para a Petrobras", afirmou.

Ele ainda classificou como falsa a informação de que a refinaria norte-americana teria custado R$ 1,1 bilhão à Petrobras.

"A refinaria saiu, em termos de ativo da refinaria, por US$ 486 milhões, que correspondem a US$ 4.860 por barril. Eu desafio qualquer analista a dizer que este preço está acima do mercado", afirmou.

Gabrielli lamentou o pedido de criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar suspeitas de irregularidades envolvendo a compra da refinaria, mas disse que, se convidado, vai prestar esclarecimentos por "não ter nada a esconder".

"Nós já tivemos uma CPI [instalada em 2009 para investigar a Petrobras]. Acho que sou um dos poucos brasileiros vivos com a experiência de ter duas CPIs na vida", disse.

(GGN)

O Ibovespa e a volta à normalidade do STF

Ao remeter o mensalão tucano à instância apropriada de julgamento, o STF, em autocrítica, definiu a etiqueta da AP 470: foi mesmo um julgamento de exceção.

Segundo a versão da imprensa, o Ibovespa teria subido esta semana devido ao rebaixamento de grau do País patrocinado pela Standard&Poor’s e pelo o IBOPE aquecendo as oposições com a pesquisa sobre avaliação do governo. Finalmente, colhidas as necessárias assinaturas, o Senado pode instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre os negócios entre a Petrobras e a Astra a propósito da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, também promovendo a alegria antecipada dos pré-candidatos oposicionistas, prevendo uma devastação do governo. Leitores amadurecidos devem estar tão entediados com a versão da imprensa quanto com o estilo modorrento deste parágrafo. Vamos a outra.

O Ibovespa, altar de todos os rentistas, bem que podia revelar-se satisfeito por motivos distintos. Aprovou-se, na semana, o marco civil da internet e o início da legislação definitiva sobre o regime diferenciado de contratações públicas (RDC), ato capaz de revolucionar a administração dos órgãos de Estado se monitorado com rigor. A obrigação de licitar toda compra governamental (grampos e escutas inclusive) representa uma ferramenta burocrática adequada à sabotagem de qualquer plano de governo. Faz parte das razões que explicam os atrasos nas grandes obras públicas (em associação com os poderes paralisantes do Tribunal de Contas da União), cobrado como fracasso pelas versões midiáticas.

Quebrar as algemas da legislação atual, vigilante de um Estado inerme, e alterar os dispositivos que permitem ao TCU interromper obras vultosas por meras suspeitas, é indispensável à redução dos custos de operação de um Estado de Bem Estar. A diferença entre o orçamento inicial de uma obra de infra-estrutura e seu custo final decorre em larga medida das interrupções infundadas sob mandados do TCU e de instituições policialescas como o IBAMA. Quanto a este, com a obtenção de um empréstimo no valor de trezentos milhões de dólares para financiamento de empresas pouco predatórias, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico faz mais do que a fiscalização preventiva e preconceituosa do IBAMA, e isso sem contabilizar os custos operacionais da burocracia ibamesca.

Ao contrário das agências de avaliação, a opinião praticamente unânime dos economistas de prestígio internacional consagra o Brasil como um dos menos afetados em todo mundo pelo desabamento da economia internacional em mais uma das quedas anunciadas pela teoria dos ciclos capitalistas. Se o País está arranhado convém olhar para os hematomas dos que se submeteram ao tipo de ortodoxia adotado pelos assessores dos candidatos à Presidência, cujo programa é fazer do Brasil uma gigantesca Espanha. Os investidores da Ibovespa podem se animar com competentes juízos internacionais antes que com o inoportuno velório dos farejadores de carniça. Para estes, a fusão de duas das maiores firmas no comércio do açúcar criando, nesta semana, a maior trading do mundo (metade nacional, metade americana), a ser responsável por 25% das exportações globais de consumo, deve representar formidável carniça futura. E passam a torcer pela versão que eles próprios inventam.



Ao remeter o mensalão tucano à instância apropriada de julgamento, o Supremo Tribunal Federal, em autocrítica, definiu a etiqueta da AP470: um ponto fora da curva, isto é, um julgamento de exceção. O STF voltou à normalidade. Este evento, retorno à previsibilidade jurídica, animou o Ibovespa, com certeza. Ao mesmo tempo, a direita e a esquerda se agitam a propósito de certo cinqüentenário: a primeira, nostálgica, a segunda, reivindicativa. Os ânimos permanecerão assim até que o acontecimento originário se transforme em cisco histórico como o golpe de 37, por exemplo, ou como os 18 do Forte de Copacabana, diante do já então enorme percurso coberto pela democracia.





Os períodos ou tentativa de ditaduras estão destinados a não representar senão zero vírgula e cada vez mais zeros antes do mortiço 1 da história republicana. Não terão capacidade de gerar filhotes, mas a de servir de alimento aos historiadores. Adepto do esclarecimento dos fatos, sou, não obstante, avesso a compassos de espera. A democracia e o progresso do país estão sob artilharia, tendente à piora.

Com sintomas da síndrome de Estocolmo, a opinião pública parece tomar o progresso antecedente como natureza, desconsiderando o mérito da política que a tornou possível. Pois se a democracia e o progresso se transformaram em natureza cumpre aos democratas zelar por sua preservação. A bandeira anti conservadora vem a ser a sustentabilidade da democracia e do bem estar social, condição necessária à garantia dos ganhos efetuados. Alerta contra a mudança em direção ao passado.

(Wanderley Guilherme dos Santos)

Que fazer?

Por mais que pareça estranho a todos que estão indignados com o resultado do encontro petista de ontem, quando o partido decidiu não lançar candidatura própria e apoiar, já em primeiro turno, o pemedebista Helder Barbalho contra o tucano Simão Jatene, penso que é hora de baixarmos as armas internamente na medida em que a continuação do tiroteio em público, que ora ainda se trava, em nada contribui para o nosso engrandecimento.
Há, nos grupos que detém a hegemonia do partido em âmbito regional, uma crença meio panglossiana que podemos cometer a maior tolice política que isso não terá consequências danosas ao nosso futuro. Foi assim nas duas últimas eleições pra prefeitura da capital e do segundo maior colégio eleitoral do estado, quando o PT encenou uma figuração anêmica que nos transformou paulatinamente em partido nanico em um universo de mais de dois milhões de eleitores. Curioso é que essa tática suicida não propiciou ao beneficiário-PMDB- qualquer crescimento significativo que o fizesse um aliado forte, confiável e decisivo na Região Norte ao nosso projeto nacional.
Ao contrário, cada vez que nos movemos em nome dos mais altos interesses nacionais, quem tira vantagem disso são os tucanos, que até conseguiram eleger o prefeito da capital, algo impensável há uns três, quatro anos até pelo emplumado mais otimista. Muito, diga-se a bem da verdade, em razão da ambiguidade pemedebista, cuja dinâmica pendular permite que sempre tire proveito de qualquer conjuntura política que se nos apresente. A título de ilustração, enquanto a disputa se anuncia bruta enre Helder e Jatene a bancada pemedebista na Câmara Municipal de Belém é a mais numerosa entre todas as que formam abase de sustentação do alcaide tucano Zenaldo JR.
Penso ser esse pragmatismo o veneno que nos mata lentamente. Quanto mais nos afastamos de nossas raízes, mais perdemos a credibilidade junto aos militantes e junto ao conjunto da população. Consequentemente, nossa desimportância política se acentua a cada movimento suicida dessa natureza. Por sinal, na semana passada a presidenta Dilma esteve no Pará lançando ações governamentais fundamentais pra nossa economia, e não vimos qualquer movimentação política do PT no sentido de colocar contra a parede os segmentos que sempre operaram no sentido de tirar proveito do nosso atraso sob o álibi velhaco da discriminação. Enquanto Barbalhão, Barbalhinho, Simão, Zenaldo, entre outros, colocaram suas mídias a serviço da prancha em que esses políticos surfaram, não se viu um petista vir a público e denunciar que os demais deviam ao menos fazer mea culpa pelo tempo que exerceram o poder e nada fizeram pra resolver os gargalos em nossa infraestrutura que ora o PT está resolvendo, e ainda tem o desplante de cobrar celeridade.
Enfim, é hora de baixar armas. Porém, jamais lavar as mãos e omitir-se sob a esfarrapada desculpa de que a é responsabilidade dos pemedebistas a condução da campanha. Caso adote essa postura, estaremos cavando mais um palmo de nossa cova política. Não podemos esquecer que o PMDB é aliado do que há de mais medieval na conflagrada zona rural paraense e que Helder exerceu um papel vil e politiqueiro na Assembléia Legislativa a quando da votação da Mensagem 366, cerrando fileiras entre aqueles que tencionavam transformar recursos oriundos do BNDES, em forma de compensação ao estado pela perda de receita do FPE, em butim rateado entre asseclas.
Se vamos adotar postura resignada e acrítica em relação a essas mazelas, devemos ter a coragem de dizer à militância que isso em nada contribui para fortalecer nosso projeto nacional. Antes, ao contrário, nossa contribuição desgraçadamente é no sentido de nos transformar o mais semelhante possível ao que sempre combatemos e que foi a razão de nossa existência.

sábado, 29 de março de 2014

Simão, Maduro e Ianukovich

No período mais conturbado dos últimos tumultos provocados pela embaixada dos EUA na Venezuela, morreram cerca de 35 pessoas; e na conflagrada Ucrânia, onde um golpe de estado, pra variar financiado pelo governo estadunidense, morreram pouco mais de sessenta pessoas. Em ambos os casos, houve sincera e encenada comoção, todavia, em ambos os casos, as perdas dessas preciosas vidas humanas foram largamente pranteadas.
Já, em relação ao Pará, a indiferença com a morte de 256 pessoas em 28 dias parece não provocar sentimento algum de comoção, muito menos de indignação, prevalecendo o ar de cínica indiferença com que o governador do estado encara, ou melhor, ignora esse quadro de guerra. Com efeito, fora o pânico disseminado entre a população, amedrontada coletivamente com a possibilidade de ser a próxima vítima dessa guerra, contam mais a imagem governamental e os cuidados de uma mídia mercenária no trabalho de espetacularização dessa tragédia.
Amanhã provavelmente um desses escrevinhadores de aluguel publicará números fabricados na usina de ilusões do secretário de segurança, demonstrando que nunca houve um governo que zelasse tanto pela segurança pública como esse. Quem os lerá? Quem se importa com eles? Provavelmente ninguém, afinal, a população tem a percepção que o estado está à deriva e que o atual titular do Poder Executivo jogou a toalha. Nem que seja informalmente na medida em que aqueles que financiaram essa malfadada aventura não deixam essa retirada consumar-se. Não enquanto não devolver, com juros e correção, tudo aquilo que investiram nele para que lhes permitisse o controle total das finanças do estado. Triste!

Piguentos e privatas, tremei: super porto do Açu, em fim de obra, investe R$ 3,3 bi para atender o pré-sal

Com a quebra de Eike Batista, muito urubu vibrou achando que o super porto do Açu, em São João da Barra (RJ), iria virar uma obra parada. Teve gente que falou até que o porto estava afundando.

Pois o controle acionário mudou de mãos para a EIG Global Energy Partners, e a antiga LLX virou Prumo logística. Foram investidos R$ 1,4 bilhão no ano passado e mais R$ 1,9 bilhão está sendo investido neste ano. Com obras aceleradas, as operações estão previstas para começar em junho.

Junto com os terminais portuários há um complexo industrial com foco na indústria do petróleo. Já se instalam no Complexo as empresas Technip, NOV, OSX e Anglo American. Outras empresas que já assinaram contrato e que deverão começar em breve as obras estão V & M, Intermoor, GE, MPX, Asco, MFX, Wärtsilä e Ternium. A Prumo quer atrair movimento de carga da própria Petrobras.

Não fosse por Lula/Dilma, o real seria um pesadelo

"A Cemig, estatal mineira da área de energia, foi parcialmente privatizada, com a venda de um terço de seu capital a um grupo norte americano. Ela teve um lucro de R$390 milhões no ano passado. Vai aplicar esse dinheiro em projetos de expansão? Não. vai entregar nada mais nada menos de 97,5% daquele valor aos seus acionistas sob a forma de dividendos. Uma decisão do grupo norte americano que, apesar de possuir apenas um terço das ações da empresa, passou a tomar todas as deliberações, graças a um acordo de acionistas adotado pelo governo FHC na privatização de várias estatais. Obviamente, o grupo norte americano remeterá sua parte para a matriz.
A indústria Dako produzia há décadas fogões populares, de baixo preço, dominando esse mercado com centenas de milhares de unidades vendidas a cada ano. Foi comprada por um grande grupo multinacional, e os fogões, embora simplérrimos, sem nenhuma "sofisticação tecnológica"(sempre usada como pretexto para justificar a chegada de multis e suas importações) passou a utilizar 100% de peças importadas. As exportações das multinacionais da área automobilística caíram 50% a 60% neste ano, enquanto as exportações do setor, no México, cresceram 20%-e, atenção, as exportações das empresas automobilísticas coreanas para os EUA avançaram de 30% a 40%.
Os casos da Cemig, Dako, indústria automobilística, meros exemplos do que acontece em todas as áreas da economia, mostram uma brutal realidade para a qual a sociedade brasileira ainda não acordou: o Brasil já se tornou um país inviável. Voltou a ser o mesmo país da década de 50, preso na armadilha do chamado estrangulamento cambial, isto é, incapaz de produzir os dólares de que precisa para pagar suas importações e demais compromissos com o exterior. Qualquer outra avaliação do Plano Real, a esta altura, é absolutamente ociosa: o Brasil já está com o futuro comprometido. Já foi colocado em um "beco sem saída" pela política de terra arrasada a que se deu o nome de Plano Real".
Basta o trecho desse magistral artigo do saudoso Aloysio Biondi, intitulado "O pesadelo do Real", publicado na Folha de São Paulo em 27/06/1999 para constatar duas coisa: não passa de vigarice piguenta a lábia dos sardenbergues da vida de que foi FHC quem garantiu a estabilidade de nossa moeda e legou os fundamentos sólidos de que goza hoje nossa economia. Muito pelo contrário, se continuássemos sob o jugo privata, provavelmente hoje estaríamos fazendo companhia a Portugal, Grécia, Espanha, Irlanda e demais nações que abdicaram de suas soberanias e adotaram o receituário neoliberal como norte econômico e experimentam dias de miséria haitiana.
 Da mesma forma, o artigo de Biondi desmascara esse arroubo nacionalista ora encenado, mostrando com números e ações privatas que essa empulhação não passa de cortina de fumaça para iludir incautos e assim garantir dois malsinados objetivos: desmoralizar a Petrobrás recebendo dos 'patrões' sua gorda comis$ão para tal; e posar de probos aos holofotes das gangues midiáticas tupiniquins com evidente intenção eleitoreira. Triste!

A farsa tucana


Em 2001, o Conselho de Ética do senado Federal rejeitou parecer da senadora Heloisa Helena, que pedia a cassação do mandato do senador Luiz Otávio Campos(PSDB-PA), pego desviando R$13 milhões do Banco do Brasil(assumirá vaga na Câmara Federal, em substituição ao condenado pelo STF Asdrúbal Bentes), liberados para que a empresa de seu sogro(Rodomar) adquirisse balsas. De posse do dinheiro, os proprietários daquela empresa de navegação(inclusive Luiz Otávio) fizeram uma pintura chinfrim e embolsaram o resto do dinheiro. Processados pela direção do BB, o senador paraense teve pedida sua cassação.
No entanto, surgiu em sua defesa uma tropa de choque que mais parecia uma quadrilha de malfeitores e preservou seu mandato, mostrando que todo esse arroubo moralista dos privatas caribenhos não passa de reles encenação. O presidente da dita comissão, por exemplo, não por acaso tucano, declarou, "Já mandamos para casa quatro senadores. Vamos continuar assim? Não vai sobrar ninguém no senado". Outro colega de bancada(ou quadrilha) de Juvêncio, Geraldo Melo ponderou, "Qual o cidadão que nunca teve um cheque devolvido, um título protestado?"
Diante de tão sólidos argumentos, o mandato de Campos foi preservado e ele está de volta ao Congresso Nacional, justamente no momento em que o moralismo de fancaria tucano inicia o ensaio de mais uma farsa. Há outra forma de nominar essa pantomima?

Agora vai!

Na ausência de algo relevante, o papelucho reacionário e oficioso da privataria paraura tascou na manchete de hoje, "Decreto proíbe exportação de pescado de 1º a 18 de abril".
Próxima provável manchete do libelo emplumado, "Decreto de Jatene proíbe que as comemorações da 6ª feira santa sejam antecipadas". Credo!

Copa de todos

Operários que trabalharam na construção e reforma dos estádios nas 12 cidades-sede da ‪#‎CopaDasCopas‬ terão lugar garantido nos jogos do Mundial.

Como forma de agradecimento, a Fifa vai distribuir 50 mil ingressos aos trabalhadores que, com muito esforço e trabalho árduo, tornaram possível a construção das arenas.

Os bilhetes serão distribuídos às construtoras responsáveis pelas obras dos estádios para que sejam entregues aos trabalhadores.

Esses acessos aos trabalhadores são voltados para 47 partidas da primeira fase, com exceção do jogo de abertura da Copa do Mundo entre Brasil e Croácia, no 12 de junho, em São Paulo.

A distribuição será feita em maio.

Até o momento, já foram vendidos mais de 2,56 milhões de ingressos para a Copa do Mundo.

Saiba mais: http://bit.ly/P0PJlT